Adoção: Vitória é a ‘maior história’ de Dalva

25 fevereiro 2020 | Gente que inspira

Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 3 de março de 2017! 

 

A história de Dalva é a história de Vitória e vice-versa. Tanto uma quanto a outra tem muita coisa a contar, mas é sobre o elo que mais contam. Talvez porque seja a “maior história da mãe”, como Dalva diz. Talvez porque seja o momento em que a vida da filha tomou caminho decisivo. É sobre amor de mãe e filha, que não precisa de sangue, dinheiro ou qualquer futilidade, que as duas querem falar.

 

Vitória respira sonhos, que transforma em poesia. O sorriso tímido, de batom vermelho, é cortina. Quando se abre, revela uma menina cheia de força e vontade de ser grande. Mais ainda do que já é.

Aos 23 anos, Vitória Fernandes se prepara para terminar a faculdade de Letras, já com um tantão de planos para o depois. Não sabe se quer seguir pela área de literatura ou comunicação, mas quer fazer uma pós-graduação.

O objetivo é ser escritora. Ou continuar a ser.

Vitória escreve poemas, que publica na página Peripécias, no Facebook. Em um ano de divulgação, tem mais de 67 mil curtidas.

Começou a escrever aos 16 anos e, entre tudo que gostava, encontrou um amor.

– Eu sempre gostei de fazer muita coisa. Mas nunca tinha encontrado algo que amasse. Agora, estou amando.

Enquanto a sua mãe conta a história, que é das duas, Vitória escuta atenta e paciente. Acerta as datas quando a mãe erra. Não palpita. Não interrompe. Se emociona. Abraça a mãe.

– Admiro muito minha mãe, a força que ela tem e a coragem que teve. Agradeço a vida porque não sei se eu teria as oportunidades que tive se não estivesse nessa família.

Vitória foi adotada por Dalva no mesmo dia em que deixou a maternidade.

Sua mãe biológica tinha 17 anos e nenhum apoio. Veio da Bahia trabalhar na casa de uma família e, quando a patroa soube da gravidez, entrou em desespero. A opção foi dar o bebê para adoção. Dalva trabalhava com isso. E as duas se encontraram.

Dalva diz que sua vida daria um livro e conta cada coisa com detalhes do que se passou ontem. Começa lá na infância!

A mais velha de sete filhos, começou a trabalhar cedo e, enquanto o pai era vivo, estudava escondida, porque ele achava bobeira. Quando o pai morreu, teve que ajudar a mãe a cuidar dos irmãos e redobrar o trabalho. Fez curso técnico de auxiliar de enfermagem e diz que, como “tudo na sua vida”, foi encaminhada para isso.

– Sempre senti que uma força superior me empurrava para o caminho.

Conta que, desde pequena, gostava de juntar coisas antigas para explicar porque o brechó que abriu no quintal de casa há dois anos é a realização de um grande sonho.

– Até um prego enferrujado no chão tem uma história. Um dia, ele esteve na parede.

Foi casada e teve três filhas – a mais velha também foi adotada.

Quando Vitória nasceu, Dalva não pensava em recomeçar a rotina de mãe. As três filhas mais velhas já estavam criadas e ela achava que a solidão do divórcio seria resolvida com um namorado.

– Mas a força superior estava lá…

Dalva trabalhava com uma família responsável por uma casa de acolhimento para crianças e adolescentes afastados das suas famílias e diz que ficava responsável por fazer o cadastro das mães que queriam adotar e as que queriam doar os bebês.

Apertada de dinheiro, foi fazer um bico em posto de saúde no final de semana. Conta que conheceu uma mulher que não sabia o que fazer com uma funcionária de 17 anos que estava grávida.

Dalva se apresentou e disse que a mulher procurasse a casa de acolhimento.

Quando a adolescente decidiu doar o bebê, Dalva diz que se lembrou de uma grande amiga que estava casada há 10 anos e esperava pela adoção.

Fez a ponte e tudo estava certo. Explica que naquela época a adoção não era como hoje, com leis cumpridas a rigor.

No dia do parto, Dalva buscou a bebê na maternidade e levou para sua casa. A “mãe” iria buscá-la em seguida.

 – Quando eu cheguei com aquele bebê nos braços minha irmã gritou: ‘A Vitória chegou!’. E eu já fui dizendo: ‘Não dá nome que esse bebê não é nosso!’.

O dia passou inteiro e nada da amiga aparecer para buscar a bebê. Dalva telefonava e nada da amiga atender. Foi entrando em desespero. O que faria com o bebê?

E aí, fala de novo da “força superior”.

– Eu entrei no quarto e disse para Deus: ‘Nosso papo é direto’. Abri a Bíblia e caiu em Isaías: ‘Feliz de quem estava só e desamparado e agora não está mais. A Vitória está sob ti’.

Cai no choro e Vitória também. As duas se abraçam.

  – Eu não tinha nem dinheiro para comprar uma lata de leite, mas sai do quarto e anunciei que a Vitória era nossa. Essa é a maior história da minha vida.

Vitória e Dalva enfrentaram juntas as dificuldades que a vida foi apresentando. A mãe não demorou a perceber que a falta de dinheiro seria o menor dos problemas. Se desdobrava trabalhando de tudo quanto foi coisa e nunca faltou nada para a menina.

Vitória tem lúpus. Descobriram quando ela tinha 10 anos, em meio a crises de saúde que a levaram para a UTI. Foram sete anos de desespero. A menina quase perdeu um dos rins, o coração foi afetado e os pulmões também.

– Minha mãe sempre esteve ao meu lado. Hoje estou bem!

Hoje, não tem qualquer problema e a rotina é normal.

As duas já procuraram a mãe biológica de Vitória. Se é vontade da filha, Dalva não se opõe. Não conseguiram localizar, porém.

Vitória fica em dúvida. Diz que tem vontade de encontrar a mulher, depois diz que não tem e chega a uma conclusão:

– Eu não sei se ela quer me ver… Eu estou bem resolvida com isso, mas não sei como ela está.

Não tem raiva da mãe que nunca conheceu.

  – Aos 17 anos a gente não sabe nada da vida. Acho que foi difícil para ela… Por isso, só queria que ela soubesse que eu estou bem.

Afirma que nunca teve qualquer problema com a adoção. Lembra que soube em uma data comemorativa, a mãe foi contando aos poucos, e pronto. Sem dramas, sem traumas. E explica o porquê.

– Minha mãe me ensinou o que é o amor. Não em palavras, mas em gesto. Isso é para a vida inteira.

E, de novo, as duas se abraçam. Carinho nunca é demais.

 

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1 Comentário

  1. Nara Lemos

    Que história linda! Parabéns por essa união de almas e intenso amor, esse vínculo é divino.

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