Carla Petroni começou na dança aos três anos e, meio século depois, segue nos palcos

12 abril 2021 | Destaque, Exposição PLURAIS, Memória de Artista, Projetos especiais

               

Esta história integra o projeto “Memória de Artista”, produzido com apoio da Lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo da Prefeitura de Ribeirão Preto.

Por Daniela Penha

As cortinas se abrem para o novo espetáculo que vem!

A dança surgiu na trajetória de Carla como refúgio, aos três anos de vida. Um médico orientou que a pequena fosse para as aulas de ballet desenvolver a fala e o andar, atrasados por excesso de zelo.

 – Eu tive um problema nos brônquios e minha mãe não me colocava no chão. Então, eu não andava. O médico disse: ‘Tem que pôr essa criança para fazer alguma coisa!’.

A dança continuou na trajetória de Carla como refúgio.

Soube que tem dislexia já adulta, quando seu filho caçula nasceu. Na adolescência, carregou rótulos cheios de crueldade e preconceito alheio. Buscava na dança caminhos e respostas.

– Eles falavam ‘é bonitinha, mas é burrinha. Não vai virar médica’. Com a dança, eu pude fazer coisas que não acreditava serem possíveis. Eu podia ser alguém dançando, mesmo não escrevendo tão bem.

Depois dos primeiros passos, tão pequenininha, nunca mais deixou os palcos. Sua própria história, porém, lhe fez somar ao ballet outros sentidos.

– A dança é muito mais do que o plié. Se eles acreditarem que podem virar uma pirueta, vão acreditar que podem ser alguém fora daqui, que tudo é possível.

O Studium Carla Petroni soma 36 anos de trajetória, formando milhares de meninos e meninas para a dança – e para a vida. Alguns, se tornaram profissionais. A professora tem dançarinos e dançarinas espalhados pelo Brasil e pelo mundo – que sempre voltam para dizer como estão. Outros encontraram na dança refúgio e confiança para seguirem seus caminhos.

– Todo mundo tem talento. Basta que você assessore.

Studium Carla Petroni Ballet

Carla conta que, naquela época, 1970, era muito difícil encontrar escolas que aceitassem crianças tão pequenas.

  – Era só por volta dos seis, sete anos que as crianças começavam.

Encontrou uma professora que lhe acolheu, no entanto.

– Ela tinha um olhar para a dança maior do que as pessoas acreditavam. Dizia que se a gente dançasse não teria brigas em casa, problemas, e poderíamos acreditar que tudo é possível. Eu levei isso para mim.

Essa primeira professora era de São Carlos, cidade onde Carla e sua família passaram parte da trajetória antes de se mudarem para Ribeirão Preto, quando ela já estava com seus 15 anos.

Por aqui, foi aluna da tia Anna Pólla, como a chamava cheia de carinho. Depois, já em sua própria escola, levou a querida professora para dar aulas.

– O olhar dela, o caminhar: não havia igual! Ninguém se faz sozinha. A nossa formação é uma soma.

Além da técnica, carregou os detalhes da querida professora, hoje aposentada.

– Tudo dela era impecável. Ela dizia que as professoras e alunas tinham que andar bonitas. Nós não podíamos ter as unhas vermelhas. No ballet, as mãos são o acabamento! Até hoje eu não consigo usar esmalte vermelho.

Carla começou a dar aulas por volta dos 13, 14 anos. Quando fez 18, seus pais decidiram abrir uma escola. Para eles, era um negócio lucrável. Para ela, uma paixão.

O pai vendeu o telefone – coisa caríssima na época – a mãe deixou o trabalho no comércio para assessorar e abriram as portas em 1985.

– Muita gente não acreditava que eu poderia fazer alguma coisa com a dança. Hoje, a escola tem 22 funcionários. A dança traz bem-estar e também trabalho!

Faz questão de dizer que ali tem professores com 30 anos de casa, funcionários que se aposentaram, mas quiseram continuar atuando. A Larissa, seu braço direito na administração, entrou como aluna. Entre os alunos, então, vai passando pelas gerações.  

– Tem meninas que começaram com três anos e hoje dou aulas para suas filhas.

É convidada para casamentos, aniversários, apresentações.

– Eu tenho muito orgulho delas no palco, mas muito mais porque elas me dão notícias! Sou muito feliz por poder participar da vida delas.

 A dança leva longe, ela não tem dúvidas. Esteve na Rússia, conhecendo o ballet Bolshoi, junto com sua aluna, premiada em um concurso. Levou sua dança para a Itália, fez aulas em Paris e Nova York.

– A dança é maior do que as pessoas acreditam!  

O marido é companheiro. Se casou aos 21 anos e, então, ele se tornou também “tio” das meninas, parte de tudo, sempre presente no dia a dia, ajudando nos festivais. Os dois filhos fizeram aulas de dança na infância e seguiram seus caminhos, em outras trajetórias, mas também estão sempre por perto.

Acredita que aprender a dançar vai além dos movimentos corretos, dos passos perfeitos.

 – A gente ensina pessoas por meio da dança. Quem cria a bailarina é a própria bailarina.

  Só está replicando o acolhimento que recebeu, garante.

– Eu tenho esse olhar com os alunos e alunas, porque tiveram esse olhar comigo. Me fizeram acreditar que eu podia.

Nos espetáculos, testes, apresentações, está sempre com seus meninos e meninas. Fica na coxia, torce, vibra, abraça quando termina.

– Não fico na técnica! Tenho pavor!

A cada vez que a cortina se abre, novas borboletas voam no estômago.

– Até hoje é a mesma ansiedade. Entrar no palco é olhar uma luz a mais.

Aos 53 anos, então, não se imagina fora, longe.

– Eu sei que a cortina fecha, precisa fechar. Mas na minha vida isso só vai acontecer quando Deus me levar.

 Em plena pandemia, a escola encontrou formas de continuar presente na vida dos alunos e alunas. Aulas on-line, lives, apresentações em vídeo. O show precisa – sempre – continuar.

– Eu entrava nas aulas delas e falava: ‘Tiraram o pijama? Fizeram o cabelo?’. Esse carinho era o mais importante. Mostrar que cada um é especial.

A dança surgiu para Carla como refúgio, se tornou paixão e, então, dá sentido à trajetórias muitas: a sua e da tantos e tantas que aprendem mais do que os passos.

– Nós temos muitas coisas lindas, muitas piruetas. Mas eu ainda acho que não é só isso. Não é só pirueta. A dança vai muito além.

Mais um espetáculo termina. Quando as cortinas se fecham, a gente entende que tudo vale a pena.

Crédito fotos 2 e 3: Acervo Carla Petroni

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7 Comentários

  1. Luiz Eduardo Arruda Rebouças

    História maravilhosa de superação. Emocionou-me. Sou primo do pai dele, o José Carlos e fui aluno da avó dela no curso primário na Escola dr. Álvaro Guião em S. Carlos. Tornei-me fã e torcedor permanente pelo seu sucesso.

    • BRITES

      Parabéns pela dedicação e amor à dança.Conhecemos muoto bem essa historia.Beijos

    • Taís Dinelli Esperança

      Linda história de vida !!! Uma pessoa especial , extremamente competente e merecedora de todo sucesso !!! Sempre presente em nossos corações ! Um beijo nosso e especial das alunas Luísa e Carol que tanto a admiram e adoram .?

  2. Flávia

    Realmente um exemplo de amor a arte e a vida , parabéns!

    • Maria Cecília Andrade Cristovao

      Parabéns Carla!!! Que história de vida e de Profissional maravilhosa!!! Continue sempre com esse carinho e dedicação aos seus alunos e alunas sempre colhendo os frutos do seu belo trabalho!!!

  3. Patrícia

    Eu sou uma dessas alunas da Tia Carla. Comecei com 7 dancei até os 17 com ela. Fui da primeira turma do profissionalizante e hoje tenho minha própria escola na Vila Madalena em São Paulo. A Tia Carla é minha madrinha de casamento e minha segunda mãe. A O Studium Carla Petroni foi a minha melhor formação. Obrigada Tia! Te amo!

  4. Sônia Banks

    Linda ! Tenho orgulho de você. Muito atenciosa e carinhosa. Te admiro e respeito . Um exemplo de vida.

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