Um folheto caído no chão chamou a atenção de Afonso.
Pegou o papel e, por oito anos, guardou consigo.
Foi a inspiração para abrir um negócio. Negócio que na época, 25 anos atrás, começou cheio de audácia.
O sex shop do Afonso, no centro de Ribeirão Preto, foi um dos primeiros a abrir as portas na cidade.
– No primeiro dia, eu coloquei os produtos na vitrine. Foi um alvoroço! Saiu até no jornal!
A Polícia Federal fazia batidas regulares na loja, confundido o mercado erótico com prostituição.
E, quando buscava os produtos em São Paulo, Afonso escondia na mala mesmo tendo notas, por medo do que a fiscalização poderia pensar.
Não demorou, entretanto, para transformar a lojinha de uma portinha em lojão, com infinidade de produtos.
E comemora os dias “mais abertos” de hoje, apesar da permanência de certas coisas:
– Sexo sempre foi tabu e sempre vai ser.
Afonso, ribeirão-pretano, diz que começou a trabalhar no comércio aos 12 anos.
O pai trabalhava em fazenda, a mãe era dona de casa e os 11 irmãos tiveram que começar a trabalhar cedo para ajudar nas contas.
Fez faculdade de economia e continuou trabalhando com vendas. No início da década de 80, aos 23 anos, começou a empreender.
Abriu uma vídeo-locadora, que manteve por 10 anos, antes do sex shop.
Nesse tempo, fez cursos de massoterapia, reflexologia e analisou cada pedacinho do panfleto de sex shop que achou no chão. Era de uma loja de São Paulo e exibia os produtos em catálogo.
– Eu sempre gostei de coisas diferentes. Posso, sim, dizer que sou um homem de vanguarda.
Fala que, quando abriu o sex shop, no início da década de 90, a mercadoria que trazia de São Paulo não era de primeira linha, porque não havia variedade.
Aos poucos, o mercado erótico foi ganhando notoriedade e os produtos aperfeiçoados. Hoje, nada é vendido sem selo de qualidade.
O perfil dos consumidores também se transformou. Antes, as mulheres eram quase clientela única na loja de Afonso. Hoje, há equilíbrio entre homens, mulheres e casais que buscam juntos apimentar a relação.
Elas, no entanto, procuram mais e mais romper amarras.
– As mulheres querem experimentar coisas novas e estão impondo mais suas vontades aos homens.
E não há idade! Pela porta do sex shop entram jovens de 18 e idosas com mais de 80 anos.
– Tem senhoras que falam para mim o que não têm coragem de falar para o ginecologista, por exemplo.
Afonso é quem atende toda clientela. O que, nos primeiros segundos dentro da loja, pode causar surpresa.
– Algumas chegam aqui e perguntam: ‘Não tem vendedora mulher?’. E eu vou logo respondendo: ‘Mas qual a diferença?’. E sugiro que a pessoa experimente o atendimento comigo, quebre o paradigma.
Cada cliente, ele explica, precisa de um tipo de atendimento. Há quem entre pela porta acanhando, os que já estão adaptados ao mercado, os que querem apenas tirar dúvidas.
– Vender um acessório erótico não é o mesmo que vender um par de sapatos. A pessoa tem que levar algo que vá realmente usar. Não adianta comprar e deixar dentro do guarda-roupa.
Quem ajuda Afonso na loja é seu companheiro.
Faz 10 anos que os dois estão juntos e Afonso conta, cheio de orgulho, que foram um dos primeiros casais homossexuais a casar no civil em Ribeirão Preto.
O amor dos dois começou pela internet. O companheiro é mexicano e o primeiro encontro aconteceu durante férias no Brasil.
Afonso quis mais. Tirou férias também, arrumou as malas e foi para o México sem, sequer, falar espanhol.
O casamento não demorou a acontecer e escolheram Ribeirão Preto para fazer morada.
Se bem que, ultimamente, Afonso tem tido vontade de mudar para o México e abrir um sex shop por lá.
– É o trabalho que me faz feliz! É o que sei fazer.
No dia-a-dia, o casal combate o preconceito em dose dupla: pelo trabalho e orientação sexual.
– O preconceito sempre vai existir. Infelizmente, nunca vai acabar. Nós temos que aprender a não nos importamos com determinadas coisas, para seguir…
Apesar de toda informação, ainda tem gente que vê o sex shop com olhares tortos.
– As pessoas têm receio de que seja uma casa de prostituição, uma casa de sexo. Cabe a mim quebrar o gelo. Meu trabalho é digno.
O jeito comunicativo e alegre é o primeiro antídoto contra ideias equivocadas.
– Eu sou 100% realizado. Tenho um trabalho que me realiza, minha vida pessoal me realiza.
Segue, sendo feliz.
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Muito legal !
Parabéns Afonso !
Enfrentando as lutas profissionais e ” sociais “, siga firme
Bom dia Afonso