Abel está de casa nova. Depois de 35 anos no mesmo lugar e outros quatro buscando um espaço no calçadão recém-reformado de Ribeirão Preto, ele voltou a fincar raízes. E garante:
– Daqui eu não saio mais!
Bem no meio do vai-e-vem de gente, na General com a Tibiriçá, só invertendo a ordem que durou mais de três décadas.
– Antes eu ficava na Tibiriçá com a General. Mas como a General não tem igual! Agora ficou bonito.
Abel e sua garapa – 39 anos de história – são parte do cenário central.
Não importa se a estrutura do ponto é antiga ou recém-pintada, ele atende a clientela na rua, ao lado da torneira que enche os copos da delícia de cana.
Fica quase o dia todo em pé, distribuindo “bom dia” e “boa tarde” a quem passa.
– Enquanto as pernas garantirem, nós estamos aqui, né?
Abel está de casa nova.
Não há outro nome para o lugar onde passou a maior parte da vida, criou os filhos, construiu legado e escreveu história.
– Isso aqui é tudo para mim. Sem isso, eu não sei como seria…
O fornecedor da cana é o mesmo há quase quatro décadas. O avô passou o negócio para o pai e agora quem comanda é o neto.
Abel, no entanto, continua o comprador.
– Eu nunca fiz isso de trocar. Se tá dando certo, vou trocar para quê?
Abriu a garapeira no Calçadão de Ribeirão Preto em 1976 e não quis mudar – nem de ramo, nem de fornecedor.
Abel Domingos Pereira dos Santos, 68 anos, encontrou a felicidade vendendo garapa, água de coco, churros e salgado para gerações inteiras de famílias ribeirão-pretanas.
– Minha história é isso aqui. É esse Calçadão. Isso aqui é tudo pra mim!
Antes de chegar ao Calçadão, teve carrinho de lanche e trabalhou na feira. Quando a possibilidade de abrir a garapeira surgiu, agarrou com afinco.
Criou os filhos por ali, junto aos filhos dos outros.
– Tem gente que vinha de pequeno e hoje traz os netos.
Difícil quem não o conhece pelo nome. E vai além. Vira família da meninada que passa por alí. “Tchau vô!”, diz a moça que comprou a garapa e ganhou o churros.
Abel diz que não tem ideia do quanto vende.
– Nunca marquei. Sou eu e meus filhos, não tem porquê. A gente vai moendo aí!
Bem por isso, não pensa duas vezes para presentear quem está sem dinheiro naquele dia. A bebida geladinha sempre vem com chorinho!
Abel conta que seus meninos se formaram com o dinheiro que vem da cana: em Direito e Administração. O orgulho maior, entretanto, vem na fala que segue:
– Nenhum quis seguir a profissão. Ficam só aqui. Isso é o futuro deles.
Futuro que, ele espera, seja feito ali, no vai e vem do Calçadão, com a garapa da mesma cana, do mesmo fornecedor.
Em 39 anos, Abel só faltou do trabalho quando ficou doente, no ano passado, e precisou ser internado.
Nem mesmo quando uma árvore caiu sobre o carrinho e estragou todo o teto ele deixou de abrir. Passou ano com o carrinho amassado, esperando a hora de mudar para o novo – e definitivo – local.
Abel não gosta de mudar o que está bom.
– Tá no tamanho certo agora. Agora ficou bonito!
De casa nova, renovou as energias para mais 39 anos de garapa.
Conheço essa figura desde o início , quando estudava na Unaerp, comprava até fiado dele. Até hj passo para tomar a deliciosa garapa do Abel. Trabalhador íntegro, um dos anônimos que nos dá orgulho de ser Brasileiro
Uma delícia de caldo de cana e um atendimento de excelência. Parabéns Abel.
Boa tarde! Que vontade me deu de conhecer seu Abel! E claro beber essa garapa, que amo tanto.