Garapa do Abel soma quatro décadas de histórias no Calçadão de Ribeirão

19 janeiro 2021 | Gente que inspira, Parte da gente

Abel está de casa nova. Depois de 35 anos no mesmo lugar e outros quatro buscando um espaço no calçadão recém-reformado de Ribeirão Preto, ele voltou a fincar raízes. E garante:

– Daqui eu não saio mais!

Bem no meio do vai-e-vem de gente, na General com a Tibiriçá, só invertendo a ordem que durou mais de três décadas.

– Antes eu ficava na Tibiriçá com a General. Mas como a General não tem igual! Agora ficou bonito.

Abel e sua garapa – 39 anos de história – são parte do cenário central.

Não importa se a estrutura do ponto é antiga ou recém-pintada, ele atende a clientela na rua, ao lado da torneira que enche os copos da delícia de cana.

Fica quase o dia todo em pé, distribuindo “bom dia” e “boa tarde” a quem passa.

– Enquanto as pernas garantirem, nós estamos aqui, né?

Abel está de casa nova.

Não há outro nome para o lugar onde passou a maior parte da vida, criou os filhos, construiu legado e escreveu história.

– Isso aqui é tudo para mim. Sem isso, eu não sei como seria…

O fornecedor da cana é o mesmo há quase quatro décadas. O avô passou o negócio para o pai e agora quem comanda é o neto.

Abel, no entanto, continua o comprador.

– Eu nunca fiz isso de trocar. Se tá dando certo, vou trocar para quê?

Abriu a garapeira no Calçadão de Ribeirão Preto em 1976 e não quis mudar – nem de ramo, nem de fornecedor.

Abel Domingos Pereira dos Santos, 68 anos, encontrou a felicidade vendendo garapa, água de coco, churros e salgado para gerações inteiras de famílias ribeirão-pretanas.

– Minha história é isso aqui. É esse Calçadão. Isso aqui é tudo pra mim!

Antes de chegar ao Calçadão, teve carrinho de lanche e trabalhou na feira. Quando a possibilidade de abrir a garapeira surgiu, agarrou com afinco.

Criou os filhos por ali, junto aos filhos dos outros.

– Tem gente que vinha de pequeno e hoje traz os netos.

Difícil quem não o conhece pelo nome. E vai além. Vira família da meninada que passa por alí. “Tchau vô!”, diz a moça que comprou a garapa e ganhou o churros.

Abel diz que não tem ideia do quanto vende.

– Nunca marquei. Sou eu e meus filhos, não tem porquê. A gente vai moendo aí!

Bem por isso, não pensa duas vezes para presentear quem está sem dinheiro naquele dia. A bebida geladinha sempre vem com chorinho!

Garapeira do abel

Abel conta que seus meninos se formaram com o dinheiro que vem da cana: em Direito e Administração. O orgulho maior, entretanto, vem na fala que segue:

– Nenhum quis seguir a profissão. Ficam só aqui. Isso é o futuro deles.

Futuro que, ele espera, seja feito ali, no vai e vem do Calçadão, com a garapa da mesma cana, do mesmo fornecedor.

Em 39 anos, Abel só faltou do trabalho quando ficou doente, no ano passado, e precisou ser internado.

Nem mesmo quando uma árvore caiu sobre o carrinho e estragou todo o teto ele deixou de abrir. Passou ano com o carrinho amassado, esperando a hora de mudar para o novo – e definitivo – local.

Abel não gosta de mudar o que está bom.

– Tá no tamanho certo agora. Agora ficou bonito!

De casa nova, renovou as energias para mais 39 anos de garapa.

Garapeira do Abel

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3 Comentários

  1. Cris dias

    Conheço essa figura desde o início , quando estudava na Unaerp, comprava até fiado dele. Até hj passo para tomar a deliciosa garapa do Abel. Trabalhador íntegro, um dos anônimos que nos dá orgulho de ser Brasileiro

  2. Adalberto Silva

    Uma delícia de caldo de cana e um atendimento de excelência. Parabéns Abel.

  3. Ana Lúcia Paiva

    Boa tarde! Que vontade me deu de conhecer seu Abel! E claro beber essa garapa, que amo tanto.

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