Ana Carolina Maciel, pesquisadora da área de História Oral na Unicamp, fala sobre o fazer da entrevista

20 fevereiro 2017 | Contar é preciso

professora Ana Carolina Maciel da Unicamp História Oral

 

“A entrevista é uma troca de olhares.”

A professora Ana Carolina de Moura Delfim Maciel cita Alessandro Portelli, um dos maiores teóricos da História Oral, e explica de maneira profunda e delicada o processo que se dá quando uma pessoa escolhe contar suas memórias para outra.

A entrevista é base do trabalho de Ana Carolina. E, também por isso, ela é a primeira a participar da sessão “Contar é Preciso!”, trazendo sua opinião sobre o processo de entrevistar.

Ana Carolina é presidente da Associação Brasileira de História Oral, professora da Unicamp, Pesquisadora do Centro de Memória da Unicamp e do departamento de História da Unicamp, pesquisadora do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense, Doutora em História.

Escolheu o caminho do audiovisual ao mergulhar na história do cinema. Na defesa do mestrado, entrevistou a atriz Vera Sampaio, que tinha atuado no cinema industrial e desaparecido de cena. A ideia era gravar em áudio a história de Vera.

“Mas quando eu me aproximei das atrizes e me dei conta do arcabouço que elas tinham guardado eu pensei que, se eu só transcrevesse, iria perder a materialidade das fontes. Eram filmes, fotos, documentos…”.

Produziu, então, seu primeiro documentário: “O amor é um lugar vazio”, e depois outros 14. Também escreveu o livro “Yes, nós temos bananas”, que conta a história da industrialização do cinema brasileiro.

Traz sua opinião, como aula de conhecimento.

“O que se instaura quando você faz uma entrevista? O que está em jogo quando você se coloca face a face com o seu depoente? Podemos pensar em uma perspectiva da memória. Não pensando que há algo a ser resgatado, mas em uma construção: a memória é uma construção do presente. Não nos cabe, enquanto entrevistadores, imaginar que ali há uma memória isenta, e nós vamos dar luz à essa memória. Nem no fazer história, nem no processo de memória existe essa isenção. Isso não quer dizer que essa fonte seja mais ou menos confiável.  Não estamos falando de credibilidade, mas de um processo. O tempo tem uma ação sobre o nosso passado. Quando tratamos de histórias de vida eu não acho que o papel do entrevistador seja questionar a veracidade daquele relato, mas aceitar aquele relato, sabendo que mesmo na história escrita estamos lidando com versões. Todas as produções humanas são carregadas de subjetividade. Tanto pela pessoa que produziu, quanto pela que consultou há uma gama muito ampla de olhares. Eu não acredito, assim, que nós tenhamos que partir de uma metodologia muito estrita na entrevista. Eu prefiro pensar na subjetividade que é esse momento. Eu não acredito que há um protocolo estrito quando você se posiciona com o ser humano. A partir do momento em que você se dispõe a entrevistar, tem que estar aberto aos momentos. Eu trabalho com um roteiro de perguntas e uma carta de intenções. Mas, conforme a pessoa vai falando, isso tem que ser uma inspiração e você tem que mudar seu percurso inicial, absorver coisas que não havia pensado. Tem um processo de descoberta na entrevista que não funciona se você seguir um protocolo fechado. Você sempre tem uma intenção quando pensa em entrevistar alguém, mas tem que estar aberto a muda-la.”

Foto: Augusto Ferreira
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