‘Super-herói’ da realidade, Bruno lutou pela vida e compartilha seu dia a dia no Instagram

5 novembro 2018 | Gente que inspira

A decoração escolhida para a festa de um ano não poderia ser outra. Super-heróis: turma da qual Bruno, tão pequenino, já faz parte.

A diferença é que sua batalha tem como cenário a realidade, com tubos e aparelhos hospitalares.  O dia 15 de outubro foi de comemoração para quem acompanhou essa trajetória, que parece bem mais longa do que 12 meses.

– Perder um filho é um buraco no peito. Um vazio para sempre. Não tem como jogar uma terrinha para tapar. Mas você aprende a conviver. O que me moveu foi a esperança.

Marcela Mendonça conta que quando descobriu a gravidez de Bruno um arco-íris apareceu no céu da sua sacada e ela soube que era um sinal. As mães que passam por uma perda chamam de bebê “arco-íris” aquele que vem depois, para ajudar a sanar o buraco no peito.

– O Bruno é o meu bebê arco-íris. Eu tenho muito orgulho do meu filho!

Um ano antes, ela perdera um bebê com 36 semanas, 3 dias e muita expectativa de gestação. O quartinho de Arthur já estava pronto, assim como o lugar dele na família. A irmã Luísa ainda custa a entender que o irmão não voltou do hospital depois daquela noite difícil.

Marcela teve um descolamento de placenta e chegou na maternidade já em estado gravíssimo. Soube depois que a trombofilia pode ter sido o motivo.

Durante os meses seguintes, a luta contra a tristeza foi feita com muita fé, trabalho voluntário e amor pela pequena Luísa, que na época tinha um ano e três meses.

A vontade de ter outro filho não foi maior que o medo e, um dia antes de completar um ano da perda, soube que estava grávida com o arco-íris como prenúncio.

A gestação de Bruno foi tranquila e a mãe fez festa, como deve ser nas chegadas.

Com 32 semanas, no entanto, ela teve novamente um descolamento de placenta e Bruno precisou nascer.

– Ele não tinha mais vida. Os médicos contaram que foram 13 minutos para reanimá-lo. E, quando já achavam que não tinha mais jeito, ele voltou.

Bruno foi direto para a UTI. As previsões médicas eram sempre de perda.

– Um dos médicos dizia que ele não tinha chance nenhuma. Eles não acreditavam! Realmente não acreditavam que o meu filho iria viver.

Foram 38 dias de hospital antes da alta médica, com uma cirurgia complexa no cérebro nesse meio tempo. Bruno leva o Francisco no nome pela devoção da mãe a Chico Xavier.

– Eu prometi que, se ele ficasse bem, colocaria Francisco como agradecimento.

A fé foi o que manteve Marcela confiante.

O bebê tem paralisia cerebral e hidrocefalia. Diagnósticos que, para a mãe, pouco significam.

– Ele não tem o cérebro paralisado. Pelo contrário: tem o cérebro tão ativo que está se desenvolvendo!

Bruno come sem sonda, equilibra o pescoço, começa a ficar em pé, acompanha a mãe com os olhinhos, chora forte quando está bravo. Comemorou o aniversário de um ano rodeado de gente que acredita na sua história de conquistas.

Super-herói, mais que o tema da festa, é seu tema de vida!

Uma vida especial Bruno Francisco Ribeirão Preto

Ser mãe nunca foi um projeto de Marcela.

Formada em administração de empresas, ela fez carreira em empresas multinacionais e se dedicava ao estudo, crescendo na área. O tempo, então, estava sempre ocupado.

A gravidez de Luísa, assim, foi uma surpresa, recebida de braços abertos por Marcela, na época com 29 anos, e pelo marido.

Depois que a filha nasceu, a mãe mergulhou no mundo da maternidade. Passou a participar de um grupo de mãezinhas e gestantes, transformou seu olhar.

– Eu achava que me preparar para o nascimento era montar enxoval, quarto, fazer chá de bebê. Tive um parto de 12 horas, cheio de intervenções. E, depois que ela nasceu, foi um choque. A gente se assustou com a realidade, mas passei a conhecer a maternidade real.

Viveu as descobertas com profundidade:

– Eu vi que tinha nascido para ser mãe!

Quando engravidou do Arthur, quis se preparar para o nascer. Não houve muito tempo, porém. Com 36 semanas e três dias, veio o descolamento da placenta e todo o pânico que o fato trouxe.

Ela foi levada ao hospital às pressas, já com muita hemorragia. O bebê nasceu sem vida e a mãe precisou lutar para continuar vivendo.

Em meio a tanta dor, o despreparo da maternidade particular onde foi atendida. Conta que foi colocada junto às outras mães, com seus bebês recém-nascidos. Constantemente, então, tinha que ouvir perguntas do tipo: “Cadê o seu bebê? Já mamou?”, das próprias enfermeiras. Depois, precisou lidar com a falta de empatia.

– Foi cruel. As pessoas não entendem a perda gestacional. Me diziam: ‘Logo você tem outro’. Só quem perdeu um filho sabe a dor que é. Eu não entendia como tinha entrado no hospital grávida e saído sem meu filho.

A fé foi aliada para vencer a depressão. A vontade de ter o terceiro filho logo foi tomando espaço.

A gravidez de Bruno foi tranquila e monitorada pelos médicos. Quando Marcela percebeu os sintomas de que algo não estava bem, ligou de imediato para o médico e recebeu assistência rápida. Estava com 32 semanas de gestação.

Bruno nasceu grande: 2.080 quilos, 43 centímetros e muitas toneladas de força.

 

Nos 38 dias em que Bruno esteve no hospital, Marcela fixou o coração ao lado da incubadora. Tem certeza de que o pequeno sentia seu carinho, manifestado muitas vezes em música. A mãe cantava para o filho – e para quem mais estivesse por ali – diariamente.

– Quando eu cantava, ele respirava melhor. Depois de sete dias já estava sem o respirador. Quem passava e via não acreditava!

Foram altos e baixos constantes. Bruno já havia deixado a UTI e parecia bem melhor quando teve uma hemorragia gravíssima no cérebro.

– Ninguém sonha com isso. Todo mundo quer um filho saudável, correndo pelo parque, pulando. Mas eu precisava entender que ele era um guerreiro e, mesmo com tudo o que tinha passado, ele estava ali.

Bruno não podia mamar direto no peito, mas a mãe tirava leite, doava para o banco e alimentava seu bebê pela sonda.

– Foi isso que fortificou o Bruno. O meu leite, com o amor e a energia que eu colocava. Só quem é mãe de UTI sabe a importância que tem. Quando ele tomou 5 ml do meu leite era como se eu estivesse dando uma mamadeira inteira.

Mesmo quando Bruno melhorava a cada dia, Marcela escutou que seu filho viveria em “estado vegetativo”. Aprendeu a deixar passar.

No dia da alta, a mãe conta que o médico que tanto lhe dizia não haver chances para Bruno acreditou no seu pequeno.

– Ele disse que a melhora do meu filho tinha sido obra lá de cima. ‘É um milagre’.

E repete as palavras do médico, que são as suas também.

Uma vida especial Bruno Francisco Ribeirão Preto

Deixar o hospital foi uma grande conquista, mas em casa a batalha de Bruno continua.

Todos os dias, tão miúdo, ele enfrenta um desafio novo.

Aprender a comer, a sugar, a se movimentar: as terapias são diárias e intensas.

Uma neurologista disse que o bebê não iria nem equilibrar o pescoço, o que ele já faz com tranquilidade.

– O primeiro ano é muito difícil. Muitos médicos, muitos termos. Eu estudo muito, pesquiso tudo o que a gente pode fazer por ele.

Há três meses, Marcela decidiu compartilhar um pouco dessa rotina. Criou um perfil no Instagram, “Uma vida especial”, e divide com as pessoas um pouco do dia-a-dia de Bruno e da família, que hoje vive em torno do pequeno.

Teve dúvidas na decisão. Mas a necessidade de mudar o olhar das pessoas lhe motivou.

– O mais difícil é lidar com o preconceito. A sociedade precisa entender que uma pessoa especial tem uma vida. A inclusão tem que existir de fato. É preciso empatia.

Cita as muitas vezes em que precisou exigir respeito. A moça da farmácia que disse “sinto muito” quando soube que Marcela é mãe de um “bebê especial”. A outra, que chamou Bruno de “coitadinho”. A lista é grande.

– Coitadinho por que? Eu tenho o maior orgulho do meu filho! Coitadinho seria se ele estivesse no hospital, sem respirar sozinho. Ele está aqui!

A página no Instagram é a forma que a mãe encontrou para levar essa mensagem. E tem dado certo.

– Eu recebo mensagens de pessoas de todo tipo! Quero mostrar que o Bruno tem uma vida normal: sai, vai ao parquinho, brinca com a irmã. Independentemente de ser especial ou não.

Uma vida especial Bruno Francisco Ribeirão Preto

Marcela não faz grandes planos para o futuro. Quer que seu filho cresça com saúde, e ponto.

– A gente vive um dia de cada vez. Conquistas tão pequenas para outras pessoas, são enormes para mim. Comemoro cada uma delas.

Hoje, ela acredita que sua história como mãe foi muito bem planejada.

– Eu briguei muito com Deus quando eu perdi o Arthur. Eu achava que Ele tinha me esquecido. Hoje eu vejo que ele se lembra muito de mim. Como perder um filho é muito mais difícil, a gente teve muita força e fé pelo Bruno.

Nos dias em que bate o desânimo, humana que é, encontra nos filhos a energia.

– Por que vou ficar para baixo? O Bruno está aqui lutando! Minha filha é um ser de luz!

Para comemorar um ano do filho, Marcela teve, mais uma vez, que se despir de conceitos.

– Normalmente, no aniversário de um ano, a mãe comemora que o filho está andando!

Andar é coisa pouca perto das batalhas de Bruno.

– Eu tenho o maior orgulho do meu filho. A história dele! Ele está vivo, lutando.

Repete, mais uma vez, o quanto se orgulha do seu pequeno super-herói.

No aniversário de um ano, teve bolo, bexiga, alegria. Nenhum herói da ficção, porém, brilhou mais do que o aniversariante. Na realidade, a mãe Marcela também brilhava, com sua capa invisível de heroína.

 

Crédito da foto 1: Lujephotos
Crédito das fotos de galeria: arquivo pessoal

 

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6 Comentários

  1. CLAUDINEI PAULINO

    Linda e inspiradora história. A fé e o amor realmente movem montanhas! Que Jesus e Maria abençoem e iluminem esta linda familia!

  2. CLAUDINEI PAULINO

    Linda e inspiradora história. A fé e o amor realmente movem montanhas! Que Jesus e Maria abençoem e iluminem esta linda familia!

  3. Vander

    Que amor mais lindo ! Um filho e o melhor presente que ganhamos de Deus , eles nos fazem agir e pensar melhor sobre tudo . Deus não esquece uma família igual a de vcs , motivo de orgulho vcs vão ter no futuro . Parabéns pela mãe , dos seus filhos ,o Bruno é uma menino de muita sorte e com certeza vai trazer muitos sorrisos … seu amigo vander !

  4. Cristina Pereira

    Que Jesus em sua infinita bondade e amor continue a abençoar muito essa família de guerreiros vitoriosos. Muito orgulho pelo amor e dedicação. ????

  5. Cristina Pereira

    Que Jesus em sua infinita bondade e amor continue a abençoar muito essa família de guerreiros vitoriosos. Muito orgulho pelo amor e dedicação. ????

  6. Layana Morais

    Minha amiga de tantos anos ,mas tão distante,como gostaria de estar por perto… Sou grata a Deus por te dar força,pois guerreira sei que sempre foi… Se for contar toda sua história as pessoas verão vc como muito mais que uma heroína,sua jornada é fantástica e digna de admiração,eu lhe admiro e admirarei para todo o sempre. O mundo é um pequeno grande guerreiro e eu tenho certeza que ele alcançará muito! Mesmo distante torço por vcs e os amo muito. Fica com Deus!!!

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