Essa entrevista foi feita em março de 2017. Com pesar, fomos informados hoje que Wellington faleceu no dia 25 de maio. Essa história fica como nossa homenagem a ele.
Wellington Tonelli passa os dias sentado nos bancos do Centro de Ribeirão Preto, com a pinga de companheira e as lembranças do tempo que não volta.
A quem pergunta – ou não – ele conta com gosto.
– Eu joguei muito futebol. Joguei com o Magrão. A minha premiação é que eu fazia gol todo jogo.
Depois, vai enumerando os times por onde passou: Botafogo, Juventus, Santa Cruz, Clube de Descalvado, Prudentino (em Presidente Prudente), Desportivo de Guaratinguetá e mais alguns, que a memória atrapalha em listar.
Diz que no Botafogo dividiu campo com o Sócrates, em 1969.
– Eles me apelidaram de rabo de arraia, por causa do meu drible.
Aos 63 anos, Wellington é só lembrança. Usa um calção de futebol e tênis nos pés.
– Esse calção? Não sei de que time que é… peguei lá em casa.
Não tem fonte de renda, amarga dor nas pernas, faz tempo que não assiste futebol. – A idade chegou…
Busca explicar.
Wellington conta que começou a jogar futebol no corredor de casa com o irmão. Faziam bolas de meias e passavam o tempo.
A brincadeira virou sonho.
Aos 15 anos estava jogando no Botafogo e, depois, partiu Brasil afora de time em time.
– Eu entrava no gol com bola e tudo!
Jogou até perto dos 30 anos. Futebol no Brasil tem prazo de validade, é a dura realidade. Diz que quando voltou para Ribeirão estava realizado
– Eu vim bonito, trouxe dinheiro. Na época comprei um fusquinha azul. Aí virei o maior louco.
Tem um hiato na história que Wellington conta. “Virou o maior louco” é tudo o que diz sobre o caminho que o levou ao banco do Calçadão de Ribeirão, com um calção que achou em casa e o copo de pinga.
A bebida atrapalhou a vida, ele revela. E só.
Diz que mora com um sobrinho, em casa própria. Mas seu quarto é vazio e sem luz.
– A tristeza é chegar em casa… No meu quarto não tem lâmpada.
Diz que todos os dias repete o ritual: levanta, toma um cafezinho na empresa da rua de casa e vai para o banco do Calçadão.
– Eu tenho muita amizade. Tem cara que para o carro na rua para me cumprimentar.
Os jogadores preferidos também ficaram no passado.
– Mané Garrinha e Edson Arantes do Nascimento. Não teve igual.
Wellington é lembrança do grito de gol que hoje é silêncio.
Diz que já sabia o que esperar do futuro, apesar de a gente ficar achando que tudo deveria ser diferente para ele. Não explica o porquê.
– Sempre imaginei que seria assim. Tenho o alcance da minha Inteligência. Só não quero ficar aleijado.
Fica feliz em contar sua história. Pergunta quando sai, diz que faz questão de ler e que, em uma época da vida, trabalhou entregando jornal.
Wellington Tonelli, o rabo de arraia, passa os dias nos bancos do Calçadão. Para quem pergunta sua história, relembra o grito de gol.
É isso que importa.
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Meu Pai ?????
Que Deus o tenha meu Pai 🙁