As conquistas de Vilmar

23 agosto 2019 | Histórias do Proac 2019/2020

Esta história foi narrada por Antônio Carlos Coelho, a “voz da Feira do Livro de Ribeirão Preto”. Para ouvi-la, é só clicar no play: 

 

Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 15 de janeiro de 2018!

 

Um carro buzina. O motorista de outro compra um doce. E há ainda o que dá um grito em cumprimento, passando pelo sinal.

Há nove anos vendendo balas e outras guloseimas no sinaleiro da rua Tibiriçá com a avenida Francisco Junqueira, Vilmar coleciona gente querida.

– Tem gente que passa e pensa: coitado. Não diferencia deficiência de doença. As pessoas têm que aprender isso: deficiência não é doença. Trabalhando como vendedor na rua eu comprei minha casa, meu carro adaptado: faço minha vida.

Suas falas são sempre para cima. A tristeza, ele diz, é coisa inventada.

– Felicidade e tristeza não existem. Existem momentos felizes e tristes. A felicidade não é eterna. Mas ainda bem! Porque a tristeza também não é.

Vilmar de Moraes - História do Dia Ribeirão Preto

Vilmar de Moraes tem 47 anos. A história que lhe contaram é que com um ano e nove meses levou um tombo, quebrou o osso da coluna e desenvolveu meningite.

– Não levantei mais.

Apenas no sentido literal. Ele não pôde mais levantar as pernas e andar. Mas nunca ficou por baixo.

Brincava nas ruas arrastando o corpo e, quando entrou na escola, ganhou sua primeira cadeira de rodas.

– O mundo expandiu. A cadeira de rodas é a liberdade para quem tem uma deficiência. Você pode ir a qualquer lugar.

A cadeira de Vilmar lhe levou ao lugar de onde, por mais de 20 anos, não mais saiu. Aos 14 foi convidado para jogar basquete. Passou a integrar o time de basquete de cadeira de rodas de Ribeirão Preto. E ganhou o seu mundo.

– Toda a minha liberdade e habilidade na cadeira vem do esporte.

Viajou Brasil afora competindo e conta que, em 99, ajudou o time a conquistar o título de campeão brasileiro.

Mais que isso, descobriu que a deficiência não iria limitar a vida.

– A única limitação que encontrei até hoje são as barreiras arquitetônicas que os lugares têm. Nós precisamos de adaptações. Só isso.

Deixou de jogar basquete aos 30 anos, por motivos de amor.

Vilmar de Moraes - História do Dia Ribeirão Preto

Conheceu sua esposa por intermédio de uma amiga.

Quando a levou para assistir a um jogo de basquete, arrematou seu coração. Estão juntos há 19 anos, casados desde 2000.

Ela, que não tem deficiências, perdeu colega de longa data.

– A amiga dela viu a gente na pizzaria e ligou no outro dia dizendo que ela estava namorando meio homem. ‘Se você não sabe ver as pessoas por dentro, você é meio gente’, foi o que ela respondeu.

Quando descobriram que a esposa não podia engravidar, depois de algumas tentativas, foi preciso, de novo, bradar ao mundo que o preconceito é erva daninha.

– As pessoas acham que quem tem deficiência não tem vida sexual.

A esposa, então, andava com o exame que atestava seu problema para engravidar embaixo do braço para esfregar na cara de quem ousasse lhe dizer que o problema era Vilmar.

Adotaram um menino, que acabou retornando para a família biológica, mas lhes têm como padrinhos. E se uniram ainda mais.

Vilmar de Moraes - História do Dia Ribeirão Preto

Vilmar trabalha vendendo doces nas ruas de Ribeirão desde os 19 anos. Conta que já trabalhou em empresas, mas não gostou da experiência.

– Aqui, eu faço meu horário, faço amigos.

Há nove anos no mesmo ponto da Junqueira, está em casa. Conhece o pessoal do posto, do clube, de toda a redondeza.

Comprou primeiro uma lambreta e hoje tem um carro adaptado, que dirige sem qualquer dificuldade.

De segunda à sexta, chega para as vendas por volta das 10h e fica até perto das 18h. De sábado, o trabalho é das 9h às 14h. Chegou a tentar aposentadoria pela sua deficiência, mas quando o pedido foi negado, entendeu o motivo.

– Eu posso trabalhar! Sempre trabalhei!

Os problemas? Ele coloca nos devidos lugares.

– Problema sempre vem. Mas se não andar com a cabeça erguida, como vai fazer? Se você desanimar com tudo, vai fazer da sua vida uma tristeza!

Empina a cadeira para a foto, com manobra que aprendeu no basquete. Exibe o sorrisão que está sempre no rosto.

– Tem que ter amor no coração! Quando você olha para o lado, vê que seu problema não é nada!

E encerra mostrando que a vida pode, sim, ser simples.

 

*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/

 

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9 Comentários

  1. Jéssica Rosa

    Meu lindo e guerreiro tio do meu coração ?

  2. Talita Moreira

    Grande exemplo de vida ,admiro esse casal de amigos e irmãos em Cristo.

  3. William de moura tamborim

    Parabéns meu tio, tenho muito orgulho de você!!

  4. Evanir Lopes

    Vc é o cara Vilmar parabéns pela sua história de vida que é muito linda!!abraços primao

  5. simone

    Sempre te admirei. Parabéns pela sua historia de vida.

  6. JOAN DARC

    Parabéns primo sempre vencedor!

  7. Roseli helena correa

    O vilmar e um exemplo, para mim e um grande amigo au gosto de estar perto dele porque ele me passa tranquidade para enfrentar as dificuldades da vida! pois sou deficiente ele lembra uma face boa da minha vida que nao pretendo nunca esquecer quando se tem um amigo como ele se tem umverdeiro tesouro que se quarda no coracao.

  8. Paula

    Parabéns ao Sr Vilmar sempre que passo ali ele está com um sorriso no rosto que cativa qualquer um, verdadeiro exemplo que tudo é possível qndo se tem força de vontade

  9. Lucisno

    Gordim jaguatirica grande amigo vms volta pro Basquete e levanta outros caneco

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