Fábio e sua arte de transformar

9 novembro 2017 | Gente que inspira

A sala da casa mais parece ateliê. Peças de todo tipo se espalham pelas paredes, em cima das prateleiras, enfeitando um banco.

Tem madeira, ferro, cabaça, tecido e outras tantas matérias primas que o olhar se confunde. De onde saiu o material que dá vida a uma luminária de chão?

Foi descarte das obras do Calçadão de Ribeirão Preto. O tubo de conduíte descartado em caçamba se transformou em luminária de design moderno pelas mãos de Fábio Ameduri.

Assim também foi com o cilindro de gás que virou instrumento, o compressor de ar que se transformou em máscaras, a janela velha que hoje é cabeceira de cama e a sucata de indústria que deu forma a esculturas de ferro.

– Eu gosto de transformar. Vejo um material e já penso: isso pode virar aquilo.

Ele não tem preferência por matéria prima. Tudo se transforma nas mãos do artista.

Uma ida à padaria pode dar vez a um processo criativo em questões de segundo. Fábio conta que, se o material estiver de bobeira em alguma caçamba, não hesita em levar para casa.

“O que você vai fazer com essa janela velha?”, questionou o homem que acabara de descartar.

– A pessoa não tem noção do que aquilo pode virar!

Na arte de Fábio, a cultura étnica anda de mãos dadas com a reutilização do que as pessoas pensam ser lixo.

Entre as peças do ateliê improvisado, estão referências à cultura indígena, africana, medieval.

Ele não sabe explicar como sua arte surgiu. Não há teoria, não fez cursos ou especializações técnicas. Sente a arte dentro de si e basta.

– É uma coisa que está em mim. Nasceu comigo e está cada vez mais aflorado. Faço esse trabalho como se já tivesse feito alguma vez na vida.

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O pai era serralheiro e Fábio acredita que veio daí a primeira raiz de arte.

– Cresci no meio de ferro, solda…

Na adolescência, começou a criar. Fazia pequenas esculturas com durepox e, aos poucos, foi ampliando as possibilidades de material. Nunca mais parou.

Há dez anos, deixou Assis, sua cidade natal, para morar em Ribeirão Preto. Por aqui, começou a trabalhar na indústria, como soldador industrial.

Foi o incentivo para criar as esculturas de ferro, nos momentos de folga.

Há nove meses, perdeu o emprego na indústria. E passou, então, a planejar viver da sua arte.

– O plano é esse: ter meu espaço para arrecadar tudo o que eu puder. Transformar e expor. Quando a pessoa te vê fazendo a peça, é diferente.

Quando começa uma obra não para até ver o fim.

– É um prazer ver a peça pronta, finalizada.

Algumas peças, como os elmos medievais, levam uma semana para ficarem prontas.

Na casa que mais parece ateliê, não tem televisão. Fábio, 39 anos, preenche os dias com arte, música e leitura.

Perdeu as contas de quantas peças já produziu, quanto material resgatou da categoria de lixo e entulho.

– A arte para mim é natural. Desabrochou dentro de mim e a vontade que tenho de colocar para fora é muito grande!

Quer continuar a produzir mais e mais.

Transformar: eis a arte de Fábio.

 

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2 Comentários

  1. Roseli Ameduri

    Maravilhoso!! É muito gratificante ver que pessoas como Meu filho, faz do lixo o seu luxo….

  2. Darlete

    Aonde adquiro suas peças?

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