Antônio faz da vida um ‘recanto de caridade’

3 maio 2017 | Gente que inspira

A porta da casa na Vila Virgínia está sempre aberta. As pessoas entram e saem, sem avisos ou cerimônias. Antônio está à espera.

– Essa casa não é de ninguém. É de Deus.

Há cinco anos, colocou no papel o que já é realidade há mais de meio século. Doou o patrimônio que construiu durante 60 anos para a ONG que nasceu no seu quintal.

O “Recanto da Caridade” é lar de Antônio e de outras tantas pessoas que passam por ali, sem precisar bater na porta.

Ele não sabe estimar o número de atendidos. São, em média, 1,8 mil refeições distribuídas por semana. Quem tem fome encontra ali café da manhã, almoço e lanche da tarde.

A ONG também distribui cestas básicas, roupas e acolhe quem precisa só desabafar.

Tudo é mantido por doações. E Antônio faz questão de frisar:

– Não falta nada, filha. Não falta nada porque Deus é maior. Tem sempre alguém perguntando do que a gente precisa.

Também com doações, está construindo uma casa de acolhimento no mesmo bairro. Fala do prédio espaçoso, dos 50 quartos para dar abrigo a quem precisa, da cozinha equipada que pretende inaugurar em três meses, aumentando o número de refeições distribuídas.

É felicidade que vem do ajudar.

Antônio, em seus 85 anos que fazem o cabelo branquear, conta que nunca fez uma viagem ou tirou dias de férias. Conhece o mar de dentro do carro, quando passou pela orla de Santos à trabalho.

Diz que também nunca – nunquinha mesmo – ficou doente, acamado, longe de sua obra.

Seu trabalho é ajudar a quem precisa. E, então, não há tempo de parar.

– Vou continuar até deixar a Terra, filha. E, depois, eu continuo de lá.

Eleva o indicador em direção ao céu e abre um sorriso silencioso.

Antônio era um menino. Diz que o aviso veio aos 10 anos, em um dia de trabalho na roça como tantos outros: “Já é tempo de começar seu trabalho”.

Iniciou ali trajetória de doação, atrelada à sua fé.

Ele não sabe dizer quando começou a orar. Diz que já nasceu no centro espírita.

Depois do “aviso”, passou a benzer quem lhe pedia e nunca mais parou.

Cresceu na fazenda e aos seis anos já trabalhava na roça. Não pôde estudar. E, então, não sabe explicar como consegue ler o Evangelho.

Simplesmente abre o livro e diz o que está escrito, sem nunca aprender o be-a-bá.

Viveu na fazenda até os 25 anos, quando, já casado, decidiu morar na área urbana de Ribeirão Preto. Arrumou emprego na Fábrica de Cerâmica São Luiz, onde ficou por 39 anos, dirigindo maquinário.

Criou seis filhos e viu a família se multiplicar em 12 netos e cinco bisnetos.

Cada tijolo da casa onde se instalaram na Vila Virgínia foi firmado com esforço.

O lar, ele afirma, sempre esteve de portas abertas antes mesmo de ser ONG. Antes mesmo de ser, em papel passado, do bem comum.

– Nunca fechei a porta para ninguém.

As pessoas procuravam Antônio em busca de oração.

Há 35 anos, então, ele fundou a Sociedade Espírita Nosso Lar.

Como o trabalho não se restringia às necessidades espirituais, decidiu formalizar as doações terrenas em ONG.

– Matar a fome a quem tem fome, a sede a quem tem sede. Tem que fazer o bem e não olhar a quem.

Na casa de Antônio, tem sempre alguém a colaborar com o trabalho. Além das doações de mantimentos, são os voluntários que fazem as refeições oferecidas.

Uma delas explica que, não fosse o acolhimento de Antônio, talvez não estivesse viva. Em depressão profunda, encontrou ali as forças para continuar.

É preciso ouvir de terceiros. Antônio mesmo pouco comenta sobre as vidas que ajudou a modificar. Não quer perder o foco.

– Ajudar é muito lindo. Não cansa, porque é um trabalho de Deus e a gente faz com amor.

Diz que o número de pessoas com fome tem crescido cada vez mais. Fome que não se restringe à comida. O afeto também está em falta.

– A gente tá pedindo a Deus para melhorar o nosso Brasil.

Apesar de lidar diariamente com o sofrimento, vê esse nosso mundo com o melhor olhar.

– Esse mundo é um mar de rosas para quem sabe viver. Deus não dá o sofrimento para ninguém. Nós é que pede o sofrimento, filha.

Fala no seu linguajar, que não precisa de nada além de sinceridade.

Antônio sente que tem um dom. E que desperdiçá-lo seria jogar a vida fora. Acredita que estamos aqui para evoluir, e faz sua parte.

– Dá de graça o que de graça recebe, filha. Eu levo o meu trabalho muito a sério.

Um homem entra pela porta aberta. Diz que é sua primeira vez por ali. É recebido por Antônio com conversa, consolo, uma mão no ombro.

Antes de ir embora, garante que vai voltar.

Antônio está sempre à espera.

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15 Comentários

  1. Kelly cristina

    Trabalho de amor mas que lindo veem do coracao

  2. Gislene

    Sou testemunha. Já recebi várias graças. Me lembro da primeira vez em que estive em sua casa no momento de maior aflição de minha vida, fui recebida com muito amor pelo Sr antonio e esposa Sra Tereza, dali em diante minha vida mudou.

  3. Neiva Rabelo

    Tenho o prazer em frequentar esta casa desde o início de 2013, recebendo passes.Tres meses depois fui convidada por ele a ser voluntária pra fazer sopa tds as terças feiras, sopa esta que é entregue no período noturno, às pessoas mais carentes. Sou muito feliz em participar dá família do Sr Antônio, como ele costuma dizer e estou sempre ajudando conforme posso.
    Sr Antônio é um paizão, tem uma palavra amiga a tds que lá chegam. Só desejo o melhor a ele e que possa desfrutar conosco, muitas alegrias que teremos no novo lar… Muito obrigada, sr Antonio, por colaborar com o meu crescimento espiritual…

    • José

      Neiva do céu

  4. Ana Paula

    Lindo demais ..muito emocionada ao ler tudo isso porque tive a honra de conhecer ele.

  5. Vaneza

    Parabéns Se Antônio por sua obra a favor do próximo o Sr é um exemplo…… Muito lindo seu testemunho que Deus a cada dia renove suas forças

  6. Jaque

    Dar de graça o que é de graça, simples e verdade é ensinamento para a vida toda! Parabéns seu Antônio, e para vc filha!

  7. Rosangela MoreiradaSilva

    É um homem de Deus…mt humilde. Mt sabio.generoso.amigo.obrg por existir!

  8. Maria do Carmo, Juliana e Gabriel

    Deus é maravilhoso conosco e nos dá algumas estrelas aqui na Terra para reacender nosso brilho quando mais precisamos. Assim é o Sr. Antônio, um ser humano sem igual, que escolheu doar sua própria vida em favor de seus irmãos. Eu mesma o conheci quando mais precisava: estava grávida, meu filho nasceu prematuro e tenho certeza que as preces que recebemos fizeram que meu filho hoje esteja tão bem e saudável aos 2 anos de idade. Obrigada, Sr. Antônio! Obrigada, Estrela de Deus! Obrigada, Luz nas nossas vidas!!!

  9. Paulo, Rosa, Paula, Arthur e Tiffany Takahashi

    Não sei precisar há quantos anos somos recebidos e agraciados com a força da oração e fé que emana do sr.Antonio. Muitas vezes fomos e ainda somos socorridos nesta
    casa sagrada.Não importa a hora da precisão, basta um telefonema para recebermos a bênção através das palavras serenas e confiantes que transmite. Sr.Antonio, saiba que eterna será a nossa gratidão. Que Deus permita nossa convivência por muitos anos.Obrigada por tudo.

  10. Alexandra Renata Ferreira

    Sr. Antonio é um ser iluminado na terra.
    Agradeço muito a Deus por ter conhecido esse homem de Deus.
    Obrigada Sr. Antonio por tudo que o senhor faz para mim e para toda minha família.
    A unidade é plena.

  11. Maria Ligia Capucci de Oliveira Engracia

    Estive na casa dele para levar um convite.Eles como outros receberiam doação de alimentos.Fiquei impressionada com o que vi e nunca esqueci.Um homem amavel,risonho,caridoso de palavras lindas recebendo todos que ali passavam.A comida era feita em uma grande cozinha onde voluntarias trabalhavam.Fiquei bastante tempo e de lá não queria sair. VÁ COM DEUS.

  12. Silvia Savóia

    Eterna gratidão!!!

  13. Jessica

    Por favor alguém pode me informar se a casa esta em funcionamento? Tenho alguém que precisa de ajuda

    • Roberto Lacerda

      Podem me informar se ele está atendendo ainda

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