Grupo ‘Corações Solidários’ instala pias comunitárias e lixeiras na pandemia

19 junho 2020 | Gente que faz o bem, Histórias do Proac 2019/2020

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Todo inverno, Elta sai distribuindo cobertores, sopas e leite quentinho para quem não tem um teto. Sandra, há muitos anos, faz doações à moradores em situação de rua. Na igreja que frequenta, participa das ações sociais.

Elas moravam no mesmo condomínio e, agora, abriram suas portas e somaram forças. A pandemia uniu as duas e mais uma dezena de pessoas com vontade de fazer o bem. As pequenas ações de cada uma se transformaram em uma grande iniciativa que, se depender delas, irá continuar para além do período de isolamento.

– A gente coloca o coração no que estamos fazendo!

O projeto “Corações Solidários” surgiu do sentimento que mora dentro com a necessidade que grita aqui fora, mais ainda neste momento.

– Muitas pessoas perderam o emprego, ficaram sem trabalho de um dia para o outro. Estão precisando muito de ajuda!

Começaram entre amigas do mesmo condomínio. Elta Trigo, 42 anos, teve a ideia e chamou três pessoas que conhecia para ajudar. Sandra Regina, 55, soube da mobilização e se candidatou a participar.

Juntaram as panelas das próprias cozinhas, buscaram doações de mantimentos e receberam ajuda do síndico, que cedeu o salão de festas para que elas pudessem cozinhar as refeições que distribuíam nas ruas.

Em quatro meses, o crescimento do projeto foi tanto que, agora, elas buscam uma sede para continuar. Com o apoio da Casa da Memória Italiana, da ONG Vivacidade e de outras instituições e empresas de Ribeirão Preto expandiram as ações.

Estimam que já distribuíram mais de mil cestas básicas, ganharam mais de 1,5 toneladas de alimentos, perdem as contas do número de marmitas – chegaram a 200 unidades ao dia com o apoio do Sesi – e foram além.

 

 

Nas entregas, perceberam que os moradores em situação de rua precisavam de estrutura para lavar as mãos e de lixeiras para o descarte das embalagens de marmitas que recebem. Criaram pias comunitárias e receberam a doação de 15 latões de lixo.

Instalaram quatro pias em locais onde há entrega de refeições aos moradores em situação de rua como o CPC, Mercadão Municipal, praças públicas. Explicam que cada pia custa em torno de R$ 150. Tiraram do próprio bolso e também passaram a fazer campanhas. Feijoada, canjica, pamonha, caldos, pipoca são vendidos para arrecadar fundos para a continuidade do bem.

– São muitas lutas, mas é gratificante quando a gente consegue terminar um trabalho. A vontade de ajudar está dentro de mim.

São as palavras de Elta.

Corações solidários ribeirão preto

Nessa semana, o grupo está enfrentando o maior desafio desde o começo das atividades. Tiveram que deixar o salão de festas do condomínio, pela dimensão que o trabalho tomou. E estão em busca de um espaço onde possam armazenar os alimentos, montar as cestas, cozinhar as refeições.

– Tivemos que parar de um dia para o outro!

Com a ajuda de instituições, conseguiram guardar os alimentos e continuam montando as cestas, dividindo um pouco em cada espaço. Mas, para que o trabalho continue, precisarão de um local fixo. Ainda não sabem como vão conseguir, mas não deixam o desânimo tomar espaço.

– Vamos encontrar um jeito! Temos fé em Deus!

Sandra diz.

Corações solidários ribeirão preto

Para a entrevista, Elta e Sandra são as porta-vozes do grupo, que hoje conta com 12 pessoas. A solidariedade se explica pelas histórias de vida delas.

Mineira, de família simples, Elta conta que viveu infância de muita dificuldade. Seu pai faleceu quando ela tinha 10 meses de vida, deixando a mãe com cinco crianças para criar.

– Ela criou a gente sozinha. E fez isso muito bem.

Sua mãe trabalhou na roça e como doméstica para dar conta da vida.

– Eu vejo nas pessoas que ajudo muito do que eu e meus irmãos passamos. Eu posso sentir a dor daquela mãe que não tem o que dar aos filhos. Me vejo naquelas crianças e sou mãe também.

Corações solidários ribeirão preto

Ela começou a trabalhar como cabelereira aos 15 anos e seguiu com a profissão. Fez cursos, se especializou. Nos invernos, oferece tratamentos de brinde para as clientes que façam doação de cobertores. Sempre procurou ajudar.

Se casou bem nova e viveu uma relação de abusos psicológicos constantes. Se separou e hoje é feliz ao lado do segundo marido. Bem por isso, sonha em transformar o “Corações Solidários” em uma ONG que acolha, principalmente, mulheres.

– Nem todas as mulheres têm estrutura familiar e financeira para deixar uma relação abusiva. Cada um sabe da sua dor, do que passa.

Vítimas de violência, mães solteiras, mães que cuidam sozinhas de seus filhos. Quer oferecer capacitação profissional, além de ajuda emergencial com cestas básicas.

– É o maior sonho que a gente tem. Pode demorar, mas uma hora vai acontecer!

Corações solidários ribeirão preto

A amiga Sandra sonha junto. Veio de São Paulo para Ribeirão há 30 anos, se aposentou como técnica de enfermagem, fez contabilidade e hoje estuda teologia.

– Eu e minha mãe colocávamos leite e pão no carro e íamos entregar nas ruas, para quem precisa. É algo natural em mim. Não é uma coisa que pesa. Faz parte da minha vida.

Com a união das vontades que moram dentro, elas querem criar uma ONG e dar continuidade aos trabalhos. A união que começou pela pandemia tem energia de sobra para prosseguir.

– Eu agradeço a Deus por ter a oportunidade de ajudar. Me sinto grata. Aprendo muito com as pessoas. É cada história!

São as palavras de Sandra, que têm o apoio de Elta:

– A vontade de ajudar vem de dentro do meu coração. Não tem como parar. Como dormir tranquila sabendo que tem alguém com frio?

Juntas, vão espalhando o bem!

 

Fotos: divulgação

 

 

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https://vlibras.gov.br/

 

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