Jaboticabal: Ester descobriu gravidez no 8º mês e, com trabalho voluntário, enfrentou depressão

24 novembro 2021 | Destaque, Gente que alimenta, Projetos especiais

Texto: Daniela Penha Fotos: Sheila Brandão Ilustração: Cordeiro de Sá – Produção: Vandreza Freiria

Para Ester, o trabalho voluntário foi caminho de mudança. Nos dias em que não tinha vontade de levantar da cama, encontrava energia nas crianças que a estavam esperando. Ajudando o outro, ela ajuda a si mesma. Se recuperou da depressão e de outras doenças graves, que tonalizavam a vida de cinza. 

Com solidariedade, vai tecendo uma colcha de retalhos do bem: os seus se misturam ao de centenas de crianças e adolescentes que recebem carinho em aulas de bordado, práticas de culinária, marmitas recheadas para amenizar os desafios da pandemia. 

– A gente precisa lutar porque tudo na vida tem que ter um propósito. Não adianta focar no que está fazendo mal. 

O propósito veio de surpresa. Quando Ester descobriu, já tinha mais de um quilo e estava em contagem regressiva para se juntar à família. 

– Descobri que estava grávida da minha caçula com oito meses de gestação. Ela é o anjo que caiu do céu na minha vida. Minha mudança começou por ela. 

Ester, que na época tinha 45 anos, conta que tomava remédios, pelos muitos problemas de saúde que enfrentava. Teve reumatismo infeccioso e, como sequela, ficou com artrose crônica, desgaste nos ossos e muitas dores. A depressão veio de consequência. 

Como tomava muitos remédios, já estava há mais de dois anos sem menstruar. Os mesmos remédios, ela explica, fizeram com que a bebê, sua quinta filha, passasse oito meses quietinha. 

– Eu não percebi… 

Por isso, para a mãe, Isabely caiu do céu: veio como surpresa e trazendo coisas boas. 

Quando soube da gravidez, decidiu que precisava mudar a vida. 

– Como você pode passar coisas boas para a criança se não está bem? Comecei a buscar saídas! 

Decidiu deixar o trabalho como diarista, que começara aos nove anos de idade. Aprendeu a bordar e soube que havia instituições de Jaboticabal precisando de voluntárias. Ficou um tempo em uma entidade, mas não deu certo. 

Seus filhos do meio já haviam sido acolhidos na SOS Esperança, em Jaboticabal. Então, ela já conhecia o trabalho. Começou como voluntária três anos atrás e não pretende ir embora. A filha, que hoje está com 11, também é atendida ali. As duas, então, passam o tempo juntas, em mais uma troca do bem. 

– Quando eu escolhi ser voluntária, queria mudar o estilo de vida que eu tinha. Aqui, aprendi a me amar. Ajudei aos outros, mas também recebi muita ajuda. 

SOS Esperança Jaboticabal

Desafios da pandemia

Seu nome é Stela Alves Barbosa Ribeiro, mas todos a conhecem como Ester. Nasceu na Paraíba, mas seus pais se mudavam muito e, então, antes de chegar a Jaboticabal ela passou por Minas Gerais e São Paulo. 

A mais velha de 11 irmãos, começou a trabalhar cedo para ajudar em casa. 

– Eu parei de estudar para trabalhar e não passar fome. 

Se casou aos 16 anos e aos 17 teve o primeiro filho. Hoje, aos 57 anos, já tem netos e bisnetos. 

Se mudaram para Jaboticabal 36 anos atrás. O marido trabalhava como cortador de cana e ela como diarista. Por isso, conheceu a SOS Esperança. Os filhos do meio foram acolhidos ali, para que a mãe pudesse trabalhar. 

– A gente precisa trabalhar fora e não tem com quem deixar. Quando eles vêm para cá, o coração fica mais tranquilo. 

A SOS Esperança, entidade administrada pela Associação de Apoio a Projetos Comunitários do Município de Jaboticabal, atende 50 crianças e adolescentes no contraturno escolar, com atividades diversas como esportes, dança, música, educação ambiental. Oferecem ainda atividades socioeducacionais para as famílias. Os acolhidos recebem alimentação, no horário em que estão em atividades. 

Na pandemia, precisaram adaptar a rotina. Passaram a oferecer atividades para casa e perceberam que seria necessário um reforço, como explica a assistente social Regiane Mosca. 

– Muitos perderam o emprego, famílias foram morar em situações precárias porque não tinham como arcar com o aluguel.

Viram, então, que seria necessário ajudar de outras formas. Passaram a distribuir marmitas às famílias das crianças atendidas, três vezes por semana. Contam com doações, para que essa ação seja possível. 

O Mesa Brasil é um dos doadores parceiros. A instituição foi cadastrada no programa em junho de 2020.  Durante a pandemia, de abril de 2020 a julho de 2021, recebeu 16 doações, totalizando 1,2 toneladas de alimentos.

Além das marmitas, as crianças recebem kits com biscoitos e outros alimentos. 

– Sem as doações isso não seria possível! 

Regiane explica. 

Doações que são complementadas pelo trabalho voluntário e afeto de quem está por ali. Antes da pandemia, Ester atuava diretamente com as crianças. Ensinava a bordar, a fazer bolos, ajudava no que fosse necessário. Mesmo com a interrupção das atividades presenciais, ela segue como parte da equipe. Ajuda a cozinhar as marmitas e, na distribuição, ameniza um pouco a falta dos pequenos e pequenas. 

– Sinto muita saudade! Quando nos encontramos, eles querem vir correndo abraçar. Se demoramos para nos ver, eles ficam muito crescidos! 

O cardápio de outro dia teve arroz, feijão, frango, repolho refogado e berinjelas empanadas. Tudo temperado com altas doses de carinho. 

– Muitos só têm essa refeição… Antes da pandemia, já tinha crianças que diziam: ‘Tia, eu comecei a vir na instituição por causa da comida’. 

SOS Esperança Jaboticabal

Semente do bem

Antes, Ester ia à instituição todos os dias, das 7h30 às 16h. Nas atividades remotas, reduziu o trabalho em três vezes por semana. Só falta por motivo muito sério. E não gosta do período de férias. 

– A gente é uma família. Eu aprendo um pouco com cada criança e também com cada pessoa que trabalha aqui. Se uma chega e não está legal, a outra já percebe. É amor, atenção. 

Sente que a trajetória ficou dividida. Uma quebra do bem. 

– Se você me conhecesse antes e agora, não reconheceria. Eu mudei minha vida para muito melhor. 

Torce para que a meninada logo volte a preencher os espaços vazios da instituição. E não pensa em parar com a solidariedade. 

– Se ninguém me mandar embora, eu vou ficando. Amo o que eu faço. 

A pequena Isabely, que também é atendida no contraturno escolar, vai aprendendo com a mãe a encaixar os retalhos dessa colcha do bem.  

– Se todo mundo conseguisse fazer um pouquinho por amor ao próximo, seria muito bom! 

Ester bem sabe: solidariedade compartilhada é semente pronta para germinar.

Doações essenciais 

A assistente social Regiane atua na SOS Esperança e também em outra instituição social de Jaboticabal, Casa Maria. Por lá, são atendidas mulheres em situação de rua e vítimas de violência doméstica.

A instituição tem capacidade para acolher até 20 mulheres. O acolhimento é feito em várias frentes: encaminham para os serviços de saúde, auxiliam na reinserção profissional, oferecem apoio emocional. 

– É um fluxo muito grande de mulheres! 

Regiane, que é a ponte entre essas duas instituições, explica que a pandemia dificultou muito as atividades. Com a queda nas doações e também o cancelamento de festas, que tinham seus recursos revertidos para a manutenção das atividades, toda ajuda é essencial. 

O Mesa Brasil também é um dos doadores da Casa Maria. Cadastrada desde outubro de 2020, a instituição já recebeu 200 quilos de alimentos.

A colcha do bem é feita de muitos retalhos, costurados com união de forças. 

Conheça mais sobre o Mesa Brasil

Que tal criarmos uma ponte entre quem precisa de ajuda para matar a fome e quem pode e quer fazer o bem? Uma ponte que consiga unir essas duas pontas, fazendo com que os alimentos que sobram para um cheguem à mesa do outro? 

É isso que faz o programa Mesa Brasil, criado pelo SESC SP há 27 anos e presente em todo o país.

Caminhões coletam diariamente doações de alimentos com empresas, supermercados, cerealistas, produtores, entre outros fornecedores e entregam para instituições sociais e hospitais. Só em São Paulo são 30 caminhões circulando todos os dias para atender 63 cidades paulistas. 

Realizando a coleta e a entrega dos produtos, o Sesc São Paulo facilita o caminho para quem quer doar e garante que toneladas de alimentos que seriam desperdiçados cheguem à mesa de quem precisa: uma rede de combate à fome! 

Em tempos de pandemia, o programa se tornou ainda mais fundamental. Só em 2020 foram distribuídos mais de 7.200.000 kg de alimentos, além de 470.000 kg de produtos de higiene e limpeza para 1.150 instituições sociais e 120.000 famílias. Em 2021, já são 2.425.809 kg de alimentos arrecadados. 

Em Ribeirão Preto, o programa existe desde 2014. Dois caminhões passam pelas empresas doadoras pela manhã, para coletar os alimentos doados, e, no período da tarde, levam o que foi coletado para as instituições sociais. Em 2020, o programa coletou 220 toneladas de alimentos e materiais de limpeza e higiene. Atualmente, está com 87 instituições sociais cadastradas e mais de 3000 famílias atendidas.

O Mesa Brasil do SESC Ribeirão atende, além de Ribeirão, as cidades de Serrana, Sertãozinho, Santa Rosa do Viterbo, Guariba, Jaboticabal, Franca e Barretos. Até julho de 2021 já coletou 214 toneladas de alimentos. E os números não param de crescer – ainda bem!

O projeto “Gente que Alimenta” conta as histórias de quem faz esse programa do bem acontecer: doadores e instituições que precisam de apoio para continuarem suas atividades. 

Quer saber mais sobre o Mesa Brasil? Quer se tornar um doador? Acesse o SITE AQUI e se encante ainda mais com esse bonito programa! 

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