Colecionador e DJ, Freddy tem mais de 10 mil discos e CDS além de outras muitas peças

19 dezembro 2019 | Histórias do Proac 2019/2020

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São mais de 10 mil vinis e CDs que se misturam principalmente entre rock, jazz, soul e música brasileira dos anos 70. Algumas muitas raridades e discos autografados. Essa é a coleção que mais se destaca, claro. Mas quem entra na casa de Frederico Batista corre o risco de se perder entre as muitas outras coleções bem expostas em estantes, paredes e outros artefatos.

Na mesa de centro da sala de música, por exemplo, estão os ingressos das centenas de shows que ele já assistiu. De BB King à Titãs: a variedade de artistas é tão grande quanto as datas. Tem tickets da década de 80 e outros de meses atrás.

Em outra sala, o espaço cinema. Dezenas de pequenos bonecos de Star Wars de um lado e outros maiores de outro, na temática dos vilões: Falcon, Drácula, Zé do Caixão. Nas paredes, pôsteres de filmes aclamados e outros queridos por um público bem seleto. O terror é seu estilo preferido, fica evidente.

Nos outros cômodos da casa, estão miniaturas de motos, copos de cerveja, tampinhas, moedas e mais.

– Eu sou um colecionador. Gosto de ter as coisas. Eu gosto das coisas que têm alma, feitas com carinho, energia.

Entre uma coisa e outra, Freddy – em parceria com a esposa – construiu uma casa inteira com alma. Uma história feita de energia. Tanto que é difícil encontrar um único enquadramento.

Ele já foi tema de reportagens pelo seu perfil roqueiro, no Dia do Rock. Também já estampou jornais como organizador da primeira feira de discos de Ribeirão Preto. E haveria outros muitos destaques possíveis para o consultor financeiro apaixonado por música boa, que é DJ, produz cerveja artesanal, lança bandas na garagem de casa, vai ao cinema toda semana e coleciona todo tipo de objeto “com alma” que encontra pelo caminho.

Alguma coisa ficou para trás em minha lista, certamente.

Ele vai contando, devagar. Degustando cada parte da história como a uma boa música. Em alguns momentos para, mostra um disco, um CD ou outro objeto. Explica a obra de um grande artista, ensina sobre a história do vinil, vai compondo um enredo quase musical. Entre suas tantas coleções, está também a de boas histórias.

– Tudo tem um propósito. Me sinto bem em ter contato físico com as coisas. É uma personalidade mesmo.

DJ Freddy Ribeirão Preto

Freddy diz que sempre foi “o lado B” nas escolhas. Se os amigos estavam ouvindo Legião Urbana, ele preferia Titãs.

– O lado B de um disco é sempre mais obscuro. São as músicas não comerciais, que não foram feitas para o rádio, a mídia. Quantas músicas estão escondidas no final dos discos!

Metáfora para a vida? Quem sabe!

Ele nasceu em Sacramento, Minas Gerais, em 1974. Geração crescida em meio aos anos 80.

– Foi a pior e a melhor época de todas. A gente tinha liberdade, tudo podia, era fácil. Mas tinha muito lixo. Programas para criança que tocavam tudo menos música de criança, luta pela audiência. Foi a década mais trash. Mas é a década que me transformou. Sou o que sou pelos anos 80.

Ganhou seu primeiro disco de rock aos 13 anos, em 1987. Camisa de Vênus, álbum “Correndo Risco”, vinil que integra sua coleção, com lugar de destaque.

– Foi como se meus horizontes estivessem se abrindo. Você começa a entender o que está fazendo no mundo. Rock atitude, personalidade.

DJ Freddy Ribeirão Preto

Quando tinha lançamento de disco novo, pegava carona na estrada até Uberaba para ir à loja comprar. A mãe nem sonhava!

No rádio, ficava atento esperando tocar a música favorita, para apertar o “rec” e gravar a fita. Quando ainda nem se nomeava assim, já era escalado como DJ nas festinhas. Levava as fitas gravadas e animava os bailinhos. Começou também nessa época sua paixão por quadrinhos – que também ganharam uma coleção.

Em 1990, aos 15 anos, se mudou para Ribeirão Preto. Sozinho.

Os pais decidiram que era hora de trabalhar.

– Eu estava adolescente, rebelde, meio incontrolável. Eles me mandaram para cá.

Passou a morar com alguns parentes e a trabalhar em banco. Estudava a noite e todo dinheiro que sobrava do pagamento das despesas ia para a compra de discos, CDs, quadrinhos. Passou a frequentar lojas e feiras em São Paulo.

– Meus amigos estavam se preparando para faculdades federais, Medicina, e eu só queria curtir a vida. No final do ano eu tinha todos os discos lançados. As bandas lançavam sempre em dezembro e eu gastava todo meu 13º em vinil!

Mesmo quando a fabricação de discos parou, por volta de 1995, ele continuou comprando, em lojas de São Paulo. Viu muitos amigos se desfazerem de coleções, mas continuou com a sua.

– Eu achei muito vinil em caçamba! Discos novinhos, na embalagem, inclusive!

Fez carreira no banco, onde conta que podia, no máximo, usar uma costeleta, em contraponto ao visual barbudo que exibe hoje. Se formou em Administração de Empresas e ficou por 19 anos na mesma instituição bancária, onde chegou ao cargo de gerente.

Saiu em 2009, quando a vontade de deixar a barba crescer falou mais alto. Metáforas à parte: já não tinha interesse em continuar. Abriu sua própria empresa, de consultoria financeira, ajudando outras empresas a escaparem das “garras dos bancos”, como diz.

DJ Freddy Ribeirão Preto

A vida paralela nunca deixou de pulsar: discos, cinema, coleções e, desde 1994, a discotecagem. Começou na festa de confraternização dos amigos de Minas Gerais. Colecionando, já tinha boa parte dos equipamentos que precisava. Foi pegando um evento aqui, outro ali e hoje faz festas para milhares de pessoas, levando rock clássico, soul e música brasileira dos anos 70 para ouvidos diversos que, na maior parte do tempo, se encantam com o que ouvem.

– Muitas pessoas já ouviram a música, mas não se interessaram em saber de quem era. Quando toca, remete àquele prazer e elas querem saber mais. Fora que muita gente não conhece os clássicos e passa a conhecer.

O clássico não erra, ele diz:

– Tem o mérito de ter influenciado todo mundo!

O rock?

– Me define, né? É atitude, personalidade e não aceitar o sistema.  Eu prezo mesmo pela liberdade. Cada um faz o que quiser da vida.

Enquanto muita gente trocava os discos pelos CDs, depois pelos pen-drives e, agora, pelas plataformas digitais, Freddy persistia no lado B. Quando os discos começaram a voltar, por volta de cinco anos atrás, ele estava munido de informações e repertório.

Frequentava feiras de vinil em São Paulo e sonhava em fazer algo parecido em Ribeirão. Realizou em 2015, com expositores do estado todo – e até de fora – e mais de dois mil visitantes.

“O disco ainda pulsa”, reinventou Titãs e não parou. Continua ainda hoje organizando feiras pela cidade. Nos eventos, faz a discotecagem e também vende discos. Repetidos, claro. Do contrário, vão para a coleção.

DJ Freddy Ribeirão Preto

Entre as paixões, comprou uma moto Harley Davidson e conta que foi um dos criadores do grupo de motoqueiros de Ribeirão.

Agora, está produzindo cervejas artesanais. A varanda de casa foi transformada em um espaço de eventos, onde lança bandas, reúne amigos, vende suas produções.

A grande vontade é viver de música. Trocar, de vez, os números pelos acordes.

Já tem nome e logo para a loja de discos que pretende abrir: Dylan Discos. Homenagem a um de seus ídolos, que também deu nome a um de seus cachorros, rosto escolhido para estampar a logo. O plano é abrir as portas no ano que vem.

Até lá, não vão faltar projetos, discotecagens, shows, feiras: energias! Ele faz questão de contar que a esposa, com quem tem história desde a infância, é a companheira de percurso. Sonha acompanhado, então.

Começaram a namorar no dia do rock: 13 de julho. Freddy nasceu em 8 de janeiro, dividindo a data com Elvis Presley, outro ídolo. Motivos para continuar acreditando que “tudo tem um propósito” e somando peças à coleção das boas histórias, guardada na memória, estante impalpável, mas também cheia de alma.

Na casa de Freddy, como só poderia ser, objetos de caveira se multiplicam. Ele também usa um anel com uma delas. Ao final, explica o simbolismo do objeto. Está bem além do terror, bem além da superfície.

 – Ela mostra que todos somos iguais e que daqui ninguém leva nada.

Ali, tudo bem um motivo para estar.

 

*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/

 

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