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Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 18 de abril de 2018!
Ele chegou ao conservatório porque queria fazer música pela vida toda.
Não conhecia, porém, o estilo musical que iria inverter papeis. O chorinho é que faz de Alexandre instrumento de propagação. Pelas mãos do jovem, a música brasileira continua viva!
– Eu descobri o chorinho no conservatório. E foi um choque.
Foi a uma apresentação dos professores. E o corpo todo se deixou contagiar.
– Eu não sei nem descrever. Foi muito forte. Fiquei emocionado. Arrepiei do começo ao fim. E senti: é isso!
Desde então, mais que tocar, ele espalha o chorinho de norte a sul. Faz o gênero musical chegar à praça e ao teatro, aos ouvidos de quem quiser ouvir.
– As pessoas não tem oportunidade de conhecer o chorinho, porque não toca na TV, no rádio. Estar na rua, então, é muito importante para mostrar para as pessoas que isso existe. E que é a nossa música.
Alexandre começou a tocar violão aos 12 anos.
O pai o levava aos Concertos da Juventude, no teatro Pedro II. E o encantamento resultou no pedido:
– Eu pedi que ele me comprasse um violão para fazer aula. Mas ele achou que não iria durar muito, porque na escola eu era muito preguiçoso. Comprou um instrumento bem ruim.
O pai foi surpreendido.
Alexandre até passava alguns dias longe do violão na adolescência, envolto pelo skate e pelos amigos. Não mais que uma semana, porém.
– Parece que desde que eu comecei a tocar tinha na cabeça a ideia de fazer isso a vida toda.
O pai não demorou a presenteá-lo com um instrumento melhor. Hoje, é o fã número zero, sempre presente nas apresentações do filho.
Alê terminou o colegial já certo sobre o que queria da vida. Passou seis anos no conservatório de Tatuí.
Quando entrou, em 2004, se matriculou no curso de guitarra. Depois da apresentação de chorinho, precisou somar habilidades.
– Eu comecei a frequentar as rodas, mas não tocava nenhum instrumento de choro.
Percebeu que sempre faltava o músico do cavaquinho. E decidiu tentar.
– A ideia era aprender só para a roda. Não era sério. Mas um professor viu que eu gostava e me incentivou a entrar no curso.
Que sorte a nossa! Quem já ouviu o músico tocar sabe bem: Alexandre faz chorar em melodias as cordas do instrumento. E contagia quem ouve com a emoção que sente.
Voltou para Ribeirão Preto em 2010. E começou a trabalhar com música.
Diz, porém, que por aqui não havia grupos de choro. Entrou, então, em um grupo de samba.
Juntavam gente no bar Maria Cachaça, com o “samba da vela”. Acendiam a chama e só podiam parar de tocar quando o fogo chegasse ao fim.
– A gente percebia que o repertório começava com os melhores sambas, mas o pessoal ainda não estava no auge da animação.
Alexandre teve a ideia: por que não começar tocando chorinho? Os músicos nunca haviam tocado o estilo. E foram tão contagiados quanto ele!
– Eu não acreditei muito que iria para frente. Achei que era mais pelo momento.
Tal qual o pai com o violão, Alexandre foi surpreendido.
Meses depois de começarem a tocar chorinho, os integrantes do grupo estiveram em um grande festival em Leme, e o encantamento foi fatal.
– Começamos a organizar rodas, encontros.
Passaram a tocar no Bar do Chorinho às segundas-feiras, por estratégia.
– Era um dia mais tranquilo no bar e, então, era um jeito de estudarmos.
Estratégia que logo falhou.
– O bar começou a ficar lotado! A gente brigava com o público, espalhava plaquinhas pedindo silêncio.
Foi na mesma época, em 2012, que nasceu o Projeto Choro da Casa, com o 1º Festival de Choro de Ribeirão Preto.
Desde então, a roda nunca mais se desfez. Trocaram de palco, no entanto.
Perceberam que na praça, a céu aberto e sem preço, o alcance do chorinho é geral.
– Não é todo mundo que pode ir para o bar.
Toda segunda-feira, reúnem músicos em roda logo abaixo do relógio, na praça XV, em frente ao teatro, quarteirão mais histórico da cidade.
A cada músico que chega, a roda se abre um pouco mais. O público se acomoda em volta para assistir. Mesmo os frequentadores assíduos deixam a boca se abrir de encantamento.
É o nosso chorinho invadindo ruas e corações!
Alexandre diz que o Projeto Choro da Casa é social.
Os músicos não são remunerados pelas atividades que desenvolvem. Vão a escolas, creches e asilos levar o choro. Organizam tributos e oficinas de instrumento no Centro Cultural Palace.
– Quando há dinheiro envolvido, pessoas que não fazem com amor se aproximam. Hoje, o projeto reúne pessoas por amor à música.
Fala do chorinho, mais que músico, como apaixonado.
– É a primeira música urbana no país. A raiz da música brasileira. Uma árvore sem raiz, cai. A música brasileira é totalmente dependente do choro.
Desenvolve pesquisas sobre compositores de Ribeirão Preto. E realiza tributos aos nomes da música local.
Não considera, entretanto, o chorinho música antiga.
– Eu considero o choro como uma música que não parou. Foi evoluindo, evoluindo. Então, para mim, soa como moderno. Muito moderno.
Entre os grandes nomes, cita Pixinguinha e Jacob do Bandolim, que ganhou tributo em março, no teatro Pedro II, com Alexandre no cavaquinho.
Para ele, fazer música não é dom.
– Tem que ralar muito. Existe facilidade. Mas se tiver facilidade e não estudar, não adianta nada.
Passa, assim, horas incontáveis da semana tocando. Sempre que pode, está com o instrumento em mãos.
Para o futuro, espera que a música boa se espalhe mais e mais.
– Em um mundo com tanta violência, desenvolver a sensibilidade não é ruim. A música faz bem por isso. Muda as pessoas.
Tem seus motivos.
Já no final da entrevista, passamos pelo carrinho de pipocas no calçadão ele se lembrou de contar sobre o nascimento do choro dentro de si.
Alexandre era menino. Um pipoqueiro passava pela Vila Tibério tocando chorinho em um radinho. O menino ficou fascinado!
Não sabia o nome do estilo musical que roubou seu coração. Foi saber anos depois, extasiado com a apresentação no conservatório.
Comprovou, porém, o que a emoção sinalizou: o chorinho sempre esteve dentro de si.
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