Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 10 de agosto de 2017.
Se é dia de fisioterapia, tem vídeo da Amora durante a sessão.
Se é dia de médico, tem texto contando as novidades.
Mesmo se é um dia comum – sem médico, fisioterapia ou qualquer outra atividade – tem relato da Amora com algo novo.
Todos os dias, ela conquista um novo limite. E compartilha suas pequenas grandes vitórias com famílias de todo Brasil – e até do mundo – em uma página do Facebook.
Amora tem quase dois anos. E – como tal – não sabe escrever, fazer foto ou vídeo.
Por isso, a página chama “Mãe da Amora”, e os relatos são escritos pela Agda.
A mãe não viu a barriga crescer, não teve tempo de se preparar.
A pressão subiu demais e o parto – no quinto mês de gestação – era a única forma de salvar sua vida.
Quando Amora nasceu, Agda custou a assimilar aquela pequena vida.
Dia a dia, vinha um novo desafio.
Os dias de UTI, altos e baixos, desânimo e a retomada do ânimo.
Quando decidiu criar a página “Mãe da Amora”, queria levar informação e apoio: ingredientes essenciais para que ela e a filha ficassem bem.
– O principal é não se sentir sozinha, com a impressão de que só acontece com você. É uma rede de apoio.
Hoje, a página tem mais de 1,6 mil curtidas no Face, Agda criou um grupo no whatsapp e conversa com mães de prematuros todos os dias, incontáveis horas.
Compartilhando o dia-a-dia da Amora, ela transformou prematuridade em amadurecimento.
– É uma rede de apoio. E, para mim, é gratificante poder passa informação.
Em um quadrinho pendurado na prateleira do quarto, estão as resoluções da Amora para este ano: Ficar em pé, sentar, falar mamãe e papai, ter dentinhos.
“Ter dentinhos” já tem risco de “ok” na frente. E os pais da pequena traçaram uma lista de ações diárias para alcançar os outros objetivos.
Sabem que é aos poucos, em um tempo que nada tem a ver com o relógio ou a formação usual de dias, meses e anos.
Amora veio ao mundo com 700 gramas, em um tempo diferente.
E é assim que abraça a vida.
Foram três meses e 10 dias de hospital – a maior parte do tempo em UTI. Complicações que, em vários dias, fizeram os médicos acreditarem que era o último.
Mas Amora estava dando o seu recado. Continuou lutando até que alta viesse.
Em setembro, completa dois anos de vida.
– Com a maternidade da Amora, eu aprendi a parar de idealizar as coisas. A percepção que eu tenho é de que eu não tenho controle. Não sei como vai ser: quando ela vai andar, quando ela vai falar. Sei que ela vai precisar de muito estímulo. E sei que ela está respondendo cada vez melhor a esses estímulos.
Agda escreve as resoluções do ano da filha, mas aprendeu a entender o novo formato do tempo.
Amora teve paralisia cerebral, como consequência da prematuridade e do período de internação. Ainda não é possível saber quais as sequelas disso.
Mais uma questão de tempo.
No dia-a-dia, a pequena tem fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudióloga. Todas as ferramentas para que consiga se desenvolver da melhor forma que puder.
– Antes, nossa preocupação era com o cognitivo. Não importava se ela iria andar. Eu queria que ela pensasse. Agora, que o cognitivo já está se desenvolvendo, vamos buscar a parte motora.
Pequenas grandes vitórias diárias, que mãe e filha compartilham com quem também reinventa o tempo. E também precisa de apoio.
O reinventar do tempo começou para Agda naquela madrugada do dia 23 de setembro de 2015, quando a pressão subiu demais e o mal estar levou ao hospital.
– Eu achava que ia ficar tudo bem.
O parto foi de urgência. O médico preparou a mãe para um nascimento ao revés, prevendo que o bebê poderia não aguentar.
Agda teve duas hemorragias no útero depois do parto. Foi conhecer Amora dois dias depois do parto.
– Foi a maior culpa da minha vida. Eu pedi desculpas para ela e comecei a chorar. Eu me sentia culpada por tudo o que estava acontecendo. E tinha medo. Não queria me envolver com ela, porque sabia da gravidade da situação.
Agda, que não viu a barriga crescer e não se preparou para o parto, não se sentia mãe. Mas precisava ser.
O banco de leite foi o primeiro vínculo que criou com sua filha.
– A única coisa que poderia fazer com que eu me sentisse mãe seria ela se alimentar do meu leite.
Começou a tirar o leite, que era passado pela sonda para a bebê.
– Já que era muito difícil me relacionar com ela, eu me relacionava com a equipe da UTI, do banco de leite.
Quando Agda pôde pegar a filha no colo pela primeira vez, depois de um mês do nascimento, a sensação de ser mãe, enfim, fez morada.
– Aí mudou tudo. Me deu aquela sensação de pertencimento. E tudo ficou mais fácil.
Agda inventava funções dentro da UTI. Ainda que fosse arrumar a geladeira do banco de leite, tinha suas responsabilidades de mãe.
E foi fazendo o tempo de hospital passar mais brando.
No dia 4 de janeiro de 2016 a tão esperada alta chegou. E Amora pôde conhecer seu quartinho, seu companheiro canino Jorge, seu lar.
Os desafios continuaram, mas com outros focos.
– Quando você está no hospital o foco é a sobrevivência. Depois da alta vem a fase de entender as sequelas da internação, descobrir as possibilidades.
Agda, que trabalha com publicidade, deixou o trabalho de lado para estar com a sua pequena.
Agora, com Amora conquistando a vida a cada dia, a mãe tenta voltar à rotina fora de casa.
– Mas eu sofro. É muito difícil ficar longe dela.
A filha é seu “grudinho”, como posta nas redes sociais.
O plano para o futuro é que Amora possa, entretanto, ser independente.
– A gente quer que ela tenha autonomia para acordar, se trocar sozinha, sair, ter remuneração própria.
Os pais dizem juntos e explicam porque a lista de metas vai se renovar ano a ano.
O objetivo principal, porém, é imenso e profundo. Como a força de Amora.
– A gente quer que ela seja feliz.
Hoje é mais um dia de conquistas para Amora.
Mais uma vitória que Agda vai compartilhar com quem, como ela, transforma prematuridade em amadurecimento. E reconfigura o tempo.
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