Leôncio é o último ‘irmão bombom’ nas ruas de Ribeirão

13 setembro 2019 | Parte da gente

Esta história foi narrada pela jornalista Daniela Penha. Para ouvi-la, é só clicar no play:

 

Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez no dia 10 de abril!

 

O som ecoa no meio da rua e avisa: aí vem o pipoqueiro!

O repertório é eclético, mas na hora de estourar os grãos, ele prefere música temática.

– Pipoca, ah! Cheiro de pipoca tá rolando no ar! Pipoca, uôba!

Vai cantando e dançando, para garantir que o milho se transforme em pipocas soltinhas e crocantes.

Quando chega ao fim, o cheiro exala aos quatro ventos e quem passa já nem ouve a música, hipnotizado pelo perfume de pipoca quentinha.

Há 10 anos, Leôncio José do Nascimento, 41, é pipoqueiro no Centro de Ribeirão Preto. O trabalho nas ruas começou bem antes, porém.

Leôncio é nome que quase ninguém conhece. “Irmãos Bombom” é quase impossível ribeirão-pretano não conhecer.

O pipoqueiro é um dos três irmãos que cativaram gente de todas as idades vendendo doce e distribuindo bom humor.

– A gente se fantasiava de loira do Tchan, Batman e Robin, caipira, Rosa e Rosinha, Papai Noel dançando malha funk. Passamos até na televisão! Todo mundo conhecia!

O “Bala, bala, bala chiiiiiiiiclete” virou jargão e era quase impossível resistir à propaganda.

– A gente brincava: “13 bombons por um real e ainda leva um potinho para dar comida pro passarinho”. Era barato mesmo! E Vendia!

Josafá, Leonardo e Leôncio, os Irmãos Bombom, que vieram da Bahia sem qualquer rumo, viraram parte do cenário ribeirão-pretano. Leôncio continua levando alegria pelas ruas.

Paripiranga: cidade do interior da Bahia, próxima a Feira de Santana, que hoje soma 29.980 habitantes, nas estimativas do IBGE.

Quando Leôncio deixou sua terra, acompanhado dos irmãos, não sabia o que iria encontrar. Conta que escolheu Ribeirão Preto por indicação de um primo, que tinha vindo tentar a vida por aqui.

Estudar era sonho distante na pequena cidadezinha, que era só roça na época.

A chegada foi conturbada.

– Não arrumava emprego de jeito nenhum, irmã. Porque eu não tinha estudo.

Começou a vender linha de máquina nas ruas, junto com os irmãos. Logo, passaram para água, bombom, doces.

O trabalho informal foi a única porta aberta que Leôncio encontrou. E desse caminho nunca mais saiu.

 – Para trabalhar na rua tem que estar sempre alegre, sempre sorrindo, nunca de cara feia.

Leôncio desempenha o papel com maestria!

Os irmãos levaram o humor para as vendas na época do “É o Tchan”. O grupo de axé lançou a música “Bambolê” e eles correram em São Paulo comprar brinquedos para vender.

– Mas para vender, tinha que rebolar. Aprender a usar o bambolê. E a gente rebolava!

O próximo passo foi comprar a fantasia de loira do Tchan e pronto: estava criada a nova forma de conquistar clientes.

Não tinham nome, porém. Leôncio conta que a ideia veio de um menino que morava na rua.

– A gente vendia muito bombom na época e ele chamava a gente assim: ‘Ô, bombom!”.

Pegou. E ficou.

– Se falar que é Irmãos Bombom todo mundo sabe!

Hoje, Leôncio é o último dos irmãos nas vendas de rua. Diz que os outros dois estão na Bahia, sem data para voltar.  Por enquanto, não pensa em seguir o mesmo caminho.

– Só Deus sabe até quando eu vou continuar. Eu gosto!

Leôncio chega ao Calçadão de Ribeirão por volta das 14h. Às 19h, caminha pela rua São Sebastião, para em frente a uma faculdade e fica até às 21h.

Não é um pipoqueiro comum. Com tanta bagagem artística, nem conseguiria ser.

O carrinho de pipocas é todo adaptado: caixas de som, rádio que toca até pen drive, luzes para todo lado. Até uma televisão ele já instalou ali.

– Tem que ter o diferencial no atendimento.

Atende cantando, dançando e fazendo piada.

A menina pede uma pipoca, Leôncio pega um único grão com a mão e lhe entrega.

– Ueh, você não pediu uma pipoca? Eu dei!

O riso é geral.

Conta que com as vendas nas ruas conquistou casa e carro próprio, construiu família.

– Mas não são só as vendas. É a forma de vender.

Sabe bem qual é o seu diferencial.

Vende, em média, 40 sacos de pipoca por dia.

E come outros tantos.

– Eu adoro pipoca! Como tanto que à noite fico até sonhando com ela!

Sabe vender seu peixe. No caso, sua pipoca!

Se diz realizado. Feliz com o caminho que se abriu. Mas não esquece sua terra.

– Um dia, a gente quer ir de volta. Morar lá de novo. Só não sei quando.

O som ecoa no meio da rua e avisa: aí vai o pipoqueiro, com seu carrinho iluminado.

 

 

*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/

 

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3 Comentários

  1. Dalila santos

    Esse homem merece nosso respeito muito humilde e engraçado ele é um exemplo de pessoa

  2. Cláudia Regina Brito da Silva

    Eu era mocinha, eles vendiam bombom no terminal de ônibus onde hoje é o CPC ao lado do mercadão! Era Josafá e Leôncio!
    Saia cansada do trabalho, mas quando Me reparava com eles dizendo: quem quer bombo olha o bombo kkkkk eu esquecia todo meu estresse e mergulhava em risos mas não ficava Por ai somente, comprava o famoso bombo.
    Eles são Abençoados por Deus para nos levar alegria
    É disso k o mundo precisa, alegria verdadeira porque de falsidade estamos cheios…
    As vezes entro em uma loja e dependendo da forma k sou atendida não compro e sou assim mesmo…mesmok eu preciso de tal produto, acabo pagando um preço fora da promoção, mas pelo menos sei que o que estou comprando vou ficar satisfeita!!!
    As vendas depende de nós mesmo
    Ter EMPATIA é o segredo do sucesso
    E os irmãos bombom tem de sobra..

  3. Vivjane

    Muito carinhoso, faz tudo com amor
    Parabéns!!
    Deus abençoe vc sempre??

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