Gil tem o acarajé e a força da Bahia em seu bar

7 novembro 2019 | Histórias do Proac 2019/2020

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Não é raro um cliente chegar ao bar e se surpreender com o Gil que se apresenta. “Eu imaginava uma pessoa mais velha, careca, barriguda”, brinca a clientela de expectativa frustrada, que não espera encontrar um jovem de 33 anos à frente de um bar que, em três anos, triplicou de tamanho, aumentou o movimento e se tornou conhecido no Jardim Paulista.

O “Bar do Gil” começou com duas portinhas e dinheiro emprestado em julho de 2016. Gil e a esposa Kátia juntaram as economias, somaram o dinheiro de um acerto de trabalho e pegaram ainda um empréstimo com um familiar para conseguirem realizar o desejo que ele trouxe da Bahia.

– Eu sempre quis ter um bar.

As duas primeiras caixas de cervejas foram compradas no cartão de crédito. Nesse início, ele tinha o pai como sócio. O movimento foi crescendo pouco a pouco.

– Eu fiz um dinheiro com as primeiras caixas, fui comprando mais aos pouquinhos. Colocamos frango, linguiça, foi indo.

Foi um cliente quem sugeriu: ‘Gil, cerveja gelada e bom atendimento todo bar tem. Qual vai ser seu diferencial?’. Passou uma noite pensando e encontrou a resposta.

Gildásio Nunes deixou o interior da Bahia por volta dos 12 anos, em 1998, para morar em Ribeirão Preto. Começou trabalhando como empacotador de um mercado, conheceu a noite e se encaixou ali como barman, garçom. Mesmo nos cinco anos em que trabalhou como serralheiro, fez bicos na noite, porque era o que gostava.

Trabalhou em bares tradicionais de Ribeirão, já projetando o seu próprio na mente. O diferencial? Encontrou a resposta em sua origem.

– O bar foi reconhecido mesmo quando começamos a fazer o acarajé! E a gente quis trazer o acarajé baiano mesmo, tradicional.

Pronto. Aí pegou: Bar do Gil? Aquele que tem acarajé?

Veio o festival “Comida de Buteco”, a delícia competiu e ficou conhecida. Gil conta que nas duas semanas do concurso venderam 900 acarajés. Na rotina do bar, vendem cerca de 300 em um único final de semana.

Com o crescimento, foi preciso expandir. De duas portinhas, alugou o espaço da esquina, depois a casa da frente, foi crescendo.

A música foi característica do bar desde o início, com samba dos bons. Uma reclamação de vizinhos, porém, fez com que o som ficasse seis meses parado e o movimento caísse. Demitiu funcionários e precisou reformular.

– Ou gente reformava, ou o bar iria fechar.

Mais um empréstimo foi necessário e o bar tomou outra proporção. Seis meses atrás, foi reinaugurado, com mais espaço e acústica para a música. Quem vê, pensa que foi tudo fácil.

– As pessoas falam que a gente está rico. E não é isso! Mas, sem investir, como vamos crescer?

Serão meses acertando as contas, mas o sorriso do Gil está de ponta a ponta. O movimento aumentou, são 18 funcionários e Gil já pensa em trazer mais pratos baianos para o cardápio.

– É um sonho realizado para mim. Às vezes eu acho que não tenho dimensão do que eu fiz…

Bar do Gil Ribeirão Preto

Gil nasceu e cresceu em Ipirá, município que hoje tem população estimada de 59,5 mil habitantes, na região de Feira de Santana, interior da Bahia.

A família tinha um botequinho por lá e os irmão ajudavam os pais a tomarem conta.

Parte da família vivia em Ribeirão Preto, onde o pai trabalhava na usina de cana durante as safras. Vinha em março e retornava para a Bahia por volta de novembro.

Hoje, dos 10 irmãos de Gil, oito estão em Ribeirão. Ele foi o primeiro a vir. Em 1998, decidiu acompanhar o pai em uma viagem. Quando chegou a hora de voltar, não quis ir. Já estava trabalhando como empacotador no mercado, estudando. Passou a morar com uma tia e só voltou para a Bahia a passeio.

Em 2004, conheceu a namorada que se tornou esposa e companheira de jornada. Os dois têm a mesma idade e dividiram o caminho.

Kátia Santos, ribeirão-pretana, começou a trabalhar como babá aos 13 anos e se encantou pelas crianças. Decidiu ser professora e fez faculdade de Pedagogia, na USP. Gil parou de estudar no Ensino Fundamental pela rotina de trabalho.

Compraram um terreno, construíram uma casinha, engravidaram de Júlia depois de sete anos de relacionamento. Kátia não sonhava em ter um bar. Queria mesmo dar aula. Mas foi acolhendo o sonho do marido e sonhando junto.

– Eu passava todo dia pela rua do bar para ir na faculdade e via o movimento.

Está sempre nos bastidores: cuida da parte burocrática, procura os melhores fornecedores, pesquisa. Agora, está fazendo curso técnico de administração.

– A gente precisa de conhecimento, buscar aprender. Fomos aprendendo na prática, desde o começo. Mas é importante aprender mais.

Quando abriram o bar, Júlia estava no hospital. Ela nasceu com cardiopatia e passou por diversas cirurgias. Quem vê a menina esperta correndo pelo espaço, querendo entrar na cozinha, nem acredita!

– Não foi fácil, mas vale a pena. Mesmo que não dê certo, o que a gente fez até agora no pessoal e profissional nos faz crescer!

Bar do Gil Ribeirão Preto

A receita do acarajé foi cedida por uma vizinha baiana. Gil, Kátia e os pais dele foram incrementando, dando alguns toques. Seus pais deixaram a Bahia para serem sócios no bar. Hoje, abriram um outro espaço próprio e Gil e Kátia seguiram.

Eles contam que foi difícil encontrar um bom ritmo de produção do acarajé. No começo, compravam o feijão inteiro e era preciso descascar um por um. Com pesquisa, ela encontrou um fornecedor que entrega o grão já descascado. Menos trabalho, mais produção.

– Mas a gente se preocupa muito em manter a qualidade!

Para Kátia, o que encanta na iguaria é a história que o prato carrega.

– A origem é a de um povo sofredor. O vatapá, por exemplo, é como a feijoada: feito de tudo o que ninguém queria, o que sobrava na geladeira.

Para Gil, o segredo de um bom acarajé é um:

– Tem que ser crocante por fora e macio por dentro.

Para Kátia, o segredo é outro:

– Tem que fritar em azeite 100% dendê, senão não fica a mesma coisa.

Unem os dois segredos e o prato está pronto.

Bar do Gil Ribeirão Preto

Em três anos de bar, o casal tirou quatro dias de férias, sem desligar o celular. A rotina começa cedo e termina quando já é madrugada, todos os dias. Agora, também servem almoço, o que aumenta o trabalho. Ninguém reclama, porém.

– As pessoas me perguntam se eu montaria de novo um bar. Eu montaria, sim. Porque eu gosto do que eu faço.

Querem continuar crescendo. Ele pensa em abrir outras unidades. Ela vai além: quem sabe levar o acarajé baiano para fora do Brasil. De pouco em pouco, vão chegando. O bom tempero – feito de muita força – já está garantido!

 

 

*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/

 

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