Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 16 de agosto de 2017.
Dicionário
Bússola
Intenção
Uma a uma, as palavras vão deixando a mente de Guto para habitar o papel.
Às vezes, saem todas de uma vez. E, para não deixar o verso ir embora, o poeta observa o mundo em volta com caneta na mão.
“Quem tem o dicionário como bússola
Não se perde na intenção das palavras”
Está formado o pequeno grande poema.
O dicionário é mesmo a única bússola a que o poeta recorre. Nicolas Guto tem alma livre, do tipo que voa pela madrugada em busca da última cantoria no boteco da esquina.
Por isso, nunca se adaptou ao comum, à regra, à carteira assinada.
Formado em publicidade, decidiu ser livre pela sua poesia. E já publicou, de maneira totalmente independente, quatro livros com 280 delas.
Tem muito mais a publicar, avisa. A criatividade pulsa sem parar na mente que enxerga o universo com óculos de literatura.
Ao mesmo tempo, numa contradição que só a poesia para comportar, ele tem as raízes bem firmes na Ribeirão Preto onde passa grande parte dos seus 50 anos.
– Tem gente que fala que eu não saio mais de 100 quilômetros longe de Ribeirão.
Para viajar longe, tem a poesia. Com a distância que não se calcula em números, mas em pausas e recomeços.
“Licença
Meu coração saiu do peito para dar uma volta
Ele disse que só volta quando eu tomar jeito”
Aos 17 anos, Guto deixou nascer a primeira poesia.
A intenção era escrever música, ele explica. Aprendeu a tocar violão e tudo. Mas os poemas começaram a andar com ritmo próprio e, quando viu, Guto era poeta.
Trabalhou um tempo em publicidade, foi inspetor de aluno e hoje faz bicos. Depois de tantos anos escrevendo, sabe bem:
– Não dá para viver de poesia!
Vive para a poesia, não há como negar.
Foi só aos 40 que publicou o primeiro livro. Diz, então, que uma parte inteira de si nasceu ali, nas folhas impressas dessa primeira coletânea, lançada em 2007.
– A minha vida literária começou aos 40 anos.
“Dê uma chance para a poesia”: é o que pede Guto, no título da primeira obra.
Vendeu mil exemplares, expôs na Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto e tomou gosto.
Em 2011, lançou “Um guia de como se perder”. Não é para isso que cá estamos, afinal?
– É tudo feito por mim e um amigo meu.
Ressalta, explicando a independência das edições.
O livro de 2014 foi comemorativo: “30 anos de poesia”, e neste ano veio o “Quarto Livro”.
Todos os lançamentos foram em bares que o poeta frequenta nos dias quentes ou frios.
Entre um livro e outro, em 2008 criou uma forma de, em fato, vestir poesia. Começou a produzir e vender camisetas com seus poemas.
– O pessoal gosta muito. E elas levam a poesia longe, para lugares que talvez eu não vá fisicamente.
Espalhou, de vez, suas palavras por aí.
“Amor não tem uma definição única
Mas é sempre a melhor resposta do sentimento”
Transformar, enfim, suas poesias em música.
Unir poema e publicidade.
Ser conhecido como alguém que leva informações, boas vibrações.
Os sonhos de Guto são muitos.
– O princípio geral do universo é o sonho. O sonho em si é nunca deixar de sonhar.
A ansiedade, ele diz, é palavra que acompanhada. E não reclama.
– Eu reflito muito. Muita gente acha que é perda de tempo refletir sobre coisas que não trazem resposta imediata. O poeta pode ser um instrumento das ideias que ficam por aí.
Poesia é introspecção? Não para Guto. Conversador, cheio de amigos.
Para ele, poesia é espaço. Espaço que gosta de compartilhar.
– É um lugar para correr dentro de você. Fazer suas reflexões. E quando eu consigo atingir uma pessoa com poesia, eu fico feliz.
Faz questão de registrar todas as suas poesias na Biblioteca Nacional, guardar os direitos das suas palavras.
– Eu não vou ficar aqui. As poesias vão.
Para viajar longe, tem a poesia. Num tempo que não se calcula nos relógios.
Mas em pausas e recomeços, eternos a cada nova leitura.
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