Amor de mãe: Aos 39 anos, Laura adotou os irmãos Gabriel e Mikael

7 janeiro 2020 | Exposição PLURAIS, Gente que inspira, Histórias do Proac 2019/2020, Projetos especiais

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Por Daniela Penha

A história de Laura faz concluir: se amor de mãe tivesse forma, seria forma de vento, que cabe em todo espaço, se molda a qualquer direção, sem limites ou arestas.

A gestação dela durou mais que os nove meses. Foram quatro anos pesquisando, lendo, compreendendo o universo de uma maternidade que é construída dia após dia, fora da barriga e dentro do coração.

Hoje, aos 40 anos, Laura Daniel é mãe solo dos irmãos Mikael, 11 anos, e Gabriel, 9, adotados há seis meses e esperados “desde sempre”, em suas palavras.

– Ser mãe? É uma preocupação constante! Eu quero saber se eles estão bem, felizes, se desenvolvendo na escola. É uma saudade inacreditável! Não vejo a hora que eles cheguem em casa! O amor é do tamanho do mundo! Vai crescendo de um jeito… fica cada vez maior…

Encontrou sua própria forma.

Amor de mãe: Aos 39 anos, Laura adotou os irmãos Gabriel e Mikael

Para Laura a maternidade foi um desejo que chegou cedo, ainda menina. Bem cedo também ela já acolhia as diferentes formas de ser mãe.

– Eu falo de adoção desde uns 15 anos… sempre tive isso comigo.

A socióloga ficou sete anos casada. Quando começaram a pensar em ter filhos, a relação já não estava bem. Quando terminaram, ela decidiu, então, que seguiria sozinha por esse caminho. Estava com 35 anos.

As reações foram de todo tipo. Alguns, achavam que era loucura. Outros se preocupavam: será que ela “daria conta” de enfrentar sozinha? E teve também quem deu força. Algumas amigas se inspiraram na ideia.

– Ser mãe solo por opção é melhor do que as mães que são solo por alguma situação. Não é que eu estou fechada para o amor. Estou aberta! Mas decidi que seria mãe independentemente de um relacionamento dar certo ou não.

Começou as pesquisas com a ideia de adotar um bebê e logo percebeu que a espera seria imensa, já que a maioria das pessoas que estão na fila de adoção buscam por bebês.

De acordo com dados do Cadastro Nacional de Adoção, apenas 2,45% do total de 4.815 crianças disponíveis para adoção têm entre 0 e 2 anos de idade. Os adolescentes (de 12 a 17 anos) representam 70,9 % do total. A fila de pretendentes soma 42.487 cadastros disponíveis no País.

Laura ampliou a faixa etária para até dois anos, mas depois que fez o curso para pais e mães adotivas conheceu a realidade das crianças maiores, que estão sempre a esperar, e aumentou mais um pouco. Quando terminou o processo, estava decidida que seus filhos poderiam ter até 12 anos. E disposta a acolher até dois irmãos.

Foram quatro anos gestando a ideia, mas poucos dias de espera na fila. Depois que se decidiu, ampliou seu cadastro e entrou para a lista demorou apenas três semanas para que Laura fosse chamada.

– Cada um tem um sonho! A gente tem que respeitar quem pensa na adoção de um bebê. Na fila há muitos casais que tentaram muito engravidar, não conseguiram e querem viver o processo desde o início. Mas para mim não era necessário. Eu sabia que iria vir o que tivesse que vir.

Foi a forma perfeita para a família que se deu. Mikael tinha acabado de completar 11 anos e Gabriel estava com oito. Os dois irmãos aguardavam por uma família em um abrigo havia mais de três anos. Um casal havia iniciado o processo de adoção, mas desistiu já depois da aproximação, na fase final do processo.

Laura os viu pela primeira vez em um site do Tribunal de Justiça que busca promover a adoção de crianças e adolescentes: “Adote um boa noite”. Os irmãos lhe tomaram a atenção, mas a mãe decidiu esperar ser chamada quando fosse a hora.

Dias depois, veio a ligação. O chamado era para os mesmos meninos da foto, nesses acasos nada causais da vida.

– Eu me sentia incompleta. Ser mãe sempre foi importante para mim. Hoje, eles são minha vida. Não falta mais nada.

Amor de mãe: Aos 39 anos, Laura adotou os irmãos Gabriel e Mikael

Durante o processo de aproximação, em que futuros pais e mães podem estar perto dos futuros filhos e filhas, vieram preocupações.

Gabriel e Mikael têm outros dois irmãos, que já estavam sendo adotados por outras famílias. No abrigo, o que se dizia sobre o comportamento dos dois não era bom. O mais velho era considerado violento e o mais novo não gostava de tomar banho.

– Foi tão fácil… eles só queriam ser amados! Fui mostrando que o jeito violento não leva a nada, que quanto mais amor se dá, mais se recebe. Levei o Gabriel em uma loja de perfumes e ele me perguntou: ‘Mãe, eu posso escolher qualquer um?’.

As primeiras semanas em casa foram de adaptação para mãe e filhos – como é em qualquer forma de ser mãe. Era preciso ensinar a não falar palavrões, a tomar banho, a fazer as lições da escola, a não quebrar os objetos: coisas da rotina de uma casa, que não faziam parte da rotina do abrigo.

– Eu me sentia incapaz, porque demora um pouco para ver os avanços. Eu pensava: Será que estou fazendo certo? Será que vou conseguir formar bons seres humanos? Mas o amor está acontecendo. A gente só ama com o tempo. Aí, vem um abraço, uma palavra, a repetição de algo que você falou e você percebe que está tudo certo…

Muita conversa: foi o caminho encontrado pelos três para irem se entendendo.

Nesse começo, os meninos pareciam querer voltar ao passado. Exigiam toda a atenção da mãe, que aproveitou cada minuto da licença maternidade.

– Eles pediam: ‘Mãe, dorme comigo, conta uma história’. Queriam cuidados de crianças pequenas, que não tiveram antes. Eram meus bebês de nove e 10 anos!

Seis meses! E quem vê mãe e filhos no parque imagina uma história construída há mais de década. Os meninos se enturmaram na escola, Laura se adaptou à rotina de mãe, o amor continua crescendo todo dia, tal qual jardim.

Comemoraram o primeiro Natal em família e os meninos mal podiam esperar.

– Na casa da minha mãe é muito legal! Eu gosto de todas as famílias: meu tio, minha avó, meu primo! Se não tiver família a gente fica sem nada.

Gabriel vai dando forma ao amor que para a mãe já tomou o coração.

– Se as pessoas enxergassem o quanto a adoção tardia é bom… se se abrissem para pensar… iriam ver um amor inacreditável.

Laura diz que pensa, inclusive, em ampliar a família. Daqui dois anos, quer adotar uma menina. Está aberta às idades e acasos, ao que a vida trouxer.

– Hoje eu me sinto completa. Não falta mais nada.

Se o amor de mãe tivesse forma, teria forma de vento, que entra por todos os lados.

*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/
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1 Comentário

  1. Nara Lemos

    Que linda sua história de amor! Há muitos anos tenho essa vontade, o namoro está em torno de 10 anos, algumas decepções mas nesse ano vou retomar e tentar novamente??????

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