Com arte, Leonardo une crenças e religiões

26 outubro 2018 | Gente que inspira

Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 2 de junho de 2017! 

 

Um homem entra pela porta e pergunta se tem imagem de Nossa Senhora.

Agora, entra uma mulher. Quer uma imagem de Iemanjá e achou bonita a da vitrine.

O casal vem preocupado. Procuram um gnomo da sorte para presente de aniversário. Já foram em uma porção de lojas e não conseguiram encontrar.

Mais um homem. Dessa vez, procura guia para benzer.

Catolicismo, umbanda, candomblé, budismo, xamanismo, misticismo apenas, sem religião: a arte de Leonardo Penotti, 35 anos, tem a proposta de unir.

Não na mesma crença. Cada um tem a sua: é preciso respeitar. Mas no mesmo encantamento, como sinal de que, sim, é possível conviver com o diferente.

Pela sua loja passam diferentes tipos de pessoas, com diferentes crenças, em busca da mesma coisa: arte. E isso Leonardo tem de sobra a oferecer.

– Eu dialogo com todas as religiões para chegar a um ser único: que é o amor. Eu deposito muito amor, nunca apêgo, para que aquela arte possa levar felicidade a alguém.

Leonardo - loja Arte Caboclo

Felicidade que Leonardo encontra criando. Diz que as habilidades manuais deram sinal muito cedo. De menino, fazia pipas e saia vendendo aos amigos.

Na adolescência, descobriu as artes plásticas. Começou fazendo magos com massa epóxi (que é usada para vedar aberturas), e expunha em feiras.

Os anos passaram, a produção cresceu, mas a matéria prima se manteve.

Aos 34 anos, Leonardo tomou a decisão de viver de arte.

Trabalhou no setor de vendas de empresas multinacionais até o ano passado. Nas viagens que fazia como representante, entretanto, aproveitava cada minuto para criar.

Conta que levava a massa e os instrumentos na mala e fazia sua arte nos hotéis por onde passava.

Trabalhava de segunda a sexta e aos finais de semana vendia suas peças nas feiras de artesanato de Ribeirão Preto.

Mas sentia que não era suficiente. Não estava feliz vivendo com a arte pelas beiradas.

Um amigo sugeriu de abrirem um espaço. Leonardo deixou o emprego em uma grande empresa e decidiu que era a hora de tentar.

A parceira não deu certo, mas ele seguiu em frente e, há seis meses, abriu seu espaço próprio, realizando o sonho antigo.

– Escolher viver de arte não é fácil. Mas é preciso fazer escolhas. Hoje, as coisas são todas voltadas para o bem material. E eu decidi fazer diferente.

Escolheu trabalhar com a arte religiosa pela relação que tem com a Umbanda, que é sua religião, e com a fé dos outros. Na loja, vende a arte que faz e também imagens feitas por outros artistas.

– Com a vida eu aprendi a respeitar, aceitar e entender as pessoas. Eu sou umbandista por escola espiritual. Mas sou, acima de tudo, universal.

Leonardo - loja Arte Caboclo

Leonardo mostra os instrumentos que usa para fazer sua arte – e é difícil de acreditar. Um estilete e um prego são suficientes para dar vida à mascaras, gnomos, duendes, caveiras mexicanas, santos e outras tantas peças.

A pintura é feita com penas e pingos de tinta.

Ele pode levar até 15 horas para fazer uma obra inteira. E é preciso modelar rápido. Explica que a massa epóxi endurece em 30 minutos: período que o artista tem para encontrar a melhor forma.

– Eu sinto uma presença muito forte de algo além. Tudo o que eu faço não faço sozinho. Tem uma intuição comigo.

Escolheu como nome da loja “Arte Caboclo” pelo encantamento que sempre teve com o indígena e pela ideia de unificar.

– A minha arte é uma mistura de vida.

Hoje, entende que o tempo é curto para não se fazer o que se gosta.

– A gente não pode ter medo de ser feliz. É preciso sonhar e ir planejando.

E está certo de que, por tudo isso, cada peça leva adiante algo de bom.

– A peça é tudo que você deposita nela. Se depositar coisas boas, vai dar sorte.

Leonardo quer continuar fazendo a sua arte por prazo ilimitado.

– Foi uma luta para chegar aqui!

E continuar plural nas prateleiras e no coração.

 

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