Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 30 de maio de 2018.
Aposentadoria. Para a maioria, palavra que faz pensar em descanso. Para Argemiro, tempo de trabalho.
Trabalho pelo próximo, trabalho que, até então, não saíra do papel. Aposentadoria, para José Argemiro da Silveira, é tempo livre para ajudar a quem precisa.
Há 32 anos tem sido assim.
Depois de três décadas trabalhando em banco, ele se aposentou, em 1985. Não deu tempo nem para aquele tediozinho preguiçoso de terça-feira livre.
No mesmo ano, começou a fazer trabalhos voluntários e em 1986 passou a atuar na Associação Obreiros do Bem, de onde não mais saiu.
Hoje, a instituição atende diariamente 160 crianças no contra turno escolar, distribui refeições e oferece apoio às famílias do Parque Ribeirão – onde está localizada.
– A criança é o futuro. A vida tá muito complicada. Há muita desonestidade. Temos que cuidar das crianças, dar bons exemplos.
Colheita da aposentadoria de Argemiro.
Argemiro, 32 anos doando o dia-a-dia pelo outro, acha que não faz “nada de mais”.
Bem o contrário. Diz que tem gente fazendo muito mais que ele por aí.
Modéstia?
– Não é modéstia. É realidade, viu? Não tem nada de extraordinário nisso.
Aos 82 anos, não está em busca de honrarias.
Fala menos de si e mais do trabalho que a instituição faz. Usa sempre o terceiro pronome do plural, atribuindo ao todo os louros do trabalho.
Conta que a Associação Obreiros do Bem foi fundada em 1979, pelo psiquiatra Geremias Rodrigues Vilela, como uma instituição espírita.
Quando Argemiro passou a atuar como voluntário, a associação não atendia crianças.
O psiquiatra prestava atendimentos médicos e a equipe oferecia apoio que ia de documentação à remédios e alimentos às famílias que precisavam.
Quando o fundador morreu, em 1990, os voluntários – entre eles Argemiro, que ficou como presidente da associação – decidiram colocar em prática a ideia já plantada de atender as crianças do bairro.
Começaram prestando serviço de creche a 25 crianças, em período integral. Foram modificando a assistência conforme a legislação nacional da educação infantil.
Hoje, as 160 crianças atendidas no espaçoso prédio do Parque Ribeirão participam de oficinas de tear, canto, dança, esporte, informática. A equipe da associação conta ainda com psicólogo e assistente social.
Aos finais de semana, oferecem café da manhã às crianças e suas famílias, cerca de 350 pessoas. De segunda a sexta, no horário de almoço, distribuem sopa. Tudo mantido por doações, parcerias, colaboradores e pelo trabalho de voluntários, como Argemiro.
– O cristianismo fala que a gente deve ajudar o próximo. Jesus fala que a gente deve fazer pelo outro como se fosse para a gente. É o ideal de servir.
“Nada demais”, na singeleza de Argemiro.
Argemiro diz que sempre teve vontade de trabalhar como voluntário, ajudar a quem precisa. Teve o exemplo em casa, com o pai que estudava a doutrina espírita.
A correria da vida foi deixando de lado a vontade, porém.
Começou a trabalhar ainda adolescente como alfaiate. Não gostava do ofício e fez curso de contabilidade.
Aos 21 anos, entrou no banco e só saiu aos 51, aposentado.
Foi quando a vontade de ajudar se aliou ao tempo livre.
– A pessoa aposenta e fica com o tempo vazio. Chega a ficar doente.
A esposa era companheira de ações. Os dois passavam os dias na associação.
Não tiveram filhos biológicos, mas encontraram ali uma porção deles, em coração.
– Eu sinto que eu ganhei mais do que eu dei.
Hoje já não podem doar tantas horas à instituição. A esposa de Argemiro está com problemas de saúde e ele é seu companheiro.
O que construíram, entretanto, está ali.
– O que a gente faz para os outros é para a gente mesmo. Se você faz o mal, vai colher o mal. Se faz o bem, colhe o bem.
Argemiro acredita que o ser humano está na terra para evoluir.
– Somos pessoas comuns e temos que lutar contra a gente mesmo, vencendo o egoísmo.
Como um “obreiro do bem”, segue fazendo a sua parte.
– É sempre uma equipe. O trabalho vem do que a equipe fez.
A humildade é valor já conquistado.
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