Adubo de Luiz é feito de fé e bom humor

7 julho 2017 | Gente que inspira

– Vamô chegar, gente! Tá bonito igual vocês! Moça bonita não paga, mas também não leva! Essa muda não morre, não, fia! Tá mais fácil eu morrer primeiro!

Com o bom-humor de Luiz e o cheirinho de erva fresca, a freguesia vai se aproximando.

O aroma da arruda se mistura ao da hortelã, manjericão, alecrim e a gente sente lá de longe. Aí, vem o colírio da pimenta vermelhinha e não há quem resista!

– Se levar duas tem desconto! No apartamento, na sacada, no jardim, no terraço: essa aqui você põe onde quiser que vai, porque é feita no sol!

O vendedor faz de um tudo para agradar o cliente. Parado ao lado da carriola cheia de mudas, vai chamando quem passa pelo Calçadão de Ribeirão Preto.

Só não venha pedir desconto abusivo!

– Aí você tá querendo o que, fia? A gente roça no sol!

Luiz vende mudas no Calçadão de Ribeirão Preto

Luiz Melchíades tem 59 anos. Há 37, trabalha vendendo mudas.

Antes disso, porém, já escreveu vida de muita labuta.

Conta que já fez de tudo: foi caseiro em fazenda, vendeu alho de casa em casa com o peso nas costas, cortou cana.

– Era para eu ser milionário! Mas rico eu já sou, porque tenho duas pernas para andar.

A dureza está estampada no rosto envelhecido antes da hora pelo trabalho e pela tristeza. Perdeu os quatro filhos que teve: dois ainda bebês e outros dois assassinados.

– Fazer o quê? É a vida!

Foi aprendendo a se consolar. Mas sem deixar de se inconformar.

Para quem dá um dedo de prosa, ele vai logo colocando suas opiniões políticas efervescentes.

– O governo não ajuda os pobres e não pensa no futuro. Só se pensa em plantar cana. E a comida para o povo?

Luiz vende mudas no Calçadão de Ribeirão Preto

Conta que vendendo muda já conheceu seis capitais brasileiras.

– O povo pergunta: ‘Não tem dinheiro! Como é que você viaja?’. Eu digo: quem tem boca vai a Roma!

E solta uma risada gostosa e despreocupada.

Luiz vive mais na estrada do que em casa, que fica em Sumaré.

Enche as caixas de mudas, entra no ônibus – a revés dos motoristas que, muitas vezes, querem lhe impedir de colocar as plantas no bagageiro – e sai vendendo.

Diz que só retorna quando o estoque acaba.

– Eu vou de Sumaré até a divisa do Mato Grosso! Conheço tudo quanto é cidade. Mais de 20.

Quando pode, paga pensão. Quando não pode, dá seu jeito.

– Durmo nas rodoviárias ou embaixo das árvores, igual passarinho! É uma luta do cão…

Em Ribeirão, costuma ficar uma semana, porque – diz – as vendas são boas. No final do mês, fala que consegue um “dinheirinho” e “dá para viver”.

Repete mais de uma vez que perdeu R$ 320 mil, como avalista de quem precisava.

– Era para eu ser milionário!

O que é a vida? Para Luiz é luta.

– Uma luta do cão! Os ricos engolem os pobres.

E segue lutando:

– Mas eu não perco a esperança. Porque Deus dá força e saúde para trabalhar e eu vou vencer.

Luiz, tal qual as mudas que vende, não morre fácil.  Foi feito debaixo de muito sol. Não há seca que lhe faça abater.

 

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