Negro, homossexual e bailarino: Jack enfrentou preconceitos com fé

20 maio 2020 | Histórias do Proac 2019/2020

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Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 26 de setembro de 2017. 

Jack conta que chorou. E muito.

Mas se trancava no quarto, colocava um travesseiro no rosto e só saía quando a vontade de chorar passasse.

A mensagem que quer compartilhar não é feita de tristeza.

– É alegria que eu quero levar para a vida das pessoas.

Não há como passar despercebido com 1,83 metros de pura dança, em trajes às vezes coloridos e sempre extravagantes.

Homem negro, alto, ele escolheu romper estereótipos. E o preconceito não deu tréguas.

– Eu ouvi, mais de uma vez, que não honrava minha cor. O homem negro tem que ser bruto? Não é porque eu sou bailarino que eu não sou forte.

A força necessária para suportar o preconceito não vem de fora.

Jack: negro, homossexual e bailarino foi discriminado pela família, amigos, na faculdade, igreja, locais de trabalho.

– Eu sinto a presença de Deus. Ele não me abandona. Por isso tô aqui. A minha persistência, força de vontade e principalmente minha fé me trouxeram.

A fé necessária para continuar também não vem de fora.

A força e a fé de Jack moram dentro e, todo dia, saem para dançar.

História do Dia - História do artista Jack Dancer

Jack conta que, aos sete anos, quando era André Correa Caetano, já sabia de sua orientação sexual.

Na mesma época em que se entendeu homossexual, se encantou pela dança e avisou aos pais que queria ser bailarino.

De pai e mãe nunca ouviu nada que não fosse força. A família sempre viveu no Ipiranga, bairro da zona Norte de Ribeirão Preto. A mãe era funcionária pública, o pai trabalhava com comércio. Criaram Jack e outros três filhos.

Ele encontrou ali o apoio que precisava para crescer.

Já os tios, tias e até mesmo o irmão custavam a entender.

– Quantas vezes me disseram que dança não era coisa para homem! Quantas vezes perguntaram: ‘Quando você vai trazer a namorada para a gente conhecer?’.

Aumentava o som e sufocava as críticas.

Fez ballet, sapateado e na adolescência começou a participar de programas de TV.

– Eu dizia que queria ser artista, trabalhar na televisão e percebia a reação dos amigos. Eles diziam: “Será que ele acha que vai conseguir sendo negro e gay?”.

Fingia não escutar. E continuava sendo quem era.

– Eu sempre fui muito autêntico. Se eu queria sair de blusa rosa, eu saia. Quem quiser gostar de mim, vai gostar como eu sou.

Aos 17 anos, conseguiu uma vaga de assistente de palco em um programa da TV local de Ribeirão. E, quase na mesma época, acrescentou dois nomes ao que constava em registro.

Foi por volta de 1997, com a explosão do É o Tchan, que o apelido começou a surgir. A semelhança com o dançarino Jacaré falava forte, mas André ficou preocupado.

– Se ficasse como Jacaré eu iria perder minha personalidade.

“Jack” veio como diminutivo de Jacaré e “Dancer” não é preciso explicar. A partir dali, o nome cresceu em tamanho e carreira.

– É André Jack Dancer Correa Caetano. São 20 anos de carreira como Jack Dancer! Comecei a cantar também e me tornei um show man.

Jack morou um período em Porto Seguro dançando axé, conta que fez participações em shows de Ivete, Cláudia Leite, Psirico, coreografou a dançarina que ganhou um dos concursos do É O Tchan, fez shows na Argentina e, de volta a Ribeirão Preto, atuou com dança como funcionário da prefeitura.

Foi conquistando espaço.

– O ensaio é cansativo, doloroso. Dançar é como crescer: um constante aprendizado. Tem que saber dosar força e sensibilidade, sem temer o fracasso. E amar-se.

Hoje, ele apresenta o Programa Agenda Comercial na TV local de Ribeirão, é dançarino e vocalista na banda Eles e Elas, dá aula em academia e é o coreógrafo da Carreta Furacão, invenção que explodiu Brasil afora pelas dancinhas irreverentes.

Com a carreta, Jack deu entrevistas para programas de TV em rede nacional. Mostrou seu trabalho Brasil afora.

Aos 35 anos, tem uma lista de sonhos realizados. E outra de sonhos a realizar.

– Eu me sinto muito feliz, muito realizado. Se tivesse que enfrentar tudo de novo, eu enfrentaria. Não há dúvidas.

Jack diz que, ainda hoje, continua a enfrentar o preconceito.

Sente, porém, que através da arte conquistou um espaço. O que causa, ao mesmo tempo, alegria e decepção.

– Antes, o André ia a uma loja e era o último a ser atendido. Hoje, o Jack é um dos primeiros, por ser um artista. O respeito que tenho hoje é o respeito que o André queria ter. O respeito que todos querem ter. Porque o respeito não é para todos?

Outro dia, fez um show com a banda Eles e Elas e levou o pai para assistir. Viu o pai chorar de orgulho e chorou junto.

– O pai da gente é o nosso herói. A mãe é a base. Muitos amigos que são homossexuais não têm apoio familiar e eu sempre tive.

Chora de novo, dessa vez sem travesseiro a sufocar.

– Hoje eu não tenho vergonha de chorar. Choro por coisas boas.

Ele quer se apresentar nos EUA, aprender mais e mais, ter uma vida estabilizada quando decidir se aposentar dos palcos.

Diz que nas suas orações, porém, nada pede.

 – Eu só tenho que agradecer. Deus sabe do que a gente precisa.

Tem certeza de que vai realizar cada sonho e continuar vencendo os conceitos errados.

Pede que sua história seja lida com trilha sonora. A música é da Whitney Houston e já no título explica a escolha: “Eu não conhecia minha própria força”, é a tradução.

André Jack Dancer é da forma que quer ser: eis sua maior realização.



 
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5 Comentários

  1. PRISCILA ANITA DE OLIVEIRA OLIVEIRA

    Parabéns Jack vc é vitorioso e sua estrela nunca vai parar de brilhar, continue sendo essa pessoa de muita luz. bjssss Priscila.

  2. Beatriz

    Esse é meu grande amigo André que desde pequeno sempre mostrando seu talento…e aos poucos se transformou nesse grande profissional.

  3. Vania

    Eu conheci na escola Thomaz Alberto há 20 anos, e quando encontro continua esse se humano humilde.
    Grande abraço de uma das gêmeas Vânia Pena

  4. Giselle Garcia

    Jack, você merece tudo de melhor e nós estaremos sempre na torcida pelo seu sucesso e por suas conquistas!

  5. Célia Camargo

    Nossa sem palavras, eu te desejo ainda muito mais vitórias. Deus te abençoe sempre.???

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