A paixão de Lucas

14 abril 2017 | Gente que inspira

Hoje não é um dia como todos os outros para Lucas. Ao abrir os olhos, ele já começa a preparação do grande momento. Passa o dia em oração, o mais quieto que conseguir.

Lucas é Jesus crucificado na noite dessa sexta-feira santa. O papel que interpreta hoje não é como todos os outros para ele. Por isso, a intensa concentração.

São seis anos representando o Cristo na Caminhada do Calvário da Paróquia São Mateus Apostolo. A experiência com as falas não torna mais simples o atuar, entretanto.

– Mesmo as pessoas de fora da igreja conhecem Jesus Cristo, sabem quem ele foi. Conseguir trazer tudo isso para o personagem é uma missão muito difícil.

Tão difícil quanto segurar a emoção que, Lucas diz, se repete a cada encenação.

– Esse é o lado mais bonito. Se você não é tocado pelo que está fazendo, não vai conseguir passar emoção para as pessoas. Eu me emociono sempre.

Aos 22 anos, Lucas dá vida ao homem que, para quem tem fé, nunca morreu.

Lucas, a arte e a religião desenham um tripé. O jovem conta que descobriu na igreja o teatro, a música e o cinema: suas paixões. Foi ao se encantar pela arte, porém, que a paróquia se tornou reduto, segunda casa.

Sua família se mudou de Alagoas para Ribeirão Preto há 19 anos e pousou no bairro Quintino Facci. Lucas e os três irmãos cresceram por ali. Iam à missa na paróquia do bairro, São Mateus Apostolo, e um dia Lucas foi convidado a participar de uma peça de teatro.

Na primeira caminhada do Calvário que participou, 13 anos atrás, interpretou um judeu, como figurante. No primeiro convite para ser Jesus, aceitou entre olhares tortos.

– Eu tinha 16 anos, era bem novo. A pessoas duvidam do que a gente é capaz. Mas eu consegui responder às minhas expectativas. Não só às expectativas das pessoas que confiaram em mim, mas às minhas próprias.

No ano passado, cerca de quatro mil pessoas assistiram à encenação da paixão de Cristo na praça São Mateus, no Quintino Facci I. A expectativa é de repetir o público neste ano.

– Acho que eu nunca tinha visto tanta gente junta!

Lucas continua se superando.

 

O suspiro final quando, depois de toda a dor, Jesus descansa. Eis a parte que mais emociona Lucas em duas horas de encenação.

– É a hora em que a gente vê que não tem mais saída. Está tudo consumado.

A cena que mais exige do jovem ator é a oração no jardim, em que Jesus já sabe de todo o tormento que lhe espera e permanece firme.

– Nessa cena nós ficamos esgotados. Porque Ele se entrega a tudo que vai acontecer.

Lucas se preparou para o papel lendo o evangelho. Entende que ali  – mais que em qualquer filme – está o verdadeiro Jesus a ser interpretado. Encontrou descrições e encantamento.

– O contato dele com as pessoas é o que me toca mais. Ele não era intocável. Era amigo, companheiro.

No palco Lucas se sente Jesus?

A resposta vem cheia de humildade – como já era de se esperar.

– Quando eu entro em cena, esqueço quem eu sou, esqueço tudo em volta e entro no personagem. Mas não me sinto Jesus. Jesus é grandioso demais para mim.

Lucas começou os ensaios para a encenação em fevereiro.

Desde então, viu a rotina remexer. Perdeu o emprego como operador de máquinas em uma fábrica de pneus e descobriu que vai ser pai. A esposa está grávida.

– Era um sonho meu e dela. A vida pessoal está feliz.

O jovem, formado há dois anos em Audiovisual, sonha em ser cineasta. Difundir por aí a arte que tanto lhe encanta.

Fora dos palcos, é tímido. Vai à entrevista acompanhado da irmã mais nova, que está o tempo todo a dar carinho.

No domingo, vão comemorar a Páscoa em família, como costuma ser.

– A Páscoa é o renascimento da nossa fé. A quaresma é um momento de reflexão.

Hoje não é um dia como todos os outros para Lucas…

Já se sabe o porquê.

 

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