Café, moda e jornalismo: Juliana une três paixões em um mesmo pacote

31 julho 2017 | Gente que inspira

O estúdio foi construído pelo pai e o avô, no quintal de casa.

No dia da primeira transmissão, a cidadezinha que hoje tem 7,4 mil habitantes parou para ouvir.

Juliana conta que a rua da casa recém transformada em estúdio ficou abarrotada de gente querendo conhecer a tal rádio.

Era ela, aos 18 anos, quem tomava conta sozinha da empreitada. Fundou a primeira rádio comunitária de Guatapará.

E quis mais.

Dois anos depois, criou o primeiro jornal impresso que, além de escrever todinho, entregava de porta em porta nas casas dos guataparaenses.

Juliana é do tipo que não economiza palavras e energia.

E, se faltar, repõe com litros diários de café. Para acordar, vem uma xícara de 250 ml.

E o dia está só começando.

Faz caber mil e duas atividades em 24 horas.

Trabalha como jornalista em um site próprio recém lançado, tem uma empresa de eventos de moda e ajuda o marido na administração do café que abriram há quase dois anos no Centro de Ribeirão Preto, realizando sonho antigo.

Juliana Rangel tem o coração dividido entre café, jornalismo e moda.

E, se for o caso, arruma espaço para o que mais a vida trouxer.

Lá em Guatapará, levando informação para a casa das pessoas à base de vontade, ela criou o lema que repete ainda hoje, aos 37 anos:

– Eu transporto toda a vontade de realização para os meus sonhos. E vou atrás. Nunca tive medo e nem vergonha de buscar. E ver o resultado não tem preço!

Jornalista Juliana Rangel BeSo café Ribeirão Preto

Café

O cheirinho de café passado na hora avisa que a conversa pode começar.

Com a Ju, um bom papo tem que vir acompanhado de um bom cafezinho.

O grão, afinal, também é parte da sua história.

Está em todas as fases, bem antes de virar sonho realizado.

Ela conta que na fazenda onde morava quando criança o cafezal era diversão. Corria entre os pés de café e sobre os grãos colocados para secar.

– A família toda sempre teve o costume de fazer todo o processo do café: plantar, colher, torrar, moer. Passar o café no coador de pano, com mariquinha…

No café que abriu no Centro de Ribeirão, manteve a tradição da infância.

A avó faz os coadores de pano e o avô que fez a mariquinha de madeira. Tem expresso, mas também tem cafezinho de fazenda no cardápio.

O local, aliás, é todo feito de história. Nas paredes, as fotos da Ribeirão feita de café relembram o passado.

O nome, BeSô, tem história do presente, com a soma das iniciais dos filhos de Juliana e de seu marido, que administra o negócio.

– A gente queria agregar história. A história de Ribeirão está no Centro e no café.

O sonho de abrir a própria cafeteria foi realizado quase dois anos atrás, em plena crise. Ela conta que justamente a recessão trouxe a oportunidade.

O ponto só pôde ser alugado por um preço bom porque estava há meses vazio.

O medo de investir foi grande.

– Desde o dia em que nós assinamos o contrato eu não dormi mais.

Mas estava feito. Não dava para voltar atrás.

E deu tão certo que hoje ela já fala em planos de expansão.

– As pessoas esquecem de olhar para o Centro. Nossa proposta é valorizar.

Com seu próprio café, oferece aquilo que tanta ama. Mas não deixa de provar as delícias servidas Ribeirão e mundo afora.

– Quando você sente o cheio de café, o que pensa? Para mim, é um momento especial, traz coisas boas, proporciona encontros! O dia em que eu não acordo tomando café, me dá dor de cabeça!

Toma tanto que precisou colocar limites. Até às 18h, para garantir algumas horas de sono. E torcendo para a manhã – que traz o cheirinho do grão – chegar logo.

Jornalista Juliana Rangel BeSo café Ribeirão Preto

Jornalismo e moda

O jornalismo chegou primeiro. Mas foi por ele que a moda também conquistou espaço. Ju soma as duas paixões em um só pacote.

Quando lançou a rádio em Guatapará, já sabia que queria fazer jornalismo. A faculdade, porém, parecia sonho distante. E a solução foi buscar seu próprio espaço, como já estava acostumada a fazer.

Começou a trabalhar como babá aos 13 anos, para comprar o que o dinheiro apertado da família não permitia.

Aos 14, era vendedora em uma loja de produtos importados e, não contente em vender no horário comercial, levava os produtos para a escola em uma mochila para compor a renda.

Diz que quando decidiu deixar a lojinha, aos 16 anos, para trabalhar como locutora em uma rádio, arrancou lágrimas da dona.

– Eu era a melhor vendedora. Estava sempre pensando em uma coisa nova!

Juliana ficou dois anos como locutora de rádio em Barrinha e Jaboticabal – onde a família morava na época.

Encantada com a profissão, decidiu se mudar para Guatapará – cidade onde nasceu e onde moravam os avós – e fazer a primeira rádio da cidade.

Conta que foi a Brasília brigar pela licença das rádios comunitárias.

Quando a rádio deu certo, decidiu expandir para jornal. Entrevistava, escrevia, imprimia e entregava os jornais quinzenais na porta de cada casa da cidade.

– Eu levava de quatro a cinco horas andando a cidade toda. Mas a minha satisfação era entregar o jornal. Aquilo era o meu trabalho!

A rádio durou de 98 a 2000 e o jornal de 2000 a 2006. Juliana diz que, desde então, Guatapará nunca mais teve qualquer veículo de imprensa.

Vez em quando pensa em reabrir, mas o caminho já deu muitas voltas depois dessa primeira.

Em Ribeirão, ela fez cursos na área de jornalismo até que pudesse financiar a faculdade.

– Eu me formei com 26 anos e passei muito tempo pagando a faculdade. Muita gente olhava para mim e dizia: ‘Ih, essa daí? Veio de cidade pequena e não vai chegar a lugar algum!’. Quem é você para julgar alguém? Tudo que eu conquistei foi com muita batalha!

Trabalhou na Revista Expressão, no Jornal A Tribuna e, por sete anos, no Jornal A Cidade.

Por lá, passou a fazer coluna social e se encantou pela moda.

Há um ano, quase ao mesmo tempo de realizar o sonho do café, abriu uma empresa  que organiza eventos do segmento da moda.

Há duas semanas, pediu demissão do Jornal A Cidade para tocar seus negócios, empreender, andar por novos caminhos.

– Hoje eu consegui realizar o sonho de atuar com as minhas três paixões.

Jornalista Juliana Rangel BeSo café Ribeirão Preto

Amanhã

– Realizada? Eu consegui conquistar o que sempre sonhei, mas sempre acho que tenho algo a mais para fazer.

Quem conhece a Ju, bem sabe: mesmo um cafezinho com ela é cheio de movimento.

Inquieta, não economiza energia, palavras e sonhos.

– Eu vim de uma cidade com sete mil habitantes, não tinha dinheiro para estudar e hoje consegui alcançar tudo o que eu sempre quis.

Conta que na família era vista por olhares tortos, incomodados com seu jeito de querer tudo ao mesmo tempo. Hoje, dá conselhos para a prima que, como ela, quer ser jornalista.

– Se tem amor, se tem vontade, dá certo. Se não der, eu tentei!

Os planos para o futuro são muitos. Ela diz que, quase todo dia, acorda com uma ideia nova, um novo projeto, uma pimenta no café.

E pretende seguir assim.

Esse cafezinho terminou. Mas ainda tem muito pó para passar – em coador de pano ou na máquina do expresso.

 

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4 Comentários

  1. Ariane Ribeiro

    Amei, texto lindo!

  2. Lilian

    Há eu pude presenciar tudo isso! Que orgulho tenho de você minha amiga! Você inspira muitas pessoas! Já te falei inúmeras vezes e vou repetir, te admiro como profissional, como pessoa, como esposa, como mãe e como amiga! Aquela que a tem como amiga com certeza nunca pode perder! Como se diz o velho ditado essa juliana é pau pra toda obra! Parabéns ju!!!!! Que você cresça e realizes seus sonhos cada dia mais!

  3. Eliane Regina

    História linda! Admiro ainda mais a Juliana depois de ler esse texto! Parabéns pela determinação Juliana!
    Daniela parabéns pela leveza do texto, adorei!

  4. glaucia

    Linda história. A Juliana merece, muito simpática e esforçada!!! Ela e toda família estão de parabéns. Parabéns também para Daniela pelo texto tão interessante!!

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