‘Anjos da Cidade’ entregam 200 marmitas toda segunda-feira

27 novembro 2017 | Gente que faz o bem

Arroz, feijão, calabresa com mandioca: tudo com gosto de delícia, posso certificar depois de provar um prato.

Toda segunda-feira, há um ano e meio, é assim. No grupo com cerca de 20 pessoas alguns cozinham, outros embalam, outros entregam e há ainda os que participam de todas as etapas.

Cada um doa o que pode para fazer 20 quilos de arroz, nove de feijão, 20 de carne, frango ou outra proteína, farofa, legumes e verduras se transformarem em 200 marmitas.

Por volta das 19h, quando o carro com as quentinhas chega à praça Schimidt, ao lado da rodoviária de Ribeirão Preto, uma fila que pega todo o quarteirão já está à espera.

Tem idosos, crianças, jovens, gente de toda idade e todo perfil. Moradores de rua, trabalhadores terminando a jornada, desempregados, usuários de droga que vagam sem rumo, famílias inteiras.

A fome é tristeza que dói o estomago e mora nos olhos.

O senhor mal recebe a marmita, abre e começa a comer ali mesmo, em pé. O jovem empurra a cadeira da senhora que não pode andar. São os primeiros da fila. Pegam duas marmitas e agradecem.

“Obrigado” é palavra na boca de quase todos os que passam por ali.

Na segunda-feira em que eu estive presente, foram distribuídas quase 200 marmitas, sem “repeteco”, que é quando todos já comeram e ainda podem repetir. Nesse dia, o número de pessoas era tanto que não sobrou para o “bis”.

Fernanda Kuhn, que está no grupo desde o início, conta que começaram com 80 marmitas. Depois foram para 100 e, muito logo, estavam em 200.

A preocupação é não deixar ninguém sem o jantar.

– A gente não tem coragem de parar porque sabe que, toda segunda-feira, eles estão lá esperando.

 

 

A ideia de entregar comida a quem precisa surgiu de uma amiga, Sílvia, que lutava contra um câncer.

A luta de Sílvia terminou em outubro deste ano. Ela faleceu, mas sua iniciativa continuou viva.

Os participantes dizem que Fernanda, que acompanhou o nascer do grupo, é a coordenadora, o que ela rebate contando que ali todo mundo ajuda igual.

Relembra, porém, que lá no começo chegou a ir com apenas uma amiga fazer as entregas depois de passar um dia todo cozinhando.

Hoje, o grupo Anjos da Cidade RP tem página no Facebook e duas dezenas de gente ajudando toda segunda-feira.

Eles postam a lista de mantimentos que precisam e recebem doações de amigos, conhecidos, colegas de trabalho.

Na segunda-feira, dividem os mantimentos em muitas panelas, para não sobrecarregar ninguém.

Às 17h, já tem gente na casa da Fernanda para começar a embalar. Um coloca o arroz, a outra o feijão e a marmita vai tomando forma.

Às 19h, alguém avisa que é hora de ir.

– Às 15h, eles já começam a fazer fila na praça.

É a integrante Patrícia quem diz.

A fome tem pressa de passar.

Grupo anjos da cidade RP - Ribeirão Preto

A entrega é sempre uma caixa de surpresas.

Neste dia, 20 de novembro, fomos recebidos por uma usuária de drogas muito alterada e com o corpo todo machucado.

Os integrantes do grupo explicaram que ela sempre está por ali.

O grupo não tem apoio de órgãos públicos ou da Polícia Militar.

Demorou uns 10 minutos para a coisa toda se resolver. A moça ganhou sua marmita e, com a ajuda de outros moradores de rua, deixou o local.

A entrega foi retomada, então.

Foram distribuídas senhas e tudo ocorreu em paz.

Entre as marmitas, vão chegando outras demandas.

O senhor que precisa de um sapato, mostrando os furos do seu.

O jovem que está na rua há dois meses, por brigas com a família, e quer um lugar para tomar banho.

O homem que precisa de um antídoto contra pulgas.

As demandas – por mais que pareçam estranhas, como a das pulgas – são recebidas com carinho pelos integrantes.

Uma delas, que também está desde o início do grupo, não participou da entrega neste dia porque conseguiu uma passagem de ônibus para um homem que estava vivendo na rua voltar para sua terra natal e foi levá-lo à rodoviária.

  – A gente acaba conhecendo a história de cada um que passa por ali.

Explica a voluntária Daniela.

Fernanda conta que, muitas vezes, o grupo é alvo de críticas.

– Eu não posso dar um emprego. Hoje, o que eu posso dar é a comida. Estamos fazendo um trabalho social.

No final, a sensação é de dever cumprido. Os integrantes se unem para uma foto.

– Eu tenho orgulho de falar do que fazemos. Assim, inspiramos outras pessoas a ajudar.

E, antes de ir embora, ainda ouço uma das voluntárias questionando: ‘Mas o que será que eu posso trazer para ele resolver esse problema das pulgas?’

Toda fome é importante, o grupo bem sabe. A fome por dignidade tem pressa de passar. E o trabalho não pode parar.

 

No dia 18 de dezembro, o grupo irá realizar uma ceia de Natal na praça! Quem quiser ajudar, está convidado a levar um prato especial, que será compartilhado! 

 

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               Grupo anjos da cidade RP - Ribeirão Preto

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4 Comentários

  1. Dionísio

    Parabéns. Gostaria de ver mais de perto os trabalhos.

  2. Marina Berardo da Silva Passos

    Parabéns pela iniciativa da redação das histórias! Adoro…são histórias ótimas, muito bem redigidas e de grandes exemplos, além de edificantes.

  3. Renata Guimarães

    Adorei a forma como colocou nosso trabalho. Tenho outros que podem ser história do dia.
    Parabéns pelo texto.
    Bjos

  4. Ricardo Antonio Rosario

    Bom dia, gostaria de doar alimentos, como fazer

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