Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 14 de dezembro de 2017!
Esta história foi narrada por Antônio Carlos Coelho, conhecido como “a voz da Feira do Livro de Ribeirão”. Clique no play para ouvi-la:
Há 38 anos, Sílvio é um dos caras mais esperados de Ribeirão Preto.
“Chegou?”, “Estava contando os dias!”, “Não aguentava mais esperar!”, são algumas das saudações que mais recebe, quando se aproxima do portão com seu uniforme amarelo e azul.
O motivo poderia ser o sorriso fácil, o bom humor sempre na ponta da língua, o jeito de tratar como amigo alguém que acabou de conhecer (eu, no caso).
Tudo isso seria motivo. Mas tanta espera tem um quê a mais.
Há 38 anos, Sílvio trabalha para os Correios, responsável por levar às casas a tão esperada entrega.
– O que me deixa feliz é o contato com as pessoas. Ver que o meu trabalho é reconhecido, porque as pessoas me esperam!
Ele entrou em 1979, no setor de cartas, quando todo o processo de entregas era manual. Conta que as correspondências eram todas separadas manualmente por endereço e organizadas pelo carteiro de acordo com a ordem de entrega.
Chegava a entregar 800 cartas por dia, percorrendo até 30 quilômetros de bicicleta.
Há cerca de 15, 20 anos, quando começaram os serviços do Sedex 10, ele foi escalado para compor a equipe.
– Eles escolheram os funcionários mais antigos, na época.
Hoje, o gerente confirma que Sílvio é o funcionário mais antigo do setor de encomendas em toda Ribeirão Preto.
– É uma vida!
Sílvio conta que na adolescência sua paixão mesmo era jogar bola.
Começou a trabalhar em uma sorveteria com 13, 14 anos e aos 16 entrou no time do Comercial. Ficou até os 19, 20 anos, alimentando o sonho de sair a jogar por aí.
A realidade logo o chamou, porém. Soube que os Correios estavam com concurso aberto e, depois que passou, decidiu deixar o futebol e se dedicar ao trabalho.
Terminou o Ensino Médio e tinha vontade de fazer faculdade. Mas o casamento veio logo aos 23 anos e não demorou a vir os três filhos.
– Quando eu me dei conta, estava tarde. Me acomodei aqui. Até porque, sempre gostei do trabalho.
Passou a vida a entregar as esperadas encomendas cidade afora.
Diz que já esteve por todas as áreas de Ribeirão. Há quatro anos, é responsável por sete ruas do Centro: da Visconde de Inhaúma até a avenida Jerônimo Gonçalves.
Faz, em média, 120 entregas por dia. Mas hoje usa a perua, que carrega encomendas de todo tipo.
Já chegou a entregar até vestido de noiva! E não foi uma única vez.
– Tem vara de pescar, roupa, sapato. Outro dia veio um secador de unha. Eu nunca tinha visto aquilo! O pessoal compra de tudo na internet!
Confessa que também faz seus pedidos. Meias da China – dá a dica – são uma ótima pedida por um bom preço!
Entre todos os bairros pelos quais já passou em quase quatro décadas de Correios, o Alto da Boa Vista tem lugar especial no coração amarelo e azul.
– Por lá tinha muito calor humano!
Sílvio sente saudade do “tempo de antigamente”, quando era recebido nas casas com almoço, bolo, café da tarde e, principalmente, carinho.
A correria de hoje diminuiu o “bom dia” e o contato. Sem falar nas mudanças de encomendas. Em época de Natal, ele perdia as contas do número de cartões que entregava.
– Tinha uma família que recebia cartas do filho a cada 15 dias. Eles me esperavam na porta. Eu participava da vida deles. Me tornava parte da família.
Mudou tudo. Só a espera continua igual.
– Imagine uma noiva que espera a entrega do vestido? Elas ficam muito ansiosas! Esperado eu sou sempre!
Solta uma risada gostosa.
Há quatro anos, Sílvio se aposentou. Continuou trabalhando, porém. Agora, aos 58, faz planos de parar no ano que vem. Diz que quer fazer uma coisa “mais light” e aproveitar a merecida aposentadoria.
– As pessoas estão sempre me dizendo: ‘Nos Correios eu posso confiar’, ‘Tem alguma coisa que funciona nesse país’. Eu me sinto respeitado, valorizado. Eu me dediquei.
Parte com a certeza de que cumpriu mais que bem sua função.
O carteiro chegou?
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Que história bacana! Mostra bem como a sociedade vem mudando e o quanto os Correios são fundamentais no dia a dia da população brasileira.