Nara transforma dor pela morte de Pedrinho em solidariedade

27 julho 2017 | Gente que inspira

Combinamos, Nara e eu, que a entrevista seria para cima e o texto levaria coisas boas.

Na primeira hora de conversa estávamos, Nara e eu, engasgadas em lágrimas.

Perder quem se ama não é para cima. Perder um filho deixa marcas para a vida toda, Nara me explicou.

Logo, porém, deixou outro recado. Prosseguir é possível. Ir além, deixa o percurso mais bonito.

– Eu entendo que o Pedro foi um anjo de Deus. Ele veio para que a gente parasse de reclamar do supérfluo e valorizasse o que realmente importa. Ele veio para modificar minha vida.

Nara transformou a morte do filho em solidariedade.

Multiplicou o amor por Pedrinho em mil, levando conforto a crianças que, como seu pequeno, lutam pela vida, muitas vezes em desvantagem pela severidade de doenças que a Ciência pouco conhece.

Hoje, dois anos após a morte que comoveu não só Ribeirão Preto, mas o Brasil, a mãe perde o sono pensando nas doações que ainda não são suficientes para a festa das crianças e no melhor presente para levar.

Criou o grupo “Sangue Bom” e organiza festas para crianças internadas no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, instituição onde Pedro passou pelo tratamento.

Vem também daí a força de Nara. Vem de onde só ela sabe.

– Se hoje eu estou de pé é pela força de Deus e pelo meu filho. O meu filho era o verdadeiro guerreiro. Eu tinha que fazer jus também. Não podia fraquejar.

Essa é uma história de dor, como não poderia deixar de ser.

Mas é uma história para cima, acima. Que leva coisa boa em cada palavrinha que Nara uniu forças para falar.

Pedrinho transplante de medula Ribeirão Preto

Pedro foi um bebê planejado e recebido com toda alegria de uma mãe, um pai e uma irmã, no dia 2 de maio de 2015.

Até um ano e meio, a vida foi de uma criança normal.

Manchas roxas pelo corpo e vômito: foram o sinal de alerta.

No Hospital das Clínicas, o diagnóstico de leucemia não demorou a vir.

Um tipo raro, que tornava o transplante – e a cura – ainda mais difícil de ocorrer.

– A primeira batalha foi fazer a doença estabilizar, entrar em remissão.

Eram idas e vindas constantes ao hospital, dividindo os dias entre internações e casa.

As chances de um doador compatível para o transplante de medula eram quase nulas para a maioria das pessoas. Não para a fé de Nara.

– Tudo o que aconteceu na vida do Pedro foi um milagre.

Em setembro de 2013, quase um ano após o diagnóstico, a família recebeu a notícia de que um doador compatível, que vivia na Europa, havia sido localizado.

O caso de Pedro passou, então, a ser conhecido em todo Brasil pelos noticiários nacionais.

Foram 40 dias de internação em isolamento, preparando o pequeno para o procedimento.

– O transplante foi um sucesso. O problema foram as complicações depois do transplante.

Pedro contraiu citomegalovírus e os efeitos foram se espalhando pelo organismo.

As idas e vindas para casa cessaram. Por quase oito meses, o lar de Pedrinho foi o hospital. A mãe foi a companheira.

– Eu só saia quando eles me mandavam embora.

No dia 22 de maio, Nara não queria ir embora de jeito algum. O quadro de Pedro estava pior e o coração da mãe pressentia o que viria. Mas cedeu aos pedidos dos médicos.

Por volta das 4h da madrugada do dia 23, o telefone de casa tocou. O hospital avisava que Pedrinho não estava bem.

– Eu entrei à força na UTI, passei por cima de todo mundo.

Nara encontrou seu guerreiro com os batimentos cardíacos já muito fraquinhos.

Conta que eles chegaram a aumentar quando Pedro ouviu sua voz.

– Eu disse que se ele estivesse cansado ele poderia ir que eu ficaria bem. Cantei uma musiquinha. E ele se foi…

E, então, pararam de vez.

 

Por seis meses, Nara não quis pisar os pés no hospital que lembrava a despedida.

Mas foi naqueles mesmos corredores que ela encontrou mais uma dose de força para continuar.

A ideia surgiu quando Pedro ainda estava em tratamento.

– No tempo que passei no hospital com o Pedro eu comecei a abrir meus olhos para uma coisa que eu não via antes: a luta das crianças.

No Natal de 2012, ela organizou uma entrega de presentes para os pequenos internados.

Depois, organizou a Páscoa e continuou buscando levar alegria aos quartos onde dorme tanta aflição.

– No hospital, eles são guerreiros. Se esquecem de ser crianças. Levando alegria, eles voltam a ser crianças pelos menos um pouquinho.

Passados os seis meses da morte do filho, Nara sentiu, então, que era preciso continuar o trabalho que Pedro fez surgir.

Sabe de onde tirou forças. E ainda tira.

– É difícil na hora que eu chego. Mas a partir do momento que eu vejo aqueles olhinhos esperando pela gente, Deus tira toda a tristeza de mim.

Para cada festinha, organizada nas datas comemorativas, Nara arrecada cerca de 75 brinquedos, faz um kit de cuidados para as mães e leva também uma lembrança à equipe de médicos e enfermeiros.

Se é festa de criança, tem que ter diversão. Ela busca artistas no Brasil todo e a festa tem princesa, bruxa, personagens de todo tipo.

Tudo é feito com doação e – muito – trabalho!

Nara conta que neste ano as doações não foram suficientes para a festinha de Páscoa. Agora, perde o sono pela festa de Dia das Crianças.

Por serem crianças internadas, tudo precisa ser escolhido com cautela, de acordo com as recomendações médicas.

– Não adianta levar um brinquedo que a criança não possa brincar!

O sonho de Nara é que o grupo vire ONG. Mas hoje ela ainda não tem condições deixar o emprego para se dedicar à ONG como precisaria.

A falta de regularização, então, dificulta ainda mais as doações. Mas ela continua.

– Eu continuo porque quero tirar um pouquinho da dor que aquelas crianças vivem dentro de um hospital.

Sabe bem do que fala.

 

Nara diz que, desde que o filho partiu, busca reconstruir sua fé.

Passou os seis primeiros meses do luto sem dormir e sem conseguir rezar, tentando entender o que não tem explicação.

Hoje, não consegue agradecer pelo que viveu. Mas reconhece a importância de cada pedacinho da sua história.

– Nada é em vão. Um dia eu vou saber a razão de tudo isso. Fui a protetora de um anjo. O Pedro me ensinou a viver. Me transformou em nova criatura.

Morte de filho é insuperável, ela diz.

– Não se supera nunca. Vou estar velhinha e sofrer por tudo que ele passou.

Mas aprendeu a prosseguir. Acima, para cima como a mensagem que passa.

Nessa noite pode ser que perca o sono pensando nos brinquedos que ainda faltam para a festa das crianças. Amanhã, vai levantar e continuar sua busca por levar alegria.

Multiplica o amor por Pedrinho em mil. E faz seu guerreiro presente, em forma de solidariedade.

 

Assine História do Dia por R$ 13 ao mês! Nos ajude a continuar contando histórias!

Compartilhe esta história

18 Comentários

  1. Nara

    Nossa Dani! Que sensibilidade e cuidado com minha história,muito obrigada pelo carinho.

    • Cíntia Viana de Freitas Tamburus

      Olá Nara, me chamo Cíntia e assim como vc tenho um anjinho no céu. Gostaria de poder ajudar nessa causa. Entre em contato comigo. 16 981022426 ?

      • Nara Lemos

        Só nos sabemos como é dilacerante essa dor né Cíntia?Eu aceito e agradeço sua ajuda porque precisamos muito,obrigada.

    • Gisele Presoto

      Nara meu nome é Gisele e quero lhe ajudar. 16.98832.9440

  2. Adriana

    obrigada Nara e obrigafa meu Deus pela vida da Nara e os voluntarios pois esse dua registrado na foto acima com a personagem frozen da minha filha internada por cerca de 3 meses, onde ela lutava para viver e hj gracas a Deus ela esta aqui comigo cada dia melhor para honra e Gloria do meu Deus Soberano

    • Nara Lemos

      Nunca esquecerei aquele sorriso,ela me emocionou muito.Suas palavras é estímulo para saber que estamos conseguindo atingir nosso objetivo de amor.Obrigada e muita saúde para coces.

  3. Cristiany

    Acompanhei a historia do Pedrinho no balanço geral…. um anjo!!!!
    Q Deus te abençoe Nara!!!

  4. JULIANA MARQUES BRASSAROLA

    Linda história!Em janeiro de 2016 minha enteada (Que era como se fosse minha filha)tb morreu de leucemia no HC de Ribeirão,as crianças e as famílias que estão lá são guerreiras,cada um com sua história!Lindo seu trabalho Nara!Que Deus te dê muita força !

    • Nara Lemos

      Meu anjo da guarda,meu protetor e intercessor lá no céu. Ele é a razão de toda a mudança de minha vida,obrigada.

  5. Ana Flavia

    Nara, Quero ajudar vc de alguma forma com o dia das crianças. Me chame .. lembro que cheguei a falar com vc ainda quando o Pedrinho estava no hospital… um anjinho que me emocionou muitas vezes! ?
    Meu watts é 99118-5219. Aguardo seu contato . ?

    • Nara Lemos

      Glória a Deus,muito obrigada.

  6. maze Lemos

    Nossa Nara me emocionei com sua história eu acompanhei sua luta diaria pois sou sua prima apezar de morar distante sempre estava em contato com Ninha e tinha noticias do Pedro te adimiro muito es uma guerreira e de onde ele está com certeza ta muito feliz e te dando forças pra continuar continue assim Deus sempre estará te abençoando bjs…

    • Nara Lemos

      Obrigada Prima e tenho certeza que ele intercede por mim sim por nosso Deus misericordioso.

  7. Eliana de Souza

    Que Deus em sua infinita bondade continue te abençoando e iluminando seus passos para que vc continue nessa estrada ajudando as crianças e seus familiares nessa luta tão dolorida e tenha certeza que seu anjinho está nos braços de Deus Se puder ajudar é só me chamar no meu email

  8. Nara Lemos

    Está sim Eliana,eu creio muito.Te agradeço e aceito sua ajuda pois preciso bastante.Onde vejo seu e-mail,como entro em contato com você?

  9. Isabel Cristina

    Olá Nara!
    Não Conhecia à Sua história…!
    Estou Conhecendo agora, através de Um Anjo Guerreiro ( Delegado M. Palumbo ).
    Nossa! Estou muito emocionada aqui…Pq também perdir meu único filho. Meu bebê se foi e levou o meu coração e minha vida.
    Ele morreu aos cinco meses de vida com um problema cardíaco.
    E já faz 16 anos que ele faleceu e não têm um só dia da minha vida, que não lembro dele. Com a sua morte, entrei em uma depressão profunda, que tentei me matar, tomando remédios.
    Eu Sei à dor que você Sente…E Gostaria muito de lhe conhecer e lhe dá um abraço e tentar passar pra você um pouco de; Carinho, Força e Amizade.
    Se um dia você ver esse meu Comentário, e quiser ser minha amiga virtual pq não sou daqui de São Paulo. Sou Nordestina daqui de Maceió-Al.
    Me add através dos meus contatos:
    Whats( 82 ): 9. 9932-2627
    Meu E-mail: iisabel-cristina@hotmail.com
    Meu Insta : belmodas1476
    Beijos no Seu coração, Deus lhe abençôe, lhe Proteja e lhe guarde hoje e Sempre! Amém!!! Bom dia!
    Isabel Cristina ( bel ).

  10. Alécio gomes de Araújo

    Olá Nara!
    Mim chamo Alécio morro em Arapiraca-al
    Já estava tudo escrito que ia ser assim sua
    história, não pelo sofrimento mais sim pra mostrar que são poucos quer passa pelo que você passo e aqui esta dando exemplos de vida lembre Pedro sempre foi um anjo de Deus e lembre-se você e mãe de um anjo..
    Que Deus vós abençoe sempre por sua atitude…

  11. Roseli Oliveira

    Oi Nara, eu também tenho uma estrelinha brilhando no céu! E sua história veio me trazer forças. Minha menina partiu dia 16/08, após complicações dó TMO, uma guerreira, lutou 5 anos contra o Linfoma, nunca conseguiu entrar em remissão. Enfim… quero conseguir transformar a minha dor em alguma ação, sou da Capital, mas quero ajudar, como faço?

Outras histórias