Esta história faz parte do projeto “Patrimônio em Memórias” realizado com apoio do Proac LAB, programa da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
Texto e fotos: Daniela Penha
Ilustração de Luciano Filho, exclusivamente para o projeto “Patrimônio em Memórias”
Quem conhece o Marcos, sabe bem: com ele, o Centro de Ribeirão Preto é assunto para mais de um mês.
Passado, presente e futuro: fala em três tempos da área que é sua morada há 74 anos – desde que veio ao mundo.
Nasceu no Centro e fez do Calçadão sua rotina diária, à frente da joalheria do pai. O negócio ocupa o mesmo espaço, nas galerias do prédio Diederichsen, desde 1951: 66 anos de história, uma das primeiras joalherias de Ribeirão Preto.
Marcos Zeri Ferreira viu o Calçadão mudar de forma, trocar as cores, perder o brilho. Luta para reconquistá-lo.
Como um apaixonado, não perde as esperanças de ver a área central revitalizada, com o carinho que merece o coração de uma cidade.
– Eu sou do tempo em que os jardins tinham jardineiros. Eles cultivavam rosas e se você apanhasse uma rosa eles te punham para correr.
Se emociona. Chega a chorar.
– O Centro é história. É o marco zero da cidade. Onde tudo começou.
Marcos nasceu e cresceu na rua Visconde de Inhaúma, mais ao centro impossível.
O negócio do pai começou em casa, com moldes bem distintos dos atuais.
A compra e venda de joias era feita na sala da família. Marcos diz que o fornecedor chegava a cavalo, levando 15 quilos de ouro em baús na carroça.
Levava-se dois dias para terminar as negociações.
– Naquela época não tinha assalto, era muito tranquilo.
As vendas eram feitas “na base da confiança”. O pai de Marcos anotava os devedores em uma caderneta e bastava para formalizar o negócio.
Em 1951, depois de seis anos vendendo joias em casa, a família comprou o ponto do Calçadão.
Quem poderia imaginar que dali não sairiam mais?
Marcos sonhava em ser psiquiatra. Quando tinha seus 16, 17 anos, porém, o pai ficou doente e foi preciso ajudar na loja.
– Foi, por volta de 1958, época do pós-guerra. Época de grandes transformações.
Foi ficando e, quando se deu conta, estava estudando Direito.
– Eu guardei meu sonho de Medicina num quarto de despejo e por lá ele ficou.
Guardou um sonho, mas não deixou de lado os gostos.
Entre a rotina de comércio, conseguiu abrir espaço para a leitura e a escrita, que tanto ama.
Chegou a cursar dois anos de Estudos Sociais, foi colunista em jornais, escreveu dois livros e hoje colhe os frutos, como presidente da Academia Ribeirão-pretana de Letras.
Com a paixão pelo Centro, ajudou a criar a Amec (Associação dos Amigos Moradores e Empresários do Centro), da qual é presidente.
Nos quatro anos de reforma sem fim do Calçadão, durante o governo de Dárcy Vera, esteve à frente da briga por uma revitalização bem feita.
Sente, porém, que perdeu parte da batalha.
– Não teve planejamento e a ideia inicial de arquitetura foi toda descaracterizada.
Mas é otimista.
– A mudança é vertiginosa. Não posso dizer o que vai acontecer amanhã, mas estamos prontos para a mudança.
Sonha com a área central revitalizada, com iniciativas culturais, turismo de negócio, atrativos para a clientela, comércio fortalecido. Políticas e olhar público com seriedade.
Esse sonho, ele garante, não vai para o quartinho de despejo.
– Eu gostaria de ter sido um médico para ajudar as pessoas. Hoje, eu sou um apaixonado pelo Centro. Porque o Centro não pode ser bonito como antigamente?
Marcos é um pensador. Pensa sobre a vida, o universo, o ser, as coisas. Pensa e vai transformando em palavras o que vem à mente.
Na sua página do Facebook, está sempre a publicar reflexões. A conversa não é simples.
Fala da sua paixão pelo Centro, da história da família e também da energia que nos rodeia, dos ciclos da vida, do que dá sentido à existência.
Vai transformando pensamento em palavra.
– Cada homem tem uma mensagem para deixar na passagem como hóspede provisório nessa terra. O segredo é descobrir que mensagem é essa que cada um pode deixar no sentido de colaborar.
Diz que é grato por tudo que tem.
– A vida da gente é como você dá sentido às coisas. Essa loja é um pedaço forte da minha história de vida.
Não sabe quantas décadas mais a loja vai existir. Não sabe como será o Calçadão do futuro, apesar de tantas expectativas. E vai fazendo a sua parte.
– Por que o Centro de antigamente era bonito? Porque todo mundo cuidava! Mas sou otimista: pode e deve melhorar.
Quem conhece o Marcos, sabe bem: com ele, o Centro é assunto para mais de um mês. Esse texto é só aperitivo. Convite ao diálogo.
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Adorei paizinho! Te amo
Grande Marcos. Ajuda as pessoas como Filósofo e Médico da alma,através da Theosofia junto com sua maravilhosa Bertha. Também cidadão exemplar em sua dedicação por Ribeirão e disseminador da Cultura como Presidente da ARL. É uma honrafazer parte de seu círculo de amigos.