Carlos Fava começou vendendo bananas em uma bicicleta e hoje é gigante no ramo

20 julho 2022 | Destaque, Gente que alimenta, Projetos especiais

Texto: Daniela PenhaFotos: Tatiane SilvestroniIlustração: Cordeiro de Sá – Produção: Vandreza Freiria

“Olha a banana 

Olha o bananeiro 

Eu trago bananas pra vender

Bananas de todas qualidades

Quem vai querer?

(…)

Eu sou um menino

Que precisa de dinheiro”

Foi bem assim que a história de Carlos começou. 

A bicicleta Caloi de 1968 continua lá. Preservada, com a pintura azul brilhante, é hoje troféu. Lembrança de um passado custoso, que escreveu bonito enredo.  

Carlos Fava se tornou um dos maiores distribuidores de bananas do Brasil. Premiada internacionalmente, sua empresa entrega em média 800 toneladas de bananas por semana. São 800 mil quilos da fruta que já estampou os turbantes de Carmem Miranda, foi tema de música e é consumida aos montes no Brasil. 

Cada brasileiro consome, em média, 25 quilos das amarelinhas ao ano, de acordo com pesquisa da Embrapa. Boa parte chega à mesa nos caminhões de Carlos. 

Ele não esconde. Nada sabia de bananas. Não foi um início planejado e planilhado. Só sabia da necessidade. Era um menino quando saiu em uma bicicleta vendendo as frutas de casa em casa para amenizar a situação difícil da família. 

– Eu não tinha dinheiro para nada. Ia estudar e não tinha dinheiro para o transporte, nem para o almoço. 

“A gente não quer só comida, mas diversão e arte”. O menino também sonhava em comprar uma espingarda de pressão, brinquedo comum na época. 

– Eu fui até conseguir. E comecei a gostar. 

Sua história de empreendedorismo já estampou revistas, foi usada por alunos universitários, recentemente esteve na TV e agora está aqui. Carlos é um dos doadores do programa Mesa Brasil no Sesc Jundiaí e, então, um dos retratados do “Gente que alimenta”. Já doou milhares de frutas para quem precisa. 

– Eu sempre fui em busca do melhor. Tenho isso comigo: quando você achar que está bom, ficou perigoso. O outro te engole. 

Fava Frutas Jundiaí Carlos Fava

As ruas do bairro Caxambu, em Jundiaí, viram a bicicleta de Carlos passar. Ali, sua família de origem italiana se consolidou.  O sítio de outrora é hoje a sede da empresa, que acompanhou o crescimento do bairro. A família batizou a rua onde está a Frutas Fava. 

Os tataravós vieram de Mântova em 1889, entre os primeiros grupos de imigrantes italianos que chegaram a Jundiaí. Carlos cresceu imerso na cultura, que se solidificou no Caxambu, conhecido pelos restaurantes de massa e vinho. 

Seu pai tinha um caminhão de frete. A mãe era dona de casa. Ele é o caçula de quatro irmãos. Estudou até o segundo ano do curso técnico de agrimensura, feito junto ao colegial. 

As vendas com a bicicleta já estavam prosperando, a essa altura. 

A ideia surgiu na falta de recursos. Havia um pequeno comércio de frutas no bairro. Ele comprava de lá e revendia em sua bicicleta, de porta em porta. 

Não demorou a dar um passo mais ousado. 

– Eu comprei o comércio sem nada. Com a cara e a coragem. Ia pagando por mês, com as vendas. 

Adquiriu a vendinha da qual comprava as frutas quando tinha entre 17 e 18 anos e tomou a decisão de deixar a escola, não sem pesar. 

– Eu não tinha dinheiro para nada. Voltava da escola de carona, porque não tinha nem para o transporte. Segurava uma placa com o bairro na mão e esperava alguém parar. Decidi largar e abrir meu negócio.

Começou com vontade e só. Mas não teve receio de buscar conhecimento.                                                                                                                                                                                                            

– Eu fazia os testes, dava certo e eu nem sabia o porquê. Fui tentando, foi funcionando. 

Depois de adquirir o comércio, conseguiu comprar duas camionetes e passou a buscar bananas no Ceasa de São Paulo. Armazenava as caixas em dois quartos fechados. Colocava fogo em serragens para amadurecer as frutas com o calor e entregava nas quitandas. 

– Perdia muito… esquentava demais… tinha que acertar o ponto. Até o tempo que fazia lá fora prejudicava… mas fui caminhando… 

Conseguiu construir duas câmaras frias e a distribuição foi melhorando. Conseguia armazenar 100 caixas por câmara.

– Hoje eu sei que toda fruta tem uma temperatura ideal, mas na época não sabia. A banana precisa estar entre 15 e 18 graus, nem mais e nem menos. 

Foi conhecendo, aprendendo, sempre em movimento. 

– Eu fui vendendo e investindo. Quando casei fiquei 12 anos pagando aluguel porque investia tudo na empresa. Sempre achei que aqui teria grandes ganhos, meu sustento. E assim fui indo… 

Fava Frutas Jundiaí Carlos Fava

O número de câmaras ia se multiplicando conforme a demanda aumentava. De duas para 5, depois 15, 21. O crescimento trazia também desafios. 

Fornecendo para supermercados e grandes redes, Carlos percebeu que era preciso criar uma forma de armazenar as bananas que evitasse perdas ao final da jornada. 

– As bananas ficavam em bancas. No final do dia, os supermercados devolviam as frutas quebradas e a gente tinha que repor. Para o consumidor, a melhor banana sempre está lá embaixo. Pega de baixo, coloca para cima. Era muita perda. 

Ele, que nunca havia entrado em uma ferramentaria, criou um ganchinho para armazenar as bananas penduradas. Deu tão certo que patenteou sua criação, 24 anos atrás. Chegavam a fabricar 3 milhões de ganchos ao mês. 

– Até hoje algumas redes têm esse sistema. 

Mais alguns anos se passaram, e ele decidiu mudar novamente. 

– Muitas frutas ficavam penduradas no display e percebemos que estava havendo muita perda de novo. 

Criou, então, um “berço com lona” para que as bananas fiquem bem expostas: vistosas e cuidadas. 

Recentemente, mais uma inovação. Transformou uma Kombi antiga em uma vitrine de bananas. O veículo, todo reformado e reluzente, faz sucesso nos supermercados, rotativo entre as unidades clientes. 

– Todo mundo quer! É uma forma de conquistar clientes novos!

Também foi preciso criar e inovar com o armazenamento. Quando chegou a 47 câmaras frias, percebeu que precisaria de ajuda para cuidar de tantas bananas. 

Os compradores exigem que a fruta esteja no ponto exato: nem muito verde, nem muito madura. É preciso tecnologia para conseguir tal feito.  

Foram meses de pesquisas. Visitou feiras internacionais, conheceu profissionais e equipamentos, quebrou a cuca. 

– Eu nunca acho que está bom. Tenho que ir em busca de mais qualidade. 

A sua ideia era monitorar as câmaras de forma virtual. Mas era preciso encontrar uma tecnologia para isso. Esteve na Holanda, em Berlim, buscou, buscou até chegar. 

– Conheci pessoas que abraçaram o projeto. Fomos comprar os equipamentos na Europa e tive ajuda para parcelar. 

Com o apoio de outro profissional, conseguiu criar uma atmosfera controlada por sensores digitais. A banana sai do campo ainda verde, passa uma semana na câmara monitorada para ficar no ponto exato, na cor perfeita. 

Hoje, suas 47 câmaras contam com esse sistema, que recebeu importante premiação na Fruit Logística, maior feira do setor, realizada na Alemanha. 

– Em 2019, nós conquistamos o segundo lugar na maior feira de frutas do mundo, no quesito inovação. Os alemães que vieram conhecer nossas câmaras disseram que nós criamos o melhor software do mundo. Eu até chorei… 

Chorou, mas não se deslumbrou. 

– O prêmio aumenta nossa responsabilidade!

Sempre em movimento, há 18 anos, começou também a produzir suas próprias bananas, que representam hoje cerca de 30% do que distribui. Quis que a fazenda se tornasse modelo. Até teleférico para transportar as frutas ele implantou, além de separação de espuma entre os cachos, piscina para lavar as bananas, entre outras ideias de vanguarda.  

– A gente se alegra, mas tem que ir à luta. 

Fava Frutas Jundiaí Carlos Fava

Desde quando o comércio era pequenino, lá no começo da história, Carlos procurava estar atento a uma questão (ou várias). 

– A gente buscava ajudar uma creche, uma igreja. Sempre fazendo alguma coisa. Deus deu tanto para a gente, por que não dividir? 

Hoje, ele participa de programas sociais e distribui parte da produção para quem precisa. É um dos doadores cadastrados no Mesa Brasil, em Jundiaí. 

Desde setembro de 2019, quando entrou no programa, já doou mais de 78 toneladas de frutas.

– Eu sempre me coloco no lugar dessas pessoas. Comove… O que vem até você talvez seja Deus colocando. Estamos aqui para servir. 

Conta que se aposentou em 2021. Mas já emenda: 

– Eu nem ligo para essas coisas! 

Aos 65 anos, continua cheio de energia no trabalho que é todo coração. 

– O que eu faço tem muito amor. Eu gosto muito do que eu faço. É bom, mas é um problema porque não desgrudo. 

Brinca.

– Quando a gente gosta, não vê o tempo, não vê nada. 

Como gestor, procura priorizar o diálogo, as relações feitas de afeto. 

– Sozinho a gente não faz nada. Minha equipe sempre me deu forças para chegar onde eu estou.

A família também está no ranking de agradecimentos. A única filha é braço direito. 

– É uma alegria que não dá para dimensionar. Tenho muita fé e agradeço muito a Deus por ter me proporcionado tudo isso.  

Já pensou em trabalhar com outras frutas. A amarelinha parece reluzir entre todas as cores, entretanto. 

– Eu tenho um caso de amor com a banana. Em qualquer lugar que eu vou, nas viagens, fora do país, eu entro nos mercados para ver como está a banana, como está exposta, os preços. 

Difícil enfrentar falta de potássio. Rodeado delas, tem sempre uma banana à mão. E come sem moderação. 

– É uma paixão com essa fruta! 

Diz que está vivendo um dos melhores momentos que já teve na vida. 

Será tempo de colheita? 

– A gente se alegra, mas tem que ir à luta. 

Nunca para de semear. Assim, os cachos estão sempre carregados. 

Yes, nós temos bananas! E Carlos também! 

Olha a banana, olha o grande distribuidor: hoje a música mudou! 

Conheça mais sobre o Mesa Brasil

Que tal criarmos uma ponte entre quem precisa de ajuda para matar a fome e quem pode e quer fazer o bem? Uma ponte que consiga unir essas duas pontas, fazendo com que os alimentos que sobram para um cheguem à mesa do outro? 

É isso que faz o programa Mesa Brasil, criado pelo SESC SP há 27 anos e presente em todo o país.

Caminhões coletam diariamente doações de alimentos com empresas, supermercados, cerealistas, produtores, entre outros fornecedores e entregam para instituições sociais e hospitais. Só em São Paulo são 30 caminhões circulando todos os dias para atender 95 cidades paulistas.

Realizando a coleta e a entrega dos produtos, o Sesc São Paulo facilita o caminho para quem quer doar e garante que toneladas de alimentos que seriam desperdiçados cheguem à mesa de quem precisa: uma rede de combate à fome! 

Em 2021, foram 1341 instituições sociais beneficiadas, além de milhares de famílias que levam alimentos direto para suas casas. As 1191 empresas doadoras fizeram 6,4 milhões de quilos de alimentos chegarem à mesa de quem precisa.

Em Jundiaí, o programa foi implantado em maio de 2019 e já distribuiu mais de 706 toneladas de alimentos, para 44 entidades cadastradas. Ao todo, quase 9 mil pessoas foram beneficiadas pela solidariedade de 63 instituições doadoras.

O projeto “Gente que Alimenta” conta as histórias de quem faz esse programa do bem acontecer: doadores e instituições que precisam de apoio para continuarem suas atividades. 

Quer saber mais sobre o Mesa Brasil? Quer se tornar um doador? Acesse o SITE AQUI e se encante ainda mais com esse bonito programa! 

Leia mais histórias do projeto

Compartilhe esta história

3 Comentários

  1. Ir.Maria Cleia Franca

    Linda história.. Parabéns Carlos pelas conquistas..Deus continue abençoando este coração generoso..

    • Gilberto da Rocha Gomes

      Eu sei das dificuldades dele ele fez o que fez

  2. Gilberto da Rocha Gomes

    A logística e sensacional eu ouvi falar muito bem a logística da banana e muito bom gostaria de entrar

Outras histórias