Família Soriani criou varal solidário para ajudar moradores de rua

3 junho 2020 | Gente que faz o bem, Histórias do Proac 2019/2020

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Na rua Platina, esquina com a avenida Maurílio Biagi, uma faixa chama a atenção: “Varal solidário”. Em frente, um varal improvisado exibe peças de frio e calor. Quem precisa, pode pegar. Quem tem sobrando, deixa sua doação.

A ideia surgiu em família. O portão de ferro que abriga o varal é de uma loja de carros, Soriani, administrada por mãe, pai e um casal de filhos. O pai falou: “Precisamos fazer algo! Está muito frio”. A mãe concordou e foi pensando em uma ideia. Todos retiraram as peças que não estavam mais em uso do guarda-roupa e participaram da iniciativa.

Começaram na quinta-feira passada, menos de uma semana atrás, quando os termômetros de Ribeirão Preto, sempre acostumados à altos números, chegaram a seis graus. Na região, há moradores em situação de rua nas praças e calçadas. O coração apertou.

– Todo mundo pode doar uma peça. Temos que ter humanidade nesse momento. Se a gente não conseguir ser humano, como vai ser?

São as palavras da filha, Ana Soriani.

 

 

Em tão pouco tempo, eles já colhem os frutos da ação. A mãe, Paula, se emociona ao falar.

– A aceitação foi muito grande. As pessoas acenam, buzinam e vem doar. Teve um rapaz que parou o carro e deixou uma manta que ele estava usando. Eu quase chorei…

Foram tantas doações que a família já pensa em distribuir, ampliar a ação.

– Vamos levar para outros lugares, para praças, para quem precisa.

Diz Ana.

Na rua Platina, um varal solidário chama a atenção. Mas é só um pequeno pedaço da história de luta e amor que guarda a família cheia de iniciativa. Ali, a solidariedade encontra abrigo há muitas décadas. Chegou com um filho que partiu cedo, mas deixou muito aprendizado.

– Nós também fomos muito ajudados quando precisamos.

Mesmo de máscara, o sorriso de Paula se faz presente pelos olhos que ficam pequeninos quando ela fala. Ana, a filha, 19 anos, tem a mesma energia boa da mãe.

– O Tchelo gargalhava mesmo com a traqueostomia. Onde chegava, ele chamava a atenção. Era muito feliz. A gente aprendeu muito com ele.

É a mãe quem diz.

Há três anos, Tchelo faleceu, depois de uma década de muita luta.

Quando tinha um ano e nove meses ele sofreu um acidente na piscina no dia do aniversário de Paula. Ficou seis meses em coma. Acordou com sequelas.

A mãe diz que, nas primeiras semanas, questionou e brigou com Deus. “Por que comigo?”. A resposta veio do médico neurologista que estava atendendo o caso.

– Ele me disse: ‘Por que não com você? O que você tem de mais?’. Isso mudou tudo. E a cada coisinha que acontecia, era uma vitória.

Nos 10 anos que sucederam, Tchelo viveu conquistas e desafios. Eram melhoras e pioras. Depois de um ano que estava em casa, já ensaiava os primeiros passinhos quando teve uma segunda parada cardiorrespiratória. Voltou de novo ao início.

Altos e baixos que a família levou com muita força.

– Ele nos ensinou o amor. Nossa família se uniu ainda mais. Hoje eu agradeço a Deus por essa oportunidade de aprender. Não me arrependo de nada.

História do Dia Varal da Solidário

Quando o acidente do filho ocorreu, Paula recebeu ajuda de outras mães, apoio de todo tipo. Passou, então, a ajudar também. Integra um grupo, junto com outras mães, que têm a proposta de se apoiarem. Quando uma precisa de um aparelho, de um remédio, de um abraço a outra tenta ajudar.

– O varal é uma pontinha do que a gente já faz. Mas essas coisas a gente não gosta de contar. Não precisa…

Diz Paula, a partir de minhas perguntas. Não fosse eu parar por ali e questionar a origem daquela solidariedade tão bonita, ela não sairia a contar sua história. O importante é fazer, não falar: é o que diz.

O varal solidário da rua Platina guarda história de muita garra entre as roupas que aquecem quem precisa. Paula, mãe guerreira, sorriso no rosto, guarda trajetória de amor.

– A gente vai aprendendo. A vida bate com a mão pesada. Não bate leve, não.

A morte de um filho é uma dor que nunca passa, ela bem sabe. O coração, porém, esteve sempre tranquilo.

– É missão cumprida, sabe? Fizemos tudo o que podíamos fazer.

História do Dia Varal da Solidário

A família pensa em tornar o varal uma ação frequente, além do frio.

Depois de três meses fechados, por causa da pandemia, reabriam as portas da loja de veículos nessa semana, ainda com horários reduzidos. Ana diz que as coisas não estão fáceis também por lá. Nada que os impeça de olhar para o entorno, entretanto.

Solidariedade, eles bem sabem, é para toda hora.

–  São pequenas coisinhas, mas que são muito grandes para quem precisa. Se cada um doasse um pouco…

 

 

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Acesse o site VLibras, que faz esse serviço sem custos:
https://vlibras.gov.br/

 

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4 Comentários

  1. Marcelo Soriani

    Obrigado pelo carinho, é parabéns pelo trabalho!

  2. Gretta

    Família maravilhosa… Realmente uma lição de vida…

  3. Paula Pacheco Soriani

    Obrigada pelo imenso carinho .. sem palavras para descrever o quanto vc nos fez bem. O projeto alavancou com suas palavras e a solidariedade das suas palavras.

    • Daniela Penha

      Eu é que agradeço, Paula! Vocês são inspiração! Uma força e um amor bonito de se ver!

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