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Esta história foi narrada pelos integrantes do projeto Doadores de Voz, dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unaerp!
Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 13 de março de 2019!
Juliana saía da aula de ballet quando escutou um som diferente.
A canção brasileira ao fundo ganhava reforço no ritmo. Ta, ta, tatata. Ta, ta, tata!
Se encantou assim, ao primeiro ouvir. Descobriu que aquela música nova era feita com saltos batendo no chão. Dança com percussão. Sapateado!
– Eu fiquei encantada com a possibilidade de fazer acompanhamento para a música.
Tinha oito anos. Hoje, aos 39 e carreira extensa como sapateadora, sabe que amor de verdade é assim: dura a vida toda.
No ano seguinte, ela entrou para as aulas de sapateado. Aos 15 anos, foi convidada para dar aulas. Somou prêmios e apresentações. Dançou por todo Brasil e integrou grandes companhias nos EUA. A lista de conquistas tem dezenas de itens. E continua a crescer.
– Faz exatamente 30 anos que eu sapateio! Eu acredito muito no poder da música, do ritmo. A música chega em um lugar que as palavras não alcançam. A gente conversa o tempo todo sem falar.
Juliana Garcia nasceu e cresceu em Ribeirão Preto. Foi aqui que começou a dançar, se aperfeiçoou, conquistou o sonho de ter sua própria escola.
Depois daquele primeiro encantamento com o sapateado, passou a fazer aulas e, mais que frequentá-las, passava o dia todo na academia. Só não estava dançando quando estava na escola. O empenho trouxe frutos. Quando sua professora decidiu se mudar para São Paulo, escolheu a aluna mais dedicada para assumir as aulas.
Tinha apenas 15 anos. E aceitou o desafio. Como não havia outra professora de sapateado em Ribeirão, viajava para o Rio de Janeiro nas férias para continuar se aperfeiçoando.
– Eu não conseguiria assumir as aulas sem fazer aulas.
Conta que, na época, um bom conteúdo não estava à distância de um clique no Youtube. Era preciso gravar vídeos cassetes, emprestar, buscar bom material para aprender.
Nas estadias pelo Rio, pôde conhecer grandes sapateadores e ampliar o conhecimento. Começou a participar de festivais. E a somar prêmios, sem deixar as aulas, porém.
Em 2006, com 27 anos, a dona da escola onde era professora decidiu fechar as portas. Foi o impulso que Juliana precisava para realizar o sonho.
Abriu sua própria escola: “Juliana Garcia Studio de Sapateado” e organizou um espetáculo só com sapateado, colocando dezenas de alunos no palco.
Trouxe grandes dançarinos norte-americanos para dar aulas em Ribeirão Preto, ganhou festivais e abriu novas portas.
– O sapateado está em mim e estou no sapateado.
Em 2009, foi para Chicago realizar um curso e recebeu um convite para integrar a Chicago Tap Theatre, sob direção de Mark Yonally.
A decisão não foi fácil. Mas dançar nos EUA também era um grande sonho.
– Eu encaminhei os alunos para outra escola, larguei tudo e fui.
Em Chicago, integrou também a Madd Rhythms, sob a direção de Brill Barret. Ficou seis meses por lá, aprendendo e crescendo.
– A princípio, eu me encantei pelo sapateado pelo som, pelo ritmo. Mas ele se instaurou na minha vida pelas amizades, pelas boas experiências, pelos momentos.
Voltou para Ribeirão e foi tempo de recomeçar.
Mesmo com tanta dedicação à dança, Juliana encontrou tempo para somar formações em outras áreas. Se graduou em Psicologia em 2001 – que também era uma vontade de menina – mas acabou não atuando na área. Quando voltou dos EUA, decidiu, então, se dedicar a essa parte de si. Fez Psicopedagogia, começou a ter contanto com crianças com deficiência e descobriu uma outra paixão.
– Eu me sinto chamada a trabalhar com esse público. As aulas são sempre juntas e misturadas.
Hoje, então, divide a rotina entre a dança e a sala de aula, ensinando a dançar, ensinando inglês em uma escola, participando como jurada de festivais, compartilhando sua experiência em encontros e workshops.
As turmas de sapateado têm alunos de todo tipo. Às quintas-feiras, dá aulas para adultos. O aprendizado está além do dançar.
– No sapateado, cada um é o que quer ser. É democrático. Não tem sexo, altura, idade. A dança agrega, abraça, acolhe.
Trabalhando com tudo o que escolheu amar, se sente completa.
– Eu me sinto realizadíssima. Minha missão é ensinar. E está além do sapateado. É ensinar a respeitar o outro, levar para as pessoas algo de bom e fazer com que esse algo fique.
O segredo do sapateado?
– É querer! Ter vontade!
Juliana teve certeza de que iria dançar para o resto da vida aos 14 anos, na apresentação de final do ano na academia. Seu pai estava desempregado e ela teve que escolher uma única dança para apresentar, já que os figurinos eram caros.
– Eu dancei com tanta energia! Curti tanto! Me realizei naquele momento! E, então, soube que era isso que eu queria fazer da vida.
No ano seguinte, com as contas ajustadas, apresentou oito danças (!).
Dançar, ela entendeu ali, é entrega. Em uma única música ou pela vida toda.
Fotos: Rose Franco Fotografia
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