Por Daniela Penha
Patih queria um vestido para comemorar seu aniversário de 38 anos. Percorreu lojas e mais lojas de Ribeirão Preto sem encontrar o que buscava. Comprou aquilo que serviu, por um alto preço. Usou o vestido, no máximo, três vezes.
Hoje, olhar para a peça encostada no guarda-roupa é uma forma de reforçar suas escolhas profissionais e pessoais.
– Está além da venda e da roupa. É a minha realização. Além de ajudar outras mulheres, meu trabalho é um processo de cura para mim mesma, me reconhecendo como mulher negra, gorda e forte.
Cores, estampas e – muitos – tamanhos. Na arara de roupas de Patih Borges, a diversidade faz parte da costura. Formada em Publicidade e Propaganda, com MBA em Comunicação e Marketing, desde março do ano passado, com a busca frustrada pelo vestido, ela trabalha como consultora de moda, ajudando a resgatar a autoestima de mulheres – e fortalecendo a sua própria.
Corpo é para a gente amar do jeitinho que é, ela procura mostrar, vestindo mulheres magras, gordas, negras, brancas, altas, baixas, de todas as idades. Mulheres, e ponto.
Em menos de um ano com o Blogueirar Plus, Patih atendeu mulheres a perder as contas, em todo Brasil. Ela presta a consultoria presencialmente, na sala de sua casa, em Ribeirão Preto, e também pela internet. Já mandou roupas até mesmo para Santarém, no Pará. E vai listando: Santa Catarina, Minas, São Paulo.
O nome da marca, é preciso salientar, não vem de Plus Size, como pode-se pensar.
– Esse “plus” é do algo a mais. Da moda sem padrões, para todas.
Quem “blogueira” são as clientes. Daí a aquisição do novo verbo.
– Quando elas se encontram, se sentem bonitas, vão ‘blogueirar’ por aí!
Esse “encontro”, aliás, é necessidade urgente. Patih atende, diariamente, mulheres acuadas, machucadas, apagadas.
– Até a postura delas é para baixo. Elas precisam de um abraço, de um afago. Eu me vejo nelas. Queria ter recebido esse tratamento. Tem umas que até choram, sabia? Elas saem tão satisfeitas…
Não só elas. Patih, que nunca havia se encontrado em suas áreas profissionais de formação, diz que, agora, também se encontrou.
– Eu li uma frase da Chanel que dizia que uma pessoa bem vestida encoraja as outras pessoas. E você fica bem vestida quando você se encontra.
A força de Patrícia é herança de mãe, que precisou cuidar dos dois filhos sozinha quando o pai foi embora. Patih tinha dois anos e seu irmão três.
Sua mãe trabalhou como diarista e, ainda hoje, aos 58 anos, passa roupas para fora, porque não consegue ficar sem o trabalho que tanto fez parte da rotina.
Patih nunca mais viu o pai. Foi criada por mãe, mulher forte, inspiração.
– Ela é meu orgulho.
Pela história que viveu, sempre prezou pela liberdade. Diz que casar nunca esteve em seus planos.
– A liberdade é não aceitar ser julgada. Primeiro, nós tivemos que ser reconhecidas como seres humanos para depois lutarmos pela nossa liberdade como mulheres.
Também de pequena precisou aprender a dizer “não” ao preconceito.
– A escola foi uma violência tremenda na minha vida. As crianças não brincavam comigo e uma amiga por sermos negras. O cabelo era a pior questão. Sempre era assunto: amarrado, solto, com trança. Não importava…
Ainda hoje ela vê a surpresa no olhar de quem não entende que mulheres negras podem ser donas do próprio negócio.
– As pessoas não estão preparadas para ver uma mulher negra à frente do seu empreendimento e nem mesmo para atender pessoas negras com condição de compra. Elas sempre me perguntam: “A loja é sua? E quem é o sócio? É um coletivo?”. E quando vamos comprar, a pergunta é: “Mas você pode pagar?”.
Por essas questões, a mulher negra é o foco do Blogueirar. As gordas também estão entre a principal clientela. Mas Patih ressalta que toda mulher é – muito – bem-vinda.
– Elas compram, pagam caro e não se sentem felizes porque era o que serviu e não o que elas queriam. Eu quero mostrar que não é assim. Você não precisa usar a roupa que te coube. A mulher gorda pode ter o estilo dela.
Patih diz que é a vitrine da loja – com muito orgulho! Já fez contatos no rolê, sendo elogiada por outra mulher. União de forças.
Ela atende na sua própria casa, na casa da cliente ou, quando a mulher é de outra cidade, pelo Whatsapp. A proximidade, porém, é essencial perto ou longe.
– Elas precisam se sentir à vontade. Eu quero que elas se reconheçam e se empoderem.
Patih diz que não é tarefa simples encontrar tamanhos maiores de roupas, no estilo da pessoa. Mas não para enquanto não acha. Busca roupas fora de Ribeirão, faz contatos com fornecedores, vai formando uma rede de fabricantes que se atentam para todas as formas.
Se for preciso, faz ajustes com uma costureira/amiga. E não tem tabela para chegar ao estilo de cada uma.
– Como vamos responder um questionário para descobrir nossa essência? Eu acredito na conversa! Em provar a roupa, vestir vermos juntas!
Se percebe que a cliente está em dúvida, vai logo avisando:
– Você vai usar? Se não for, deixa a roupa aí e vamos procurar algo que você realmente use!
Defende que roupa foi feita para repetir, sim.
– Por que não? Vamos fazer um composê! Usar o que você tem no guarda-roupa!
O objetivo é crescer com o Blogueirar. Junto mesmo: pessoa e empreendedora.
Patih quer ampliar as vendas e já pensa em ter uma confecção própria, com a sua marca.
– Ser uma mulher negra é lidar com as dores e as delícias. Eu amo o axé da minha gente, minha ancestralidade, minhas mães negras e minhas irmãs que me dão força para ser quem eu sou. Eu quero o mundo e ele já é meu.
Na força das mulheres que ajuda, reforça a sua própria. E compartilha a importância da união de mulheres de todo tipo, dispostas a somar. Trocando o julgamento pelo acolhimento, com a mão estendida.
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