Quem chega ao parque Raia para o passeio de domingo encontra Ana e Francisco na porta, com plaquinhas e água gelada. “Ajude-nos a casar!”, ela anuncia. “Compre uma água”, ele complementa.
Os preparativos começam na quinta-feira. O casal compra os fardos de água, tira tudo o que consegue da geladeira de casa e coloca as garrafinhas para gelar. Com sacolinhas e garrafas pet fazem o gelo.
No domingo, acordam às 6h30, lotam a caixa térmica no porta-malas do Opala e partem para o parque, na torcida por boas vendas.
Desde que o ano começou, tem sido assim. Foi a solução que encontraram para não deixar morrer com o desemprego o sonho que já tinha data, igreja reservada e ansiedade de noiva e noivo.
– A gente quis lutar juntos, para conquistar esse sonho que é nosso.
É Ana quem diz.
Tudo ia bem nos preparativos.
Em 7 de outubro de 2015, Francisco Cirino, 24 anos, preparou um jantar e, depois de quatro meses de namoro, pediu Ana Lúcia Sanches, 21, em casamento. A comida era congelada, ela conta aos risos. Mas o “sim” estava garantido de todo jeito.
Na época, ele trabalhava em uma empresa de família. Ana faz faculdade de Arquitetura e estava em busca de estágio. Fizeram as contas e, guardando um pouquinho por mês, o casamento estaria pago até 2017.
Marcaram a data: 7 de outubro de 2017, dois anos depois do pedido. Reservaram a igreja, fecharam o pacote de fotos, o buffet, o lugar. Tudo sonhado a dois, para ser pago em prestações.
Ana chegou a criar uma página no Facebook, “Diário de uma noiva”, para postar suas inspirações para o casamento.
No ano passado, os contratempos vieram.
O casal decidiu morar junto, a empresa não ia bem e Francisco precisou deixar o emprego. Passou meses buscando algo, sem conseguir. O estágio de Ana não era remunerado. Ela começou a buscar trabalho mas, pela falta de experiência, ainda universitária, não encontrou portas abertas.
Para as despesas do mês, o casal tem apoio da família, aperta aqui e ali. O sonho do casamento, porém, começou a ficar distante.
A água viria como solução.
Ana e Francisco tiveram que vencer a timidez para vender as garrafinhas.
A mesma timidez que levou ao encontro dos dois. Eles quase não saiam de casa e a internet era companheira. Se conheceram em uma rede social de relacionamento, por um erro do GPS.
Francisco morava em Guariba, região de Ribeirão Preto. Ana estava a 300 quilômetros dele, em Pouso Alegre (MG), visitando os pais. O celular rastreou Francisco como amigo próximo, a 80 quilômetros. Quando começaram a conversar, perceberam o acaso.
– Foi uma falha do programa que fez a gente se encontrar! A gente se falava o tempo todo.
Quando Ana voltou para Ribeirão, marcaram um encontro. Era 12 de junho de 2015 e ela foi logo avisando que não estava em busca de um namoro.
Quatro dias depois, estavam namorando. Quatro meses se passaram e já estavam de casamento marcado.
– A gente escuta muita crítica. Mas se já encontrou a pessoa que quer ficar junto, não sei porque determinar a idade para construir uma família.
O amor de Ana vem em palavras. O de Francisco, nos carinhos. Enquanto a noiva conta a história, ele abraça, aperta a mão, afaga o cabelo quando a emoção leva ao choro.
– O casamento para mim, além de ser um sonho, é a gente formar nossa família. Ter nossas coisinhas, os nossos filhos, a nossa vida.
E se expressa também.
Foi um amigo quem sugeriu a venda das águas. Conhecia uma distribuidora e insistiu que poderia dar certo. Ana e Francisco tiveram medo.
– Se a gente pegasse os fardos e não vendesse, seria mais uma despesa para pagar.
O amigo, então, comprou as primeiras garrafas para não ter margem de desistência.
No primeiro final de semana de vendas, a ansiedade dos noivos era tanta que chegaram ao parque às 6h40. Não tinha ninguém. Mas, quando o movimento começou, a venda foi certa.
Passaram a chegar às 8h, aos domingos. E já são recebidos com carinho, que surpreende Ana.
– Todo mundo quer saber a história, a data do casamento. Muita gente brinca. A gente não esperava.
A dona de um buffet que conheceu os dois na venda de água ofereceu bico de garçom e mais um dinheirinho começou a entrar.
Desistir do sonho passou a não ser única opção.
Reduziram a lista de convidados, fizeram curso de flores em EVA para a decoração e Ana vasculha a internet em busca de ideias econômicas e bonitas.
O casamento vai ficar em R$ 24 mil, para 130 pessoas, e os dois ainda precisam pagar R$ 17 mil. Explicam que tiveram que usar parte do dinheiro das águas para pagar contas vencidas, que pesam demais para a família.
Vendem, em média, 60 garrafinhas de água a R$ 2 por domingo, com lucro de R$ 70.
E acreditam que vai dar certo.
Francisco se forma em agronomia no final do ano, tem uma entrevista de emprego nessa semana e retomou o otimismo. Ana se forma em Arquitetura e, até lá, continua buscando emprego. Constroem o caminho pouco a pouco.
– A gente deixa de fazer muita coisa. Os amigos saem, vão a barzinhos, e a gente não. Mas é para realizar um sonho, né?
O sonho é casar. Sem grandes exigências. Querem o sentimento.
– Eu quero um vestido bonito, entrar na igreja, ver o noivo chorando no altar. É isso.
Ana sonha, Francisco participa. De garrafa em garrafa, vão deixando mais real. Ontem, o estoque acabou antes da hora e venderam 36 garrafas além da média. O sonho ficou R$ 112 mais perto.
Aninha e Francisco, me orgulho muito de vocês. Continuem batalhando que seus sonhos serão conquistados!!!
PARABÉNS PELA INICIATIVA UMA HISTORIA LINDA