‘Geladeira Cultural’ de Helena leva leitura para o Campos Elíseos

13 junho 2020 | Histórias do Proac 2019/2020

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Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 13 de julho de 2017! 

 

Tinha uma geladeira no meio da calçada. E, na porta da geladeira, um convite em letras azuis cor de mar: “Geladeira cultural. Doe livros”.

Quem passa sempre, já se acostumou. Abre e fecha a porta, leva e deixa algo de bom.

Os viajantes de primeira viagem arregalam os olhos. Será pegadinha?

Teve até um catador de recicláveis que não percebeu o convite e estava levando a geladeira como entulho.

Que disparate!

Helena saiu disparada portão afora, impedindo tamanho despropósito!

No fim, o catador colocou a Lenateca no lugar e foi embora levando, ele também, um livro cheio de boas palavras.

Lenateca é o nome de todo projeto: geladeira + calçada + troca de livros + cultura a céu aberto e sem burocracias.

Surgiu da combinação entre o nome da criadora e a palavra biblioteca.

Quem conhece Lúcia Helena Leite Araújo vai logo chamando de Lena.

Quem conhece o projeto, se encanta pela Lenateca!

A ideia surgiu meio de estalo, como toda boa ideia que vaga pelo mundo até encontrar uma mente fértil para semear.

Helena criou geladeira cultural em Ribeirão Preto

Helena tem os dois pés fincados na cultura, é fato. A paixão pelo cinema começou ainda menina. Com 18 anos, ela já fazia a finalização de filmes, na época em que todo o trabalho era manual e cheio de detalhes.

Passou grande parte da vida no audiovisual, produzindo propagandas, curtas, colocando ideias em imagens:

– O cinema é o começo de tudo.

Meses atrás, porém, sentiu um cansaço vindo lá de dentro. Sabe quando tudo parece vir em formato de interrogação?

Deixou o trabalho e veio morar em Ribeirão Preto, em uma casinha simples do Campos Elíseos, rua Rio de Janeiro.

Viu a biblioteca de geladeira em uma foto por aí e passou meses matutando a ideia.

– Uma ideia sempre nasce de outra.

 

 

Foi na oficina que conserta eletrodomésticos ali do lado, explicou seu plano e – que bela surpresa – ganhou uma geladeira bem espaçosa já no outro dia!

Precisava que ela tivesse cara de biblioteca, porém. Pegou tinta azul e deu forma à Lenateca.

Não se lembra quem foi o primeiro a abrir a porta, mas diz que, muito mais rápido do que poderia pensar, a troca de livros começou a acontecer.

Em cinco meses de Lenateca, somando meio por cima, acredita que já espalhou 300 exemplares de livros por aí. Sem contar nas revistas e CDS que também fazer parte do acervo.

– Eu coloquei meus livros lá uma única vez. Depois, as pessoas começaram a trazer. Elas levam e trazem algo de bom!

Essa é a ideia: “Pegue um livro e traga outro”. Mas não precisa ser de imediato.

Helena conta da senhora que passou, conheceu a Lenateca e levou um livro.

Naquela hora, ela não tinha outro para pôr no lugar. Semanas depois, voltou com caixas abarrotadas de exemplares.

– Partilhar: essa é a palavra chave. Mas, se uma pessoa não tem para entregar, outra entrega em dobro.

Helena criou geladeira cultural em Ribeirão Preto

Helena já começa sua colheita. Uma amiga que mora em Colina implantou a geladeira cultural por lá, com uma mudancinha de nomenclatura: “Arleteca”, levando o nome dessa “bibliotecária”.

A amiga que mora no Rio de Janeiro já está em busca de uma geladeira e também a que mora em Goianésia, Goiás.

O sonho de Helena é que muitas e muitas “Tecas” se espalhem por aí.

– Os livros me ajudaram a sonhar, a querer saber o que tinha atrás do morro, a criar um mundão dentro do meu mundinho. Eu quero exatamente isso: que através da leitura as pessoas também possam descortinar o mundo.

Helena é do tipo que acredita na simplicidade como caminho de mudança.

– É o simples que muda a gente. A linguagem do coração é muito simples. Tem horas que não precisamos de vírgulas, só de exclamações.

Quando escuta a porta da geladeira abrindo, corre para ver quem é. Quem sabe surge dali um bate papo, uma amizade, uma troca.

– Não só de pão vive o homem. Eu já vi vidas mudarem pela história de um livro. A minha vida mudou várias vezes…

No meio do caminho, tinha uma Helena.

E dentro da Helena, um coração cheio de carinho e fé.

– A gente pode mudar tudo de ruim com coisas simples. Com um livro!

 

 

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Acesse o site VLibras, que faz esse serviço sem custos:
https://vlibras.gov.br/

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1 Comentário

  1. Irene Fernandes Silva de Melo

    Que Delicia começar meu sábado com esta maravilhosa história… gente, perguntas, ideias, atitudes rompendo barreiras e decidindo fazer diferente na direção do mais, da abundância, do Amor.
    E me bate de novo as mesmas perguntas/respostas: aprender a Amar… e expressar nosso Amor é nosso maior desafio? Nossa maior tarefa?
    Gratidão Daniela… por você abrir um cantinho (geladeiras, corações…) para trocar as vivências de Amor.., além de nós mesmos e com muito pé no chão! ??????????

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