Esta história é parte do especial sobre o aniversário dos times Comercial e Botafogo de Ribeirão Preto.
O avô estava se arrumando para sair quando foi abordado pela pergunta curiosa do menino: “Aonde você vai?”. Respondeu que ia a uma reunião. E convidou David, que aceitou de pronto a ir junto.
O menino, 4 anos, não poderia supor que aquela reunião era feita em campo, com um tantão de gente ansiosa gritando gol. O avô lhe apresentou o Comercial, lhe comprou uma camisa e entregou ao menino, como herança, uma paixão.
– Desde então, eu nunca mais desgrudei do time.
O avô faleceu oito anos depois. E David, que tinha nele uma figura de pai, encontrou no campo seu refúgio.
– Estar no Comercial é uma forma de estar em contato com meu avô. É um valor que ele me deixou e eu carrego até hoje.
Vai ver por toda essa história, David Isaac fala de futebol escolhendo palavras sérias e sem qualquer piada ou provocação ao adversário em uma hora de entrevista.
– Eu brinco com tudo na vida. Sou conhecido por brincar exageradamente. Mas, com futebol, não. Futebol é uma coisa que eu levo muito a sério.
Desde 2007, ele participa do conselho do comercial. De 2012 até este ano como presidente e, agora, está na vice-presidência.
Entende que ser torcedor é mais que gritar gol e se enfurecer com o passe errado do centroavante nos 90 minutos da partida.
– O jogo é o objeto social do clube. Mas é preciso toda uma estruturação, que vem desde a categoria de base. Nelson Rodrigues tinha uma frase que dizia: ‘Nem a morte pode eximir o torcedor do seu dever clubístico’.
David não assiste aos jogos sem um potinho com amendoim daqueles com casca grossa. Vai descascando os grãos e acalmando o coração.
Quando percebeu que a pressão estava alta, soube logo qual médico buscar.
– Eu pensei: vou procurar um médico comercialino, que vai compreender meu problema.
Antes do jogo, ele toma um remédio e prepara os amendoins que diz serem “tranquilizantes”.
Mostra a foto do filho, que hoje tem três anos, saindo da maternidade. A primeira roupinha que vestiu foi um macacão branco e preto com o aviso: “Ufa, que bom que nasci comercialino”. Com três meses de vida, o pequeno foi com o pai ao estádio. Mas David diz que não há pressão:
– Não quero forçar. É natural. Se ele aprender a gostar como eu aprendi, vou ficar muito feliz.
No último dia 10, o Comercial comemorou 106 anos. David não esconde que o clube passa por uma crise.
Por outro lado, continua a bradar a importância do principal rival do Botafogo. Times que dividem ribeirão-pretanos – até da mesma família.
– Enquanto os rivais se felicitarem com nossas derrotas, estaremos sendo um grande clube. No instante em que formos indiferentes é porque nos tornamos um time de menor grandeza.
Quando fala da importância dos times para a cidade, faz uma lista que vai da geração de emprego as questões culturais.
– São times centenários. Que levam o nome da cidade há 100 anos. O Comercial tem o nome de Ribeirão no seu próprio distintivo.
Bem por isso, para ele, futebol é coisa séria. E torcer é fazer parte.
– Não tô querendo fazer cobrança. Tô levando meu espírito. Mais que o sacrifício de ir ao jogo, é preciso o sacrifício de manutenção do clube. É diário. A maior loucura que se pode fazer pelo time é, muitas vezes, abdicar da vida pessoal e profissional em prol do que precisa ser feito.
O avô estava se arrumando para sair quando foi abordado pela pergunta curiosa do menino. Desde então, o coração – e a saudade – de David é gravado em branco e preto.
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Adorei, sobrinho!
E me emocionei…pq lembrei de uma das poucas vezes que ele me levou ao campo…ou teria sido a única vez???