Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 17 de outubro de 2017!
A notícia do câncer perturbou, mas Beth tinha esperanças de que iria fazer a cirurgia e pronto: estava curada. Quando o médico avisou que, mesmo com retirada do tumor, seria necessária a quimioterapia, sua força desabou.
Tudo que Beth sabia sobre o câncer era tristeza. A prima que morreu depois de anos lutando, a queda certa dos cabelos que desde os cinco anos eram cumpridos, o medo.
– A imagem que eu tinha do câncer era da morte da minha prima.
O desabar durou pouco tempo, porém. Era preciso encarar. Buscou forças na fé e foi apagando as imagens de morte com ideias vivas.
Elisabeth Moretti Paiva, 52 anos, venceu o câncer de mama, em meio a um turbilhão.
Durante os quatro meses de tratamento ela perdeu a mãe – e melhor amiga – atropelada, viu o marido perder o emprego e a filha machucar o joelho com cirurgia de urgência.
Foi entendendo que o câncer seria mais uma batalha, entre as tantas que vida traz.
– Eu não morri de câncer. Minha mãe atravessou a rua e morreu. Porque você tem câncer, não significa que você vá morrer. Hoje, eu acredito na cura. Acredito, mas faço minha parte.
Beth conta que sempre fez os exames de rotina com rigor, uma vez ao ano.
A história da prima, de fato, deixara marcas. E a prevenção era levada à risca.
Tanto que, quando o exame de mama mostrou um tumor, em maio de 2015, o médico logo constatou que a doença estava em fase inicial.
Ela teve o diagnóstico no mesmo dia em que a reforma da casa onde a família vivia – sonho construído por anos – ficou pronta.
Entre as caixas, os pedreiros e os móveis, o médico avisou que a cirurgia de mama seria necessária.
– Como era o dia da mudança, eu tive que ir sozinha ao médico. Ele me perguntou: ‘Com quem você está?’. E eu respondi: ‘Com meu terço’.
Deixou a consulta e foi para o trabalho, sem contar para ninguém.
Só juntou forças para avisar o marido à noite, depois do expediente.
A cirurgia foi de emergência, dias depois do diagnóstico.
– Para mim, seria a cirurgia e pronto: acabou.
Foram necessárias ainda quatro sessões de quimioterapia e 19 de rádio.
Beth, antes mesmo da entrevista começar, pega um porta retratos da sala e me mostra: “Olha como meu cabelo era cumprido!”.
O cabelo, nesse começo, era a grande dor para a professora.
– Eu pensava: Como vou trabalhar de lenço na educação infantil?
Beth, como já era a previsão, perdeu os cabelos.
O marido tirou fotos de cada fase da batalha, sempre incentivando a ideia de mais uma sessão vencida, mais uma etapa conquistada.
Quando a mãe morreu, em julho, o cabelo se tornou detalhe. E a dor foi se tornando força.
Beth não pôde ir ao velório e ao enterro, pela baixa resistência da quimioterapia. Foi entendendo que o tempo é uma instância variável.
– O câncer é paciência. Existe um ciclo na doença. E não adianta querer correr. É preciso viver cada fase.
Próximo ao quadro onde o marido fez as fotos de cada fase do cabelo de Beth, está um altar repleto de imagens de santos.
A fé, Beth diz, sempre foi sua companheira. E, na doença, se tornou mais forte.
– Acreditar em Deus não significa que nada de ruim vai acontecer na sua vida. Todo mundo tem uma cruz para carregar. A diferença é que, com fé, a carga fica mais leve.
Em novembro de 2015, depois de seis meses de tratamento, ela teve alta da radioterapia. Estava curada.
Dias depois, voltava à sala de aula, de lencinho na cabeça.
– Todos os alunos me abraçaram. Eu percebi que o adulto coloca muitas barreiras nas coisas.
Não demorou a tirar o lenço e exibir os cabelos que surgiam à criançada.
– Quando me viu, uma criança correu e disse que eu tinha cabelo de polícia. Depois, outras duas quiseram cortar igual!
A Beth que teve alta não era mais a mesma que recebeu o diagnóstico.
– Eu aprendi a agradecer por cada momento. A gente sofre porque quer. Por coisas insignificantes. Precisamos parar de brigar por nada.
Hoje, continua a fazer seus exames de rotina, com rigor nas datas.
– Você não pode se negar o tratamento. Não pode deixar de fazer os exames por medo. Tem que se amar e se enxergar.
O marido abriu o próprio negócio, o joelho da filha ficou bom, o cabelo cresceu.
Da mãe, guarda a saudade.
– Eu agradeço por estar aqui. E sou feliz.
Tomou uma decisão, entretanto. Cabelo cumprido não quer mais. Descobriu que com os fios curtos, o calor de Ribeirão fica mais brando.
– E eu achava que o maior problema era o cabelo…
E a vida ficou mais simples.
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