Vale a pena ler de novo: Mãe Neide é luta e resistência pela cultura negra

15 junho 2017 | Gente que inspira

[vc_row][vc_column][vc_column_text]Neide é, por si só, uma lição. Lenço na cabeça, vestido estampado, brinco de argola, pulseiras douradas, anéis de pedra. A luta pela identidade africana é escancarada. Como ela faz questão que seja.

– Lutar contra o preconceito é um trabalho árduo e não se pode desistir. Quando você pensa que melhorou, percebe que tem muito trabalho a ser feito.

Fundou o Centro Cultural Orùnmilá em Ribeirão Preto há 32 anos e, desde então, defende não só a religião africana, mas tudo o que diz respeito ao ser negro.

O centro oferece oficinas culturais para crianças da periferia, atividades para os adultos, celebra os rituais africanos à risca e todo ano, há duas décadas, coloca o Afoxé na rua nos dias de Carnaval.

Tem tantos frequentadores, que Neide diz não saber o número certo. Só no Carnaval, juntam 300 pessoas.

Mãe Neide, como é chamada, não tem medo de brigar com o poder público pelo que é direito e, para isso, integrou o Conselho Municipal da Defesa da Mulher representando a mulher negra, manifestou quando foi preciso e continua a manifestar.

Aos 74 anos, tem poucas rugas e nenhum cansaço.

– É gostar da vida, sabe? Tomar muita água, nunca negar um ‘bom dia’, estar preparado para tudo e agradecer por ter saúde.

Mãe Neide Afoxé Orunmilá

 

A menina Neide foi criada por mãe negra e padrasto alemão. Fez piano, frequentava às missas na igreja católica.

Aos seis anos, começou a ter desmaios que nenhum médico conseguia explicar. A mãe foi buscar explicação na religião. Neide diz ter entendido ali que deveria seguir pela religião africana.

– Eu descobri que nasci para ser mãe de santo.

Conta que, através da religião, entendeu também que era preciso lutar pela sua identidade como um todo.

Sentiu o preconceito bem cedo, dia-a-dia. O professor corrigiu seu trabalho de matemática, perguntou se a amiga japonesa era quem tinha feito e Neide passou a questionar.

– O que ele queria dizer? Eu não tinha capacidade? Fui percebendo que era preciso buscar igualdade.

Já adulta, a vontade de ter o seu lugar era latente. O marido era de Ribeirão Preto e eles decidiram que aqui seria o lugar para criar as três filhas e semear a conscientização.

Escolheram a periferia, quase à beira da Via Norte, poucas quadras da favela que se forma no final da avenida. Mãe Neide conta que a região era mato e terra vermelha.

– Lembro de ter passado por aqui e pensado: Imagine quem vier morar aqui, coitado! E foi aqui que eu vim parar. Foi aqui que meu coração bateu.


Sem apoio do poder público, mãe Neide já teve que vender o próprio carro para colocar o Afoxé na rua nos dias de Carnaval. Neste ano, o grupo saiu com roupas recicladas dos anos passados.

Ela relembra o ano em que levaram uma “faixa social”, em suas palavras, que dava o recado: “Tudo que está aí, vem daqui”.

– O Carnaval é uma forma de colocar a cultura e o povo na rua.

Neste ano, o desfile foi no sábado, em frente ao centro, com união de forças.

Neide tem um tantão de planos para o futuro. Pensa que, ao mesmo tempo em que há progressos, há retrocessos abissais.

– O momento é de reflexão em todos os sentidos. É só abrir a janela que a gente percebe. As coisas precisam mudar e as pessoas estão mudando. Sou muito positiva e sempre acho que vai melhorar.

Assim como acredita nas pessoas e no dia em que cada um vai respeitar o espaço do outro. Como ela busca fazer.

– Todo mundo tem direito de viver da sua maneira, sem preconceitos, sendo feliz.

Gosta da vida. Já disse lá em cima, para explicar suas poucas rugas e nenhum cansaço. Mas, entre tudo, tem sua fascinação.

 – Sempre gostei de gente. De olhar as pessoas no olho, conversar. Criança, adulto, adolescente: tenho comunicação com qualquer um deles.

Mãe Neide é, por si só, uma lição.

 

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