Caetano Cury criou Téo, o mini mundo e a borboleta Eulália

21 maio 2020 | Histórias do Proac 2019/2020

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Um menino observa o mundo com um microscópio. O que encontra?

– Ele tem medo, sente angústia, sofre. Embora se pareça com uma divindade, é humano. Talvez até mais do que quem está lá embaixo.

Tem como companheira uma borboleta, Eulália. Pequenina, ela guarda as melhores respostas aos questionamentos que o menino Téo está sempre a fazer.

– Ela é uma mente elevada, conselheira. Mas é porrada, não é de passar a mão na cabeça. Ela é uma tentativa de reorganizar as ideias do mundo, que já foram ditas, mas estão esquecidas.

Os dois, menino e borboleta, moram na mente de Caetano Cury, 34 anos. Com tinta e palavras, saem para passear em formato de quadrinhos. O artista transformou pensamentos em tirinhas queridas por milhares de pessoas.

“ Téo & O Mini Mundo” é um respiro de afeto em meio à rotina que, em dias atuais, parece mesmo um massacre. É também um chacoalhão de realidade. Já era antes. Começou em ambiente digital em 2012 e se transformou em livro, em 2019.

O meu exemplar fica sempre ao lado, na mesa do escritório, ao alcance das mãos. Se o dia aperta, as páginas se abrem. Por isso, a vontade de conhecer Caetano e sua história.

Téo e o minimundo caetano cury

Mudar não é decisão fácil, embora pareça para quem vê de longe. Caetano deixou 17 anos de trajetória no rádio para ser – “só” – artista, dono do próprio pincel, relógio do próprio tempo. Desde setembro de 2019, faz arte em tempo integral. Mas é também empreendedor da própria arte, o que exige marketing digital, entregas no Correio, planejamento de projetos.

– Não ganho mais do que na rádio. Não é isso. Mas tô vivendo de arte!

Tanto o rádio quanto a arte vieram de herança.

O avô era radialista. Teve uma rádio própria e inspirou o neto a brincar de locutor desde criança. A mãe é artista plástica e o pai escreve poesias. Caetano, então, não se sente descobrindo o mundo. Mas reverberando vozes de outrora.

– Eu sou uma tentativa de modelo de cópia do que já existe. Em algum momento, sempre teve algo encantador na família.

 

 

Como todos, começou a desenhar ainda criança. Diferente de grande parte, nunca parou. A mãe ajudou na memória de seu acervo. Guardou cadernos, livrinhos, primeiras obras e esboço do que viria a ser o Téo tantos anos depois.

Um quadrinho de 1995, por exemplo, mostra a personagem Thofrinha, que se pronuncia Teofrinha, baseada em uma marionete que Caetano brincava quando tinha cinco anos.

– Eu criei um personagem nessa idade!

Seu avô escreveu ao lado uma observação, antevendo o artista que começara ali. “Quando você for escritor, a principal personagem sua vai se chamar “Thofrinha”.

éo e o minimundo caetano cury

Caetano nasceu em Goiás e aos dois anos foi morar em Guaranésia, Minas Gerais, e depois, aos 12, se mudou para Guaxupé. Viveu os encantos mineiros até os 26, quando veio para Ribeirão Preto, continuar o trabalho no rádio, que começara em 2002 lá em Guaxupé. Atuou na Band News, Rádio CBN e trabalhou também na Adevirp (Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto).  Três anos depois, em 2014, se mudou para São Paulo, na rádio Bandeirantes, onde ficou até setembro do ano passado.

A demissão veio para acompanhar o sucesso do Téo. Depois da Theofinha, lá na infância, ele criou o quadrinho “Caverna do Jedi”, misturando personagens de Star Wars com Caverna do Dragão, publicado pelo site Jovem Nerd. Aos 20 e poucos anos, teve o “Clube do Pança”, outra webtira.  Também trabalhou como ilustrador.

O Téo nasce em 2012, resultado de toda trajetória de artes somada à trajetória da vida.

– O “Pança” não me representava mais…

Caetano entendeu que precisava criar uma marca, um personagem fixo. Não queria deixar de criar coisas não fixas, porém. Téo olha pelo microscópio e o que encontra lá embaixo é um pouco de tudo que habita a mente de Caetano. Personagem fixo com um mini mundo sempre em transformação. Foi construído aos poucos.

A Eulália, a borboleta com quem ele conversa, nasceu só um ano depois. Téo precisava de alguém para dialogar, somar reflexões. Caetano conta que chegou a desenhar um amigo humano, mas não era essa a ideia.

– Ele é misterioso, essa divindade que vê lá embaixo. Com um amigo, não dá. A Eulália sempre aparecia em outros desenhos e não tinha nome. Surgiu.

O artista explica que a ideia do microscópio e do menino foi planejada. As personalidades, porém, foram sendo construídas ao longo dos quadrinhos.

– No começo eu queria que sim, mas não imaginava que ele iria crescer tanto.

A página do Téo no Instagram (@teoeominimundo) tem mais de 100 mil seguidores. Caetano fez quatro mil livros e já vendeu a maior parte, para leitores do Brasil todo. Planeja o lançamento do segundo, para quando a pandemia passar.

Em quarentena, com o caos como cenário mundial, coloca o Téo a observar e a Eulália a refletir.

– Isso tudo oferece inspiração. Não só a quarentena, mas a angústia, o medo que são a base do Téo. O isolamento faz as pessoas se encontrarem consigo mesmas.

O Téo, que já era respiro antes, agora amplia dimensões. Não traz só alívio, entretanto. Mas verdade, às vezes doída, sobre aquilo que nos cerca. Caetano percebe que as pessoas buscam ouvir que tudo vai ficar bem. A mensagem que ele passa, por vezes, é outra.

– Vai ficar bem, mas depois vai ficar ruim de novo. A vida é cíclica, as coisas vão e voltam incessantemente.

Em uma das tirinhas, Téo é confrontado com uma flor que explode. Então, ao redor, começam a nascer dezenas de outras flores. Ciclo sem fim.

éo e o minimundo caetano cury

 – A mensagem principal é que as coisas passam. A vida é assim. Se a gente não se esquecer disso, vai aproveitar melhor a vida. Tá ruim? Vai passar! Tá bom? Ah, deixa eu aproveitar porque vai passar também.

Um menino observa o mundo com um microscópio. O que encontra? Cenários sempre em transformação. Movimento que nunca cessa.

 

 

Para conhecer mais sobre o trabalho do Caetano acesse: http://www.caetanocury.com.br/! 

 

Foto: arquivo pessoal

 

*Quer traduzir essa história em libras?
Acesse o site VLibras, que faz esse serviço sem custos:
https://vlibras.gov.br/

 

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1 Comentário

  1. Zeca Rocêro

    O conheci agora, numa atividade do Projeto Corações & Mentes. Parabéns Caetano, sua Eulália me tocou!

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