Wellington é lembrança dos tempos de futebol

23 junho 2017 | Gente que inspira

Essa entrevista foi feita em março de 2017. Com pesar, fomos informados hoje que Wellington faleceu no dia 25 de maio. Essa história fica como nossa homenagem a ele.

 

Wellington Tonelli passa os dias sentado nos bancos do Centro de Ribeirão Preto, com a pinga de companheira e as lembranças do tempo que não volta.

A quem pergunta – ou não – ele conta com gosto.

– Eu joguei muito futebol. Joguei com o Magrão. A minha premiação é que eu fazia gol todo jogo.

Depois, vai enumerando os times por onde passou: Botafogo, Juventus, Santa Cruz, Clube de Descalvado, Prudentino (em Presidente Prudente), Desportivo de Guaratinguetá e mais alguns, que a memória atrapalha em listar.

Diz que no Botafogo dividiu campo com o Sócrates, em 1969.

– Eles me apelidaram de rabo de arraia, por causa do meu drible.

Aos 63 anos, Wellington é só lembrança. Usa um calção de futebol e tênis nos pés.

– Esse calção? Não sei de que time que é… peguei lá em casa.

Não tem fonte de renda, amarga dor nas pernas, faz tempo que não assiste futebol. – A idade chegou…

Busca explicar.

Wellington Tonelli astro do futebol nas praças de Ribeirão

Wellington conta que começou a jogar futebol no corredor de casa com o irmão. Faziam bolas de meias e passavam o tempo.

A brincadeira virou sonho.

Aos 15 anos estava jogando no Botafogo e, depois, partiu Brasil afora de time em time.

– Eu entrava no gol com bola e tudo!

Jogou até perto dos 30 anos. Futebol no Brasil tem prazo de validade, é a dura realidade. Diz que quando voltou para Ribeirão estava realizado

– Eu vim bonito, trouxe dinheiro. Na época comprei um fusquinha azul. Aí virei o maior louco.

Tem um hiato na história que Wellington conta. “Virou o maior louco” é tudo o que diz sobre o caminho que o levou ao banco do Calçadão de Ribeirão, com um calção que achou em casa e o copo de pinga.

A bebida atrapalhou a vida, ele revela. E só.

Diz que mora com um sobrinho, em casa própria. Mas seu quarto é vazio e sem luz.

– A tristeza é chegar em casa… No meu quarto não tem lâmpada.

Diz que todos os dias repete o ritual: levanta, toma um cafezinho na empresa da rua de casa e vai para o banco do Calçadão.

– Eu tenho muita amizade. Tem cara que para o carro na rua para me cumprimentar.

Os jogadores preferidos também ficaram no passado.

– Mané Garrinha e Edson Arantes do Nascimento. Não teve igual.

Wellington é lembrança do grito de gol que hoje é silêncio.

Diz que já sabia o que esperar do futuro, apesar de a gente ficar achando que tudo deveria ser diferente para ele. Não explica o porquê.

– Sempre imaginei que seria assim. Tenho o alcance da minha Inteligência. Só não quero ficar aleijado.

Fica feliz em contar sua história. Pergunta quando sai, diz que faz questão de ler e que, em uma época da vida, trabalhou entregando jornal.

Wellington Tonelli, o rabo de arraia, passa os dias nos bancos do Calçadão. Para quem pergunta sua história, relembra o grito de gol.

É isso que importa.

 

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Wellington Tonelli astro do futebol nas praças de Ribeirão

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2 Comentários

  1. Aurélio César Davila Tonelli

    Meu Pai ?????

  2. Aurélio César Davila Tonelli

    Que Deus o tenha meu Pai 🙁

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