Depois de terem três filhos biológicos, Fabiana e Jeames adotaram outros cinco

14 agosto 2019 | Gente que faz o bem, Histórias do Proac 2019/2020

Esta história foi narrada pela jornalista Daniela Penha. Para ouvi-la, é só clicar no play: 

 

O sofá da sala tem quatro metros. Chegou junto com as crianças, quando a família dobrou de tamanho. Ainda assim, é preciso apertar para que os pais caibam. Ninguém se importa. Tem até briga para ver quem senta perto de quem.

Ezequiel, 12 anos, Natália, 13, Laysa, 16, Davi, 5, Elias, 7, Levi, 10, Laura, 16, Yasmin 13. Oito filhos recebidos com sofá espaçoso e coração mais ainda.

Laura, Yasmin e Levi chegaram primeiro. São os filhos biológicos de Fabiana e Jeames. Por isso a surpresa. Quando o casal decidiu adotar, pouca gente compreendia: mas vocês já não têm três filhos? Fabiana tentava explicar – e ainda tenta. Mas concluiu que palavras não são suficientes para as questões de dentro.

– Não tem como falar… aconteceu… parece que eles sempre estiveram aqui.

Acomodar a casa para a chegada de Ezequiel, Elias, Davi e Natália exigiu um tanto de esforço. Em um primeiro momento, venderam o carro que tinham, compraram um mais simples e fizeram a primeira reforma. Quando a filha “caçula” veio, Laysa, um ano depois, foi preciso uma nova mudança. Venderam, então, o carro mais simples, construíram mais um quarto. Hoje, são três quartos, divididos pelos oito.

Ficaram sem carro, mas com o sofá repleto de filhos e amor.

– Ser mãe é abrir mão do seu sonho para viver o sonho deles. Queremos que eles possam viver coisas que ainda não viveram e que entendam que não são limitados pelo que passaram. São capazes de chegar mais longe do que a gente chegou.

Fabiana e Jeames Argentato

Fabiana Argentato conta que desde pequena pensava em adotar uma criança. Quando conheceu Jeames Argentato, aos 13 anos, uniram os sonhos. Foi um susto para os pais dela um namoro tão cedo! Eles haviam acabado de chegar em Brodowski, deixando o Pernambuco.

Aos 14, Fabiana fugiu de casa para viver seu amor. Ele tinha 20. Muita gente achou que não iria dar certo. Mas deu.

Quando ela tinha 19 e ele 25, nasceu a Laura. A mãe até cogitou ficar só com ela. Sabe como é: trabalho, casa, crianças. A rotina é puxada! Mas Jeames queria mais um pequeno para a família. Veio, então, a Yasmin.

Aquela vontade de adotar continuava lá dentro. Decidiram, então, que seriam “família acolhedora”. Acolhiam crianças por algum tempo, até que elas tivessem um lar permanente.

Deu certo até um momento. Acolheram uma bebê com 10 dias de vida. Ficaram com ela até os três meses. Quando chegou a hora de entregá-la, o sofrimento foi grande.

– Ficou um vazio, uma perda.

Fabiana e Jeames Argentato

O Levi, terceiro filho biológico, já havia nascido quando os pais entraram para a fila de adoção. Depois dele, Fabiana fez laqueadura. Queria mesmo que os próximos filhos nascessem no coração. E assim foi.

Deixaram um perfil bem amplo: sem exigências com idade, acolhendo irmãos. Até três, era a ideia.

– A adoção era um desejo do coração, mas nunca imaginamos ter uma família tão grande!

São as palavras da mãe.

Quando a equipe ligou dizendo que havia quatro irmãos em busca de uma família, os pais tiveram medo. Já estavam esperando havia dois anos.

– Nós ficamos assustados. Será que a gente dá conta? Mas depois pensamos: onde cabem seis, cabem sete!

Foram até a cidade da região onde as crianças estavam e começaram o processo para conhecê-los. O amor nasceu antes do primeiro contato presencial, no entanto. Por vídeos e fotos já sentiram que ali estavam os esperados filhos.

Foi tudo muito rápido. Depois de duas semanas, Ezequiel, Natália, Davi e Elias foram passar o final de semana na casa de Fabiana e Jeames. E não saíram mais.

– O medo já não era de não dar conta. Era de não dar certo!

Em pouco tempo, os sete filhos pareciam parte da casa. São dois anos de convivência no papel. Uma vida toda para os pais.

Ué! Mas tá faltando uma! Era isso que Fabiana e Jeames sentiam.

Durante o processo de adoção dos quatro irmãos, conheceram Laysa no abrigo. Ela e Fabiana ficaram próximas, começaram a conversar, trocaram histórias.

Depois da primeira adoção, os pais sentiam que haviam deixado uma filha para trás. E decidiram buscá-la. Foi difícil para a Justiça entender os motivos.

– Eles queriam saber o porquê. Achavam que não ia dar certo. Mas a gente insistiu. Para dar certo, as duas partem têm que estar dispostas, independente do nosso passado e do deles.

Um ano depois da primeira turma chegar, Laysa veio para apertar o sofá de amor.

 

Na primeira noite de Davi na casa nova, o caçula da turma, que na época tinha três anos, encheu o pai de perguntas. “De quem é essa casa?”, “Eu vou morar aqui?”, “O que é pai?”.

O último questionamento marcou a construção da nova família. Era preciso reconstruir laços, refazer o carinho. Hoje, dois anos depois, Davi já sabe o que é pai.

– É quem dá comida, banho e abraço.

Diz, com uma simplicidade profunda.

Cada filho tem uma personalidade, um jeito, uma história. Cada um, então, tem sua opinião sobre a grande família e os pais que ganharam – biologicamente ou não.

– Eles estão sempre com a gente se estamos passando por alguma dificuldade. Se a gente faz alguma coisa errada, eles não deixam de amar. Estão sempre estendendo as mãos.

São as palavras de Levi.

A rotina – claro! – não é nada simples. Os pais se dividem e se multiplicam para dar conta de tudo. Uma parte vai na escola de manhã, a outra a tarde. A mãe trabalha meio período como costureira, o pai é pastor e atua com projetos sociais. É um entra aqui, sai ali, busca um, deixa o outro. E ninguém reclama. Usam um carro emprestado – já que venderam o próprio para as reformas.

Na casa, cada um tem sua função. Varrer, guardar as roupas, organizar, cozinhar (para os maiores). A cada quando, tem reunião de família – para a alegria de Elias, que adora o momento, e aflição de todo o resto. É o momento das broncas necessárias, dos ajustes.

– Nós queremos que eles sejam homens e mulheres honestos. A gente tenta ser rígido para eles aprenderem isso.

A mãe é a mais brava, Davi é quem confessa, com a sinceridade da sua “caçulisse”.

Os oito filhos fazem aulas de música: violão, bateria, canto. Quase toda noite, então, têm programação fora de casa. O dia em que se reúnem na sala para assistir juntos um filme, é alegria! Assim como quando conseguem organizar passeios.

Quando a família era formada pelos três filhos e os pais, as saídas eram semanais. Agora, são mensais. É preciso organizar transporte, finanças. Mas os pais tomam o lazer como prioridade: shopping, bosque, pic-nic estão na programação, ainda que não seja rotina.

Para dar conta de tanta gente, apertaram o orçamento, cortaram o supérfluo. Dizem que no começo receberam ajuda de todo lado: roupas, sapatos, mantimentos. Depois, a euforia inicial passou.

– Deus tem suprido em tudo. Nunca falta nada. Somos muito gratos!

Cada filho tem um padrinho, que leva um sapato, uma roupa, busca para um passeio no Shopping. E tudo vai dando certo. O principal, eles sabem, está além do que o dinheiro compra.

– Eu sempre quis ter uma família. No abrigo, você tem que sobreviver.

Laysa viveu em abrigos desde pequenina. Viu e viveu coisas que nem criança e nem adulto deveriam ver. Antes, só pensava em arrumar um trabalho que lhe possibilitasse se sustentar quando fizesse 18 anos. Agora, pode sonhar.

– Hoje eu posso pensar em fazer uma faculdade. Quero Pedagogia.

Os oito, aliás, têm sonhos com o futuro. Policial, bombeiro, veterinário, piloto de avião. Os pais não têm dúvidas do potencial de seus meninos.

 – É como se eles tivessem voltado para casa. Nós queremos fazer eles entenderem qual história eles nasceram para viver. Queremos ser facilitadores na vida deles.

São as palavras da mãe, com complemento do pai:

– A vida não tem sentido se você não tem para quem deixar um legado, se não formar uma história. O que me motiva é ter uma família.

Os oito escutam tudo, atentos. De repente, os olhinhos brilham em sintonia. Os pais estão falando sobre o sonho que guardam para esse final de ano. Querem conseguir comprar uma Kombi (só assim para caber todo mundo!) e levar os filhos para o Pernambuco. Além de conhecerem a terra da mãe, querem que Ezequiel, Elias, Natalia e Davi conheçam o mar.

– Já está desenhado na mente! Agora é realizar!

Vão sonhando juntos. Conquistando, pouco a pouco, mais espaços no sofá – e no coração.

 

*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/

 

Assine História do Dia por R$ 13 ao mês ou faça uma doação de qualquer valor AQUI.

Nos ajude a continuar contando histórias!

Compartilhe esta história

15 Comentários

  1. Felix guerreiro

    Essa e minha filha primeira que amo muito ela e meus netos oro todos os dias pra ela e pra todos os outro meus filhos e pra todos os meus netos que amo .deus abencoe ela pra que tenha muita forca pra. Seguirplantando o que deus. Ha determinou aqui na terre amo todos voces

  2. Denise Ferreira

    Sem palavras um exemplo de amor ao próximo e amor e servidão ao nosso Senhor
    Deus vos abençoe grandemente e cumpra o desejo de seus corações .
    ?????????

  3. Denise Ferreira

    Sem palavras um exemplo de amor ao próximo e amor e servidão ao nosso Senhor
    Deus vos abençoe grandemente e cumpra o desejo de seus corações .
    ?????????

  4. Daniela

    EXISTE SITUAÇÕES EM QUE NÃO IMPORTA O QUANTO TENTE EXPLICAR ….. SÓ VAI ENTENDER AQUELE A QUEM A SITUAÇÃO PERTENCE……

    EXISTE AQUILO QUE PARA OLHOS HUMANOS É LOUCURA …..MAIS FAZ PARTE DO TRAÇO CUIDADOSO DE DEUS.

    QUE ELES TENHAM ATRAVES DA VIDA DO JEAMES E DA FABIANA A OPORTUNIDADE DE DAR GRANDES SALTOS….

  5. Joice Argentato

    História linda! Orgulho ter vocês como irmão e cunhada. Admiração da coragem e o exemplo que vocês dão para as pessoas. Que Deus de em dobro pra vocês por tudo que estão fazendo na vida dessas crianças, oportunidade de ser adultos felizes e com um futuro melhor. Amo vocês. ??

  6. Juciane Vazante

    Linda história… Exemplo de amor.

  7. Donizete Souza

    Sem dúvida, uma história linda e emocionante. A única certeza que tenho é que há uma recompensa divina e eterna esperando por vocês na Nova Jerusalém. Não há palavras para descrever a atitude de vocês. Um casal exemplar como cristãos. “Verdadeiros Discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Tem o meu respeito e admiração e as minhas orações…

  8. Maria Eliane Izidorio da Silva

    Essa é minha prima linda !!! Com muito Amor no coração !!! Temos anjos para todos os momentos de nossa vida ..Jesus foi criado na força da palavra, como seria bom se nossa família fosse criada nessa força. Precisamos d Espírito santo para combater-mos no Deserto d nossa vida . Deus os abençoe . Te Amo . Saudades . Bjs.

  9. Antonio Carlos Acquaro

    Excelente! Glória a Deus!

  10. Daiana

    Conheci essa família no curso preparatório da adoção aqui minha cidade. Eles são incríveis, exemplo para todos.

  11. Luciana Magalini Passos

    Não importa como a família foi formada, mas sua essencia, amor, carinho. Lar é lugar de cura e restauração e isso é notório nessa família e nesse lar.
    Admiro e me inspiro!
    Família amada!
    #ocoraçãodeDeusbateporfamilia

  12. Karla Soares

    Olá! Eu me vi nessa história, também tenho uma GRANDE FAMÍLIA. Eu e meu esposo temos 10 filhos do coração e 1 da barriga. Realmente, a “rotina” deve ser bem planejada, a gente passa a viver 24 horas por eles e pra eles. Para tudo se tem “cronograma”, é um trabalho em equipe, cada um com a sua função. O lema é: dar o seu melhor!

  13. Cibele

    Em um mundo onde se prega muita empatia , mas pratica bem pouco, essa familia faz com que eu acredite que o mundo ainda existe salvação!

  14. Elimara

    Me orgulho completamente dessa história de vida.
    Parabéns Fabiana e Jeames.
    ??????????????

  15. Renata Queiroz

    Linda História meus queridos pastores faço parte da mesma comunidade e assim como eles partilho do mesmo sonho o de adotar já sou mãe de três mais aqui dentro o amor transborda ainda cabem muitos filhos

Outras histórias