Há 20 anos, Maria Sales leva afeto para cozinha da Cidade Vicentina, em Jundiaí

3 agosto 2022 | Destaque, Gente que alimenta, Projetos especiais

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Texto: Daniela PenhaFotos: Tatiane SilvestroniIlustração: Cordeiro de Sá – Produção: Vandreza Freiria

Maria Sales acorda às 3h15 da madrugada, se antecipando ao sol, que ainda dorme boas horas antes de sair. Diz, entretanto, que, apesar do antecipado da hora, não precisa de relógio para despertar. São duas décadas na mesma rotina, afinal. 

– Abençoada Cidade Vicentina que eu amo tanto! 

Fala do que faz com sorrisão no rosto. A colega de trabalho não economiza elogios: 

– Ela é um doce!

Há 20 anos, Maria Aparecida Sales, 66, é uma das cozinheiras responsáveis por garantir pratos coloridos e diversos aos 84 idosos acolhidos pela Cidade Vicentina, instituição filantrópica de Jundiaí. Explica, então, sua habilidade em acordar prontamente para chegar às 5h30 na cozinha e não atrasar o café dos acolhidos.  

– Eu gosto da equipe e de todo mundo! Já me acostumei aqui! Nem preciso de despertador! 

No cardápio, é claro, não pode faltar um docinho!

Cidade Vicentina Jundiaí

A doçura do cozinhar – e também o sal – são seus companheiros desde a infância. 

– Minha mãe cozinhava muito bem! 

Nasceu em Maringá, cidade no interior do Paraná. Se lembra de colocar um banquinho para alcançar o forno à lenha, tão pequenina que era quando começou a ajudar na cozinha.  

Sua família tinha um espaço de terra farta. No sítio São Francisco plantavam de tudo um pouco: mandioca, arroz, algodão, café, frutas. 

– Ô, fia, a gente sempre foi farturoso de alimento. Era acostumado naquele meio de muito alimento da terra, da horta, da parreira de uva. 

Eram em oito irmãos, família grande. Deixou a escola no ensino primário pelas dificuldades do dia a dia. Os filhos começavam na lavoura bem pequenos. 

– Com uns 11 anos eu já ajudava meus pais. 

A mãe vendia os pães feitos em casa, no “fornão à lenha”, como Maria relembra. 

As memórias da cozinha são cheias de afeto. 

– Minha mãe fazia uma rede com tecido de algodão. A gente colocava um tambor embaixo e eu e meus irmãos lavava a mandioca para colher o polvilho. E aí fazia o biscoito.

Nas festas da vizinhança, era tradição: a família de Maria cuidava das gostosuras dos casamentos e outros encontros. 

O cardápio? Dá água na boca! 

– Ah fia, óia, a gente fazia maionese de mandioca, carne assada, de entrada era pão com carne moída e também tinha arroz à grega, farofa. Bastante coisa mesmo! 

Atenta à cozinha do restaurante de seu tio, na área urbana, aprendeu um prato que poucos sabiam ali no sítio. 

– Eu fui a primeira a montar lasanha! Minha mãe tinha cilindro e eu abria a massa. Fazia de berinjela, abobrinha. Se alguém encomendasse, eu fazia para vender.

  As receitas eram sucesso! 

Cidade Vicentina Jundiaí

Quando se mudou para São Paulo, na década de 70, já casada e com os dois filhos pequenos, sentiu falta do sítio. 

– Eu demorei para acostumar na cidade porque lá era muito farturoso! 

Se casou quando tinha por volta dos 21 anos, como conta. Logo depois se mudaram. Ficaram um tempo em terras paulistas, voltaram para o Paraná, retornaram mais uma vez até fixarem as raízes em Jundiaí. 

Uma conhecida de sua irmã trabalhava como cuidadora na Cidade Vicentina, uma das instituições cadastradas no Mesa Brasil – Sesc Jundiaí. Levou o currículo de Maria, que logo foi chamada para uma entrevista. 

– Fiquei torcendo para me chamar! Fui muito bem recebida aqui. Só gente boa! 

Na cozinha da instituição, o cardápio é sempre diverso. A nutricionista Simone Laroca é responsável pelas seis refeições oferecidas diariamente.  

Sessenta e seis idosos moram ali e outros 18 passam o dia. Para esses, só não é compartilhado o lanche da noite. Do mais, todas as refeições são feitas na cidade, que é lar. 

– A gente procura levar um prato colorido, nutritivo. Mas também fazemos as vontades que eles vão trazendo. 

É Simone quem conta. 

Cozinha é afeto: alguém duvida? 

Cidade Vicentina Jundiaí

Até caldo de mocotó já saiu das panelas de Maria. Simone relembra que uma senhora já não andava bem e pediu frango assado com pimenta e caldo de mocotó. Conversaram com a equipe médica e decidiram levar o banquete. Pouco depois, a idosa teve uma parada cardíaca e ficou em coma. Realizou seu desejo antes de se apagar para a vida. 

– Se eles têm vontade, a gente tenta dar um jeito. 

Paçoca, cachorro quente de lanchonete: a lista é extensa! 

No dia a dia, entretanto, os pratos são bem equilibrados. Pouco sal, sobremesa de vez em quando, muitas frutas e vegetais. 

A Cidade Vicentina é uma das instituições que recebem as doações do Mesa Brasil, pelo Sesc Jundiaí. Cadastrada desde maio de 2019, já recebeu mais de 30,5 toneladas de alimentos, que se transformaram em refeições saudáveis e gostosas!

Maria Alves e Simone contam que tudo o que chega é aproveitado. 

– A gente faz muita sopa, todo dia tem legumes de guarnição. Fazemos bolos, tortas. Às vezes vem pães de fôrma que se transformam em lanche de forno! 

Simone explica e Maria complementa. 

– A gente aproveita tudo e agradece muito pelas doações! 

Cidade Vicentina Jundiaí

Maria Sales já está aposentada. Mas só no papel. 

– Enquanto eles me quiserem por aqui eu vou ficando!

Reduziu um pouco a jornada, que antes era diária. Agora, trabalha um dia e folga outro. Em casa, ainda pega encomendas de amigos e vizinhos. 

– Vem um vizinho: ‘Faz um pão para mim?’! Aí liga alguém: ‘Você me faz um bolo?’. 

Em suas panelas, o simples fica grandioso. 

– Ah, eu uso cebola, alho, cheiro-verde. É o básico mesmo! 

Prato de cozinheira é sempre cheio? 

– Eu como muito pouco. Não sou de comer muito, não. 

Tem um prato, porém, que ela não recusa. Fica fácil saber qual é.

– Ah, um docinho, né? 

Maria Sales é doçura por toda parte. 

O segredo da boa comida, então, também é fácil de se imaginar. 

– Muito amor, né, fia? Tem que ter amor! Não adianta botar um tanto de tempero lá e fazer sem amor! 

Ela compartilha, sem pudores. Não há comida boa sem esse toque especial! 

Conheça mais sobre o Mesa Brasil

Que tal criarmos uma ponte entre quem precisa de ajuda para matar a fome e quem pode e quer fazer o bem? Uma ponte que consiga unir essas duas pontas, fazendo com que os alimentos que sobram para um cheguem à mesa do outro? 

É isso que faz o programa Mesa Brasil, criado pelo SESC SP há 27 anos e presente em todo o país.

Caminhões coletam diariamente doações de alimentos com empresas, supermercados, cerealistas, produtores, entre outros fornecedores e entregam para instituições sociais e hospitais. Só em São Paulo são 30 caminhões circulando todos os dias para atender 95 cidades paulistas.

Realizando a coleta e a entrega dos produtos, o Sesc São Paulo facilita o caminho para quem quer doar e garante que toneladas de alimentos que seriam desperdiçados cheguem à mesa de quem precisa: uma rede de combate à fome! 

Em 2021, foram 1341 instituições sociais beneficiadas, além de milhares de famílias que levam alimentos direto para suas casas. As 1191 empresas doadoras fizeram 6,4 milhões de quilos de alimentos chegarem à mesa de quem precisa.

Em Jundiaí, o programa foi implantado em maio de 2019 e já distribuiu mais de 706 toneladas de alimentos, para 44 entidades cadastradas. Ao todo, quase 9 mil pessoas foram beneficiadas pela solidariedade de 63 instituições doadoras.

O projeto “Gente que Alimenta” conta as histórias de quem faz esse programa do bem acontecer: doadores e instituições que precisam de apoio para continuarem suas atividades. 

Quer saber mais sobre o Mesa Brasil? Quer se tornar um doador? Acesse o SITE AQUI e se encante ainda mais com esse bonito programa! 

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