Franca: Dr. Laurence acredita na Medicina feita com afeto e acolhimento

29 setembro 2021 | Destaque, Gente que alimenta, Projetos especiais

Texto: Daniela PenhaFotos: Sheila BrandãoIlustração: Cordeiro de Sá- Produção: Vandreza Freiria

Antes da pandemia começar, quando os contatos eram mais que bem-vindos, Dr. Laurence lotou um ônibus de crianças e famílias para uma tarde de passeios. Reservou seu próprio acento. Foi com a turma, participando de cada detalhe. 

Conhece cada um dos seus pequenos pacientes, faz questão de estar em contato com as famílias. Alegria e afeto, ele acredita, ajudam as crianças em tratamento contra o câncer tanto quanto os medicamentos. 

– Muitos deles nunca tinham ido ao parque. Eles precisam tirar o foco da doença, perder o foco da tristeza. A criança não pode lembrar dessa fase da vida dela só com coisas tristes. A tristeza dificulta tudo, até a eficácia do tratamento. 

Saíram de Franca, foram ao Zoo Municipal de Ribeirão e depois a um parque de diversões. Aos pais, o médico diz,  a alegria traz energias para seguir acreditando.

– O tratamento dói mais é no pai e na mãe. A criança tem a dor da picada, mas não entende muito. O pai e a mãe queriam tanto que fosse neles e não nos filhos… 

A Medicina do Dr. Laurence é feita de remédios, dados e pesquisas, claro. Mas também conta com afeto, diálogo e muita entrega. Poltronas coloridas, óculos 3D para as crianças assistirem desenhos enquanto passam pela quimioterapia, treinamento da equipe que começa lá na portaria e segue até o corpo clínico, serviço de capelania: ele procura estratégias para deixar mais leve e colorido o branco hospitalar, o enfrentamento das doenças. 

– O acolhimento começa no guarda que faz a triagem na porta. Nós somos insistentes para que esse pensamento seja o de todos os colaboradores. 

Como diretor técnico do Hospital do Câncer de Franca, do Hospital do Coração e da ala Covid, instituições interligadas à Santa Casa da cidade, ele busca levar a humanização para as atividades diárias, praticando e compartilhando a Medicina na qual acredita. 

– É muito mais do que números. É a história de cada um. Como passaram por tudo isso e o que vão levar? Precisamos criar grandes histórias ali dentro. 

Santa Casa de Franca dr. Laurence

Desafios de todo dia

Laurence Dias de Oliveira, 39 anos, não se lembra quando decidiu ser médico. A ideia lhe acompanha há tanto tempo que parece parte sua. 

– Eu não me lembro de não querer ser médico. Meus pais falam que desde pequeno eu falava nisso. Sempre fui muito apegado aos meus avós. O cuidar fica mais aflorado. 

Nasceu em Franca, em 25 de agosto de 1981, e brinca: 

– É o Dia do Soldado. Venho trabalhando como soldado da vida, nas batalhas do dia a dia. 

Não havia outros médicos na família. Sua mãe foi professora e o pai caminhoneiro. Por isso acredita que a ideia do cuidar já estava dentro de si. 

Fez faculdade em Vassouras, Rio de Janeiro. Depois, cursou a residência em ortopedia em Ribeirão Preto. Em Campinas, se especializou em cirurgia de mão. 

Conheceu sua esposa, que é médica ginecologista, neste percurso. Os dois voltaram a viver em Franca para trabalhar na Santa Casa em 2011. Desde que chegou, atuava com os residentes de ortopedia. 

Em novembro de 2019, assumiu a diretoria técnica. Cinco meses depois, os casos de Covid explodiram no Brasil. O hospital abrange uma área de 700 mil habitantes. Abriram uma ala para atendimentos de coronavírus com 53 leitos, destinados ao SUS. 

Somente nos últimos meses a ocupação começou a cair. 

– Eu nunca havia vivenciado tanta pressão emocional. A gente tentava ajudar o maior número de pessoas possível, sem condições técnicas, físicas. Batalhando para que os pacientes do SUS tenham o mesmo acesso do que pacientes do sistema particular. É sempre um dia após o outro… 

Santa Casa de Franca dr. Laurence

Pandemia com acolhimento

Até em meio a tanta turbulência, encontrou um jeito de acolher. A regra era colocar pacientes da mesma família no mesmo quarto, para que continuassem em contato. Depois, quando a situação melhorou um pouco, abriu a UTI Covid para visitas. 

– O sofrimento de ficar mais de 10 dias sem ver a família é muito grande… Nós tentamos amenizar isso. 

A entrega é total. Não consegue tirar o jaleco na porta e se despir dos problemas quando chega em casa. As filhas, então, acompanham a jornada dos pais. 

– Elas veem com bons olhos o cuidar. Hoje já entendem mais. 

As pequenas têm 6 e 3 aninhos. 

– Com a pandemia, elas queriam dar um abraço quando a gente chegava em casa. E não podíamos deixar. Foi muito difícil. 

Assim que iniciou seu trabalho no Hospital do Câncer, com crianças em tratamento, o pensamento vagava para casa. 

– Quando você começa a trabalhar com câncer, descobre um outro lado, mais humano. É algo que nos cativa… Eu tenho filhas pequenas. Como não pensar nelas?

Carrega, então, todo esse olhar na maleta de médico. 

– A pessoa mais importante do hospital é o paciente. Sem o paciente, não existe hospital. Ele precisa ser o centro das atenções. 

Santa Casa de Franca dr. Laurence

Hospital mais colorido

Nesses dois anos como diretor técnico, mesmo em meio à pandemia, ele conseguiu deixar o hospital mais colorido. Não só com poltronas e reformas, mas com altas doses de afeto. 

A lista de pequenas grandes ações é grande: passeios, dias especiais em datas comemorativas, brinquedoteca, formas diárias de levar alegria a um cenário de tristeza. 

Implantou o serviço de capelania, destinado principalmente aos pacientes do setor paliativo. 

– Cada pessoa precisa ter sua crença e se apegar a alguma coisa, independentemente de religião. É trazer dignidade para que eles passem por esse momento acolhidos, amenizando suas dores. 

Esse é, afinal, o grande objetivo. 

Festa Junina, Páscoa, Dias das Crianças: nada mais pode passar em paredes brancas. 

– A criança precisa crescer como criança. Acreditar, fantasiar. Nós tentamos resgatar isso. 

No Natal, sua família também entrou na brincadeira (que, na verdade, é bem séria). A esposa criou uma campanha e arrecadaram brinquedos para a criançada. Não só para a oncologia, mas também para outros setores do hospital. 

– Eu tenho que envolver toda a minha família, senão fica muito pesado. As meninas vão crescer sabendo da necessidade de ajudar ao próximo. 

Para que tudo seja possível, busca parceiros. O parque de diversões, indústria de doces, agência de turismo. A cada ideia que surge, pensa em formas de transformar em prática com união de forças. O Mesa Brasil é um dos parceiros. Os alimentos doados chegam para os mais diversos setores do hospital, para pacientes e também funcionários. 

Desde que foi cadastrada no programa, em fevereiro de 2021, a Santa Casa já recebeu quatro doações, somando 1,5 toneladas de alimentos.  

– Uma alimentação equilibrada traz qualidade de vida e faz parte do tratamento. Para que dar vitaminas se eu posso oferecer um alimento rico em vitaminas? As doações nos ajudam nisso. 

O grande objetivo de tantas ações, parcerias e ideias é dissolver a dor entre momentos de alegria. Dar ao paciente mais do que a tristeza que, por si só, a doença já causa. 

– Ser médico é tentar se colocar no lugar das pessoas. Pensar: O que elas estão esperando? Será que é só uma receita? Ou o cuidar, o escutar? Ter empatia é tentar diminuir ao máximo o sofrimento das pessoas. 

Santa Casa de Franca Dr. Laurence

Pressa de alegria

Com tanto coração, ele não se acostuma com a rotina, que é feita de perdas. 

– Ninguém se acostuma a perder um paciente. Não é fácil. 

Coloca os ganhos na frente, entretanto, e vai seguindo. 

– A gente tenta fazer com que seja o menos dolorido possível. A vida precisa seguir. Outra criança precisa do seu carinho. Tem alguém te olhando lá cima, te dando forças para passar por tudo isso. 

No consultório, a empatia entra primeiro. 

– Tem dias ruins, mas a pessoa não tem culpa disso. Muitas vezes ela esperou meses para estar aqui. Nós temos que, todo dia, saber o poder da nossa caneta. 

No dia da entrevista, Dr. Laurence estava animado com mais uma ideia. 

– Já pensou se cada poltrona de quimioterapia tivesse uma pequena tela ou tablete com fone de ouvido para o paciente assistir um programa, ver alguma coisa enquanto passa pelo tratamento? Seria uma boa, né? Hoje de manhã pensei nisso! 

Já estava traçando estratégias e pensando em possíveis parceiros para tirar a ideia do papel. Pensava no quanto a ideia iria amenizar o momento das picadas e da medicação. E deixava a animação tomar conta. 

– A gente está sempre pensando no próximo projeto. Não pode parar. 

Quem vive a dor tem pressa por alegria, ele bem sabe.

Conheça mais sobre o Mesa Brasil

Que tal criarmos uma ponte entre quem precisa de ajuda para matar a fome e quem pode e quer fazer o bem? Uma ponte que consiga unir essas duas pontas, fazendo com que os alimentos que sobram para um cheguem à mesa do outro? 

É isso que faz o programa Mesa Brasil, criado pelo SESC SP há 27 anos e presente em todo o país.

Caminhões coletam diariamente doações de alimentos com empresas, supermercados, cerealistas, produtores, entre outros fornecedores e entregam para instituições sociais e hospitais. Só em São Paulo são 30 caminhões circulando todos os dias para atender 63 cidades paulistas. 

Realizando a coleta e a entrega dos produtos, o Sesc São Paulo facilita o caminho para quem quer doar e garante que toneladas de alimentos que seriam desperdiçados cheguem à mesa de quem precisa: uma rede de combate à fome! 

Em tempos de pandemia, o programa se tornou ainda mais fundamental. Só em 2020 foram distribuídos mais de 7.200.000 kg de alimentos, além de 470.000 kg de produtos de higiene e limpeza para 1.150 instituições sociais e 120.000 famílias. Em 2021, já são 2.425.809 kg de alimentos arrecadados. 

Em Ribeirão Preto, o programa existe desde 2014. Dois caminhões passam pelas empresas doadoras pela manhã, para coletar os alimentos doados, e, no período da tarde, levam o que foi coletado para as instituições sociais. Em 2020, o programa coletou 220 toneladas de alimentos e materiais de limpeza e higiene. Atualmente, está com 87 instituições sociais cadastradas e mais de 3000 famílias atendidas.

O Mesa Brasil do SESC Ribeirão atende, além de Ribeirão, as cidades de Serrana, Sertãozinho, Santa Rosa do Viterbo, Guariba, Jaboticabal, Franca e Barretos. De janeiro até agosto de 2021 já coletou 132 toneladas de alimentos. E os números não param de crescer – ainda bem!

O projeto “Gente que Alimenta” conta as histórias de quem faz esse programa do bem acontecer: doadores e instituições que precisam de apoio para continuarem suas atividades. 

Quer saber mais sobre o Mesa Brasil? Quer se tornar um doador? Acesse o SITE AQUI e se encante ainda mais com esse bonito programa! 

Compartilhe esta história

0 comentários

Outras histórias