Canto de Fernanda tem 20 anos de carreira

22 março 2018 | Gente que inspira

Alguma coisa aconteceu no coração da Fer quando ouviu os discos que o avô colocava todos os dias para tocar enquanto consertava rádios, na oficina feita em casa.

Tinha um pouco de tudo. De música erudita à brasileira.

Ali, no quintal do avô que era todo diversão, ela conheceu as duas paixões da vida. A faculdade de Jornalismo veio do amor dele pela leitura. A vontade de cantar veio da vitrola que nunca parava de rodar.

Do encantamento musical mais gente participou, é preciso dizer. A família era toda música. As tias colecionavam discos raros. Gonzaguinha, Bethânia, Gil, Chico Buarque e Caetano – que emprestou verso célebre para abrir esse texto – estavam no vasto repertório.

Maiorzinha, Fernanda Marx sentava em roda com os irmãos e a mãe, e passavam horas tocando violão e cantando.

A mãe, então, não estranhou quando a menina, aos 13 anos, lhe fez parar de lavar a cozinha. “Mãe, tem que ser agora! É o último dia do teste e quero muito ir!”.

O convite veio de uma amiga inseparável, que havia passado pela avaliação do coral. Fernanda decidiu tentar, para não perder o ritmo “onde uma estava a outra também”.

Pediram que ela cantasse o trecho de uma música à sua escolha. Foi logo mandando “Corsário”, do João Bosco. Tinha visto Zizi Possi interpretar a música em um programa de TV dias antes. Seu repertório, desde sempre, não era mesmo infantil.

– Eles quiseram saber o porquê daquela música. Não era comum criança gostar disso!

Passou no teste e, mais que isso, ganhou segunda casa. Primeira, em muitos dias.

Desde esse momento, ela passa mais tempo no Teatro Minaz do que em qualquer outro lugar. Há 20 anos, ali está seu palco.

Começou cantando no coral infantil, dois anos depois já estava no adulto e não parou mais. Até como jornalista encontrou pouso. Há 10 anos, é assessora de imprensa da instituição.

Quando lançou carreia solo, em 2012, com o show “Flor de Café”, não podia escolher outro lugar. E, agora, dando um passo musical tão alto quanto, o Minaz também foi palco.

Fernanda Marx, vida feita em música, realizou recentemente mais um sonho. Lançou CD Innove, que é sua cara. E já preenche a agenda de shows.

Seu coração, tão tropical, não tem tempo para neve.

Fernanda Marx álbum Innove Ribeirão Preto

Fernanda – é de se imaginar – é do tipo que acorda e dorme ouvindo música. Além do vício em séries, quase não assiste televisão.

Entre os nomes preferidos estão Lenine, Chico Buarque, Bethânia, Caetano e Elza Soares. Heranças de família, como tudo.

Quando fala de Elza, muda a entonação da voz.

– Ah! A Elza!

Fernanda nasceu e cresceu em Ribeirão. O pai trabalhava na prefeitura e a mãe era professora. Além dela, tiveram outros três filhos.

Ensinaram aos quatro que o mar é de quem sabe navegar.

Fernanda não viveu os dias em que pessoas negras não podiam entrar nos clubes de Ribeirão. Mas pegou os resquícios que tamanho preconceito deixou.

Os pais puderam dar aos filhos a melhor formação. E ela diz que, por isso, sofreu preconceito.

– Eu estudei em escolas particulares e na minha sala não tinha negros. Na faculdade, foi a mesma coisa. Mas me barrou? Não me barrou. Eu acho muito legal quando vejo um negro em uma posição massa!

Mulher, negra, quando sobe ao palco leva uma mensagem por si só.

–  Com a música, eu estou conseguindo mostrar que você pode estar em qualquer lugar. Não é fácil, não foi fácil. Eu combato o preconceito mostrando que somos pessoas. Não há diferença.

Quando solta o vozeirão, Fernanda dá seu recado.

E foi assim desde que, vinte anos atrás, telefonou ao Minaz perguntando sobre o teste para o coral. Do outro lado da linha, Gisele perguntava: “Mas quantos anos você tem? Com essa voz?”.

Mas, que nada! Sai da frente que tem mulherão querendo passar! Como já cantou Elza.

 

O caminho até o lançamento do disco Innove, em outubro do ano passado, foi traçado passo a passo.

Foram 14 anos de canto coral para Fernanda decidir seguir a carreira solo. Um pouco antes, em 2009, fez parte de uma banda de blues e passou no teste de fogo.

– Foi minha primeira experiência com público diverso. Eu estava acostumada com o teatro, pessoas sentadas para ouvir. Ali era barulho, cerveja, calor! Foi um teste de concentração. E eu gostei.

Em 2012, assistia ao recital de um amigo, no Minaz, quando pensou que era hora de fazer um show solo. Pensou e definiu data assim: no terminar de um verso.

Era abril. Em outubro, Fer levou aos palcos o show “Flor de Café”, com oito músicos. A equipe confiou que ia dar certo: tudo o que ela tinha a oferecer. Lotaram o Minaz em dois dias de vendas. E fecharam outra casa.

Energia para prosseguir.

No mesmo ano, Fer participou do projeto “Palavra Cantada”, com a Fundação Feira do Livro. E em 2015 lançou o show “Refazendo Gonzaguinha”.

– Eu não gosto de fazer nada que não seja inteiro. Vai ser na hora que tiver que ser.

Decidiu, depois do Gonzaguinha, que era hora de gravar um disco. Não deu para segurar. Explodiu o coração. E se lançou.

– Minha cara é uma mistura! Sou de tudo, um pouco. Porque eu acho que ninguém é uma coisa só. Ninguém é só ruim ou bom. Ninguém é só samba ou jazz.

O Innove tem a cara da Fer. Com composições dela e de outros compositores de Ribeirão e de fora. Tem até participação do Maracatu Chapéu de Sol. E já ganha pernas, disponível em plataformas online e Youtube.

– Hoje, com a internet, um disco corre por tantos lugares que a gente nem imagina.

Se depender dela, o mundo vai ficar pequeno.

– Quero viver na estrada! Até a gente cansar de avião, de mar, de céu. Só não vamos cansar do palco. Dentro e fora do Brasil.

Tem, dentro de si, tudo o que precisa.

– A música? É o combustível! É o que me leva para lugares incríveis e me tira de lugares aonde eu não quero estar. Me colocou, me coloca e vai me colocar em muitos lugares onde eu quero estar.

Na vitrola do avô, a música nunca parava de tocar. No coração de Fernanda, ainda continua.

Vai deixando a pele em cada palco, e olha sempre para frente, parafraseando Chico Buarque para encerrar.

 

Crédito da foto em destaque: Luccas Martins
Crédito das fotos em galeria: Cláudio Frateschi

 

Assine História do Dia por R$ 13 ao mês ou faça uma doação de qualquer valor AQUI! 

Nos ajude a continuar contando histórias!

Compartilhe esta história

0 comentários

Outras histórias