Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 27 de junho de 2017.
Roupa social, violoncelo nos ombros, chega o menino.
Escolhe um lugar, se senta em um banquinho, posiciona o robusto instrumento à frente, uma caixinha de som ao lado e começa a disparar as primeiras notas.
Saem como uma pausa no tempo do movimentado calçadão de Ribeirão Preto.
Um suspiro entre a correria, o vai e vem de gente, as viaturas policiais que atendiam uma ocorrência.
A dona de uma banca de jornal jogara um balde de água gelada em um morador de rua que dormia no banco da praça. Por mais de duas horas, o local foi alvoroço entre populares que queriam linchar a mulher pela violência cometida.
A música do menino chega como acalanto entre tanta intolerância.
E vai tomando espaço.
Em poucos segundos, Gabriel Vinicius Santos está rodeado de gente.
Uma mulher se emociona. Uma criança tenta convencer a mãe a doar sua mesada inteira ao músico. O morador de rua que há pouco era alvo de água gelada e precisou passar por atendimento médico, para a ouvir e chora.
As notas clássicas vão se apossando daquele pedacinho de Calçadão.
Um menino, vestindo roupa social, tocando música clássica no violoncelo, em plena via pública: é a quebra da – louca – rotina.
“A gente se emociona, né? Olha que coisa linda! Não há quem não seja tocado”, a mulher que passava está a descrever o momento.
A mágica do menino.
Gabriel tem só 15 anos.
Descobriu o violoncelo aos 12, por um desvio de percurso.
Encantado pelo rock´n roll, quis aprender a tocar bateria. Buscou cursos gratuitos em São José do Rio Preto – cidade onde mora com a família – e encontrou o projeto Guri.
O mais próximo da bateria, porém, era o curso de percussão. Mas as vagas estavam preenchidas.
A mãe, então, matriculou o menino nas aulas de violoncelo.
– Seis meses depois abriu vaga para percussão. Mas eu não queira mais. Conheci um vídeo de um músico tocando violoncelo e decidi que minha meta de vida seria tocar aquela música.
Aprendeu não só aquela, mas outras tantas canções: toca de Raul Seixas à música clássica no robusto instrumento.
Há dois meses, decidiu que faria das ruas seu palco. E começou a se apresentar no Calçadão de Rio Preto e, depois, no de Ribeirão.
– Tem gente que chora, tem gente que diz que nunca tinha visto um violoncelo antes. Tem de tudo… As pessoas acham que música clássica é coisa de gente rica. E não é isso…
Conta que, tocando nas ruas, perdeu a timidez que o acompanhava e se encontrou ainda mais com o que quer ser.
– A música é minha vida.
Gabriel tem só 15 anos e sonha longe: quer fazer faculdade de música.
– A ideia não é só viver de música. Quero saber tocar!
Por isso, na semana passada, arrumou as malas e veio passar uns dias na casa de um amigo em Ribeirão Preto. A ideia é entrar no curso de música da USP Ribeirão daqui uns anos.
Por isso, fez do Calçadão seu palco, buscou professores, vai se movimentando.
– Tocar ativa a felicidade. Eu esqueço o horário, esqueço de tudo…
Quem escuta as notas do menino, tem a mesma sensação.
A criança nem pisca. Pede uma moeda para a mãe, se aproxima devagarinho da caixinha de contribuições e coloca lá dentro sua parte. Continua olhando – atenta – cada movimento do músico.
A senhorinha passa mais de meia hora ouvindo as canções que se soltam.
Eu mesma nem vi o tempo passar. Depois de tanto alvoroço, senti a vida em pausa, no compasso do que a música traz de melhor.
Ali, naquele pedacinho de Calçadão, não havia mais vai e vem de gente desconhecida. Por alguns segundos, havia conexão e encantamento pelo mesmo menino.
A mágica do menino. Sua música, em notas clássicas.
Assine História do Dia por R$ 13 ao mês ou faça uma doação de qualquer valor AQUI!
Nos ajude a continuar contando histórias!
Preciso do contato desse rapaz.
Vc teria?