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Esta história foi narrada pelos integrantes do projeto Doadores de Voz, dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unaerp.
Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 2 de maio de 2018!
Simone tem a energia boa de bossa nova na manhã de domingo.
Vai ver porque ela é toda música e não sabe mais os limites entre corpo e acorde.
Vai ver porque nasceu no dia do aniversário de Ribeirão Preto e cresceu achando que o desfile da fanfarra, com todo aquele som animado, era uma celebração particular. Os pais a levavam para assistir e diziam que a festa era para ela.
Também aprendeu com os pais a celebrar a vida em reuniões entre amigos regadas a boa música e serenata pela madrugada, na janela dos convidados faltosos.
Cresceu certa de que a vida é feita de comemorações, música, amigos reunidos, casa decorada com mimos, discos e amor.
Nasceu perto do Bar do Chorinho. Guardava o dinheiro que o pai dava para chegar dali até o Centro para comprar discos.
A cada três vezes que fazia o percurso a pé, podia ir à loja e comprar o álbum que mais gostasse. Começou aí a somar peças à coleção que hoje, ela estima, ultrapassa 500 discos e 500 CDS.
Quando a mãe faleceu, Simone tinha 12 anos. Há um período de silêncio no seu relato. Que só é quebrado pela lembrança do primeiro aparelho de som que o pai comprou para a família, três anos depois. Diz que ainda hoje o objeto funciona em pleno volume.
Aos 18 anos, ela prestou concurso e entrou para Justiça do Trabalho. Com a morte da mãe, as coisas ficaram apertadas em casa e era preciso ajudar. Está na mesma instituição até hoje. O que, quando ela conta, causa um estranhamento. Tanta leveza em ambiente tão sério?
Não é de se estranhar, porém, que, já adulta, ela tenha passado a integrar um coletivo de DJs que leva música alternativa para as festas de Ribeirão. Mais que isso: passou a discotecar, compartilhando com o público o repertório vasto que coleciona em casa e na mente.
Há 11 anos, Simone Duboc é uma das integrantes e organizadoras do Tutu. Conclui e nos faz entender a rotina que se divide entre festas e repartição pública.
– Se a minha vida fosse um disco, o Tutu seria o lado B. O trabalho, a rotina normal seriam o lado A. Mas, no lado B, teria o Tutu e tudo o que ele representa.
Viva os múltiplos lados!
Essa entrevista ocorreu com trilha sonora. No som, música brasileira diversa e aconchegante.
Simone, ribeirão-pretana de nascimento e data, teve na família a inspiração de música, teatro, visão sobre o mundo.
A mãe era professora de português e linguística e o pai era político. A irmã dela seguiu a carreira artística. E Simone dividiu os dias em lado A e lado B.
– A música sempre foi muito pungente, presente.
Curtiu MPB na infância, foi do rock na adolescência, apresentada ao jazz por uma amiga já adulta. Hoje, mistura tudo e tem uma opinião bem democrática sobre o que cada um escolhe ouvir:
– A música é o reflexo de onde você está. Ela representa um meio. O funk que as pessoas criticam tanto representa uma comunidade.
No Tutu, ela consegue compartilhar o que mais gosta e conquistar novos ouvintes.
– O público jovem é bem representativo. É muito bom mostrar para o pessoal o tanto de música boa que tem para ser descoberta!
O Tutu surgiu como reunião de amigos. Por volta de 2005. Simone fazia festas na sua casa, “Avisa a vizinha”: literalmente. E reunia amigos a fim de ouvir boa música.
Ao mesmo tempo, começavam a surgiu as festas do Tutu, no mesmo formato. Uniram, então, os públicos e Simone passou a fazer parte das festas do Tutu.
– A gente ia se divertir!
Em uma das festas, ela levou a câmera e fotografou. O pessoal gostou e lhe convidou para fotografar sempre. Não demoraram a perceber, entretanto, que ela tinha mais a oferecer.
– Seis meses depois, eles me chamaram para discotecar na abertura de uma festa no Cauim. Eu fui, mas foi uma loucura!
Até então, ela só sabia sobre escolher o repertório e colocar no toca discos de casa, para animar a festa com os amigos. Passou a compartilhar o que ama em maior escala.
– A técnica é diferente. Mas o intuito é o mesmo do que eu já fazia em casa! Me animei porque pensava: arrumei alguma coisa para fazer com aqueles discos!
Se animou e fez do Tutu parte de si. A ideia foi crescendo, se transformando. Chegaram a ter 12 integrantes e a fazer mais de duas festas por mês. Hoje, estão em quatro e fazem, pelo menos, um evento mensal. Tocam, em muitas situações, pelo amor de tocar.
E nesses anos todos, veem as gerações se transformar.
– Nós decidimos fazer o “Tutuzinho” para crianças porque muitas das pessoas que iam às festas hoje tem filhos pequenos. Mas há pessoas também que já vão às festas com os filhos crescidos.
As músicas que integram o repertório do Tutu são, de maneira geral, de um universo alternativo. Canções antigas, artistas novos, muita MPB, black, jazz. A regra é que os DJs tenham a curiosidade de buscar.
– Todo mundo que já passou ou está no Tutu tem um denominador comum que é a pesquisa musical. Parar para ouvir música!
Simone diz que não passa um único dia sem música.
Avisa que há diferença, porém, entre curtir uma música enquanto prepara o café pela manhã e estudar.
– Eu paro para ouvir música. Paro mesmo. E fico só ouvindo.
No misto de lado A e B, contagia o pessoal do trabalho na Justiça e chega a levá-los para as festas.
– A intenção é fazer uma festa muito legal onde, em primeiro lugar, a gente se divirta e vocês também. Que possam conhecer coisas novas!
Enquanto tá tocando, precisa manter os pés no chão para não se dissipar com os acordes.
– Uma vez, eu estava tão envolvida com a música que só percebi quando acabou. Não pode, né? Agora não faço mais isso!
Diz que, vez que outra, entra em crises (como todos nós). E decide que vai parar com “esse negócio de discotecar”.
– Daí, eu falo que vou ficar curtindo a música do meu jeito, sento para escutar uma música e, quando vejo, já tô conhecendo um monte de coisas novas e pensando no que vou compartilhar.
Uma das festas que mais marcou foi o aniversário de uma senhora de 100 anos. Simone foi chamada para discotecar pelo repertório tão múltiplo que passou a vida a colecionar.
– Eu fiquei emocionada. Legal saber que eu tenho o conhecimento de Ataulfo, Silvio Caldas, Nelson, Adoniram. E poder compartilhar o que eu ouvia com meus pais, meus tios.
O plano para o futuro é aprimorar a técnica de DJ para poder dividir com adolescentes em busca de um norte para a vida.
– É um caminho para quem está perdido.
Tem certeza de que, aconteça o que for, a música sempre estará presente nos dois lados do disco da vida.
– Mesmo que eu fique surda, vou continuar sentindo a batida.
No dia 19 de junho, Ribeirão Preto completa 162 anos. Simone comemora 50.
– Eu acho que vou fazer um Tutu!
Já sabe que a fanfarra não toca para ela. Mas também já aprendeu que há sempre um disco tocando para quem quer festejar!
*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/
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