Comercial de David é herança de avô

7 dezembro 2018 | Gente que inspira

Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 24 de outubro de 2017!

 

O avô estava se arrumando para sair quando foi abordado pela pergunta curiosa do menino: “Aonde você vai?”. Respondeu que ia a uma reunião. E convidou David, que aceitou de pronto a ir junto.

O menino, 4 anos, não poderia supor que aquela reunião era feita em campo, com um tantão de gente ansiosa gritando gol. O avô lhe apresentou o Comercial, lhe comprou uma camisa e entregou ao menino, como herança, uma paixão.

– Desde então, eu nunca mais desgrudei do time.

O avô faleceu oito anos depois. E David, que tinha nele uma figura de pai, encontrou no campo seu refúgio.

– Estar no Comercial é uma forma de estar em contato com meu avô. É um valor que ele me deixou e eu carrego até hoje.

Vai ver por toda essa história, David Isaac fala de futebol escolhendo palavras sérias e sem qualquer piada ou provocação ao adversário em uma hora de entrevista.

– Eu brinco com tudo na vida. Sou conhecido por brincar exageradamente. Mas, com futebol, não. Futebol é uma coisa que eu levo muito a sério.

Desde 2007, ele participa do conselho do comercial. De 2012 até este ano como presidente e, agora, está na vice-presidência.

Entende que ser torcedor é mais que gritar gol e se enfurecer com o passe errado do centroavante nos 90 minutos da partida.

– O jogo é o objeto social do clube. Mas é preciso toda uma estruturação, que vem desde a categoria de base. Nelson Rodrigues tinha uma frase que dizia: ‘Nem a morte pode eximir o torcedor do seu dever clubístico’.

 

David não assiste aos jogos sem um potinho com amendoim daqueles com casca grossa. Vai descascando os grãos e acalmando o coração.

Quando percebeu que a pressão estava alta, soube logo qual médico buscar.

– Eu pensei: vou procurar um médico comercialino, que vai compreender meu problema.

Antes do jogo, ele toma um remédio e prepara os amendoins que diz serem “tranquilizantes”.

Mostra a foto do filho, que hoje tem três anos, saindo da maternidade. A primeira roupinha que vestiu foi um macacão branco e preto com o aviso: “Ufa, que bom que nasci comercialino”. Com três meses de vida, o pequeno foi com o pai ao estádio. Mas David diz que não há pressão:

– Não quero forçar. É natural. Se ele aprender a gostar como eu aprendi, vou ficar muito feliz.

 

Em outubro de 2017, o Comercial comemorou 106 anos. David não esconde que o clube passa por uma crise.

Por outro lado, continua a bradar a importância do principal rival do Botafogo. Times que dividem ribeirão-pretanos – até da mesma família.

– Enquanto os rivais se felicitarem com nossas derrotas, estaremos sendo um grande clube. No instante em que formos indiferentes é porque nos tornamos um time de menor grandeza.

Quando fala da importância dos times para a cidade, faz uma lista que vai da geração de emprego as questões culturais.

– São times centenários. Que levam o nome da cidade há 100 anos. O Comercial tem o nome de Ribeirão no seu próprio distintivo.

Bem por isso, para ele, futebol é coisa séria. E torcer é fazer parte.

– Não tô querendo fazer cobrança. Tô levando meu espírito. Mais que o sacrifício de ir ao jogo, é preciso o sacrifício de manutenção do clube. É diário. A maior loucura que se pode fazer pelo time é, muitas vezes, abdicar da vida pessoal e profissional em prol do que precisa ser feito.

O avô estava se arrumando para sair quando foi abordado pela pergunta curiosa do menino. Desde então, o coração – e a saudade – de David é gravado em branco e preto.

 

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