Rodini superou cãibras e doze horas de nado para atravessar o Canal da Mancha

30 outubro 2019 | Histórias do Proac 2019/2020

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Foi um desafio pessoal. José Rodini viu uma reportagem com a história de um idoso que acabara de atravessar a Baía de Guanabara e apostou consigo mesmo:

– Eu vou fazer a travessia mais difícil do mundo! Estava com 27 anos e me sentindo velho. Então, resolvi: vou cruzar o Canal da Mancha!

Até então, só conhecia a natação em piscina, como bom esporte para a saúde. Procurou um professor, contou seus planos e começou a ir nas competições de águas abertas.

No começo, ia apenas para acompanhar os competidores. Mas logo começou a competir também.

A decisão foi em 1988, mas só em 1993, depois de uma porção de vitórias em competições, ele anunciou publicamente sua meta. E começou a estampar os jornais como o ribeirão-pretano que pretendia um grande feito.

Também em 1993 ele contratou seu primeiro treinador especializado na travessia, por tê-la cruzado. Não deu certo, porém. Durante um treino longo, em águas geladas, Rodini não se sentiu bem. Mas não desistiu.

Viajando para a Inglaterra naquele mesmo ano, conheceu outro treinador, o argentino Cláudio Plitt, reconhecido por treinar nadadores para a travessia, e começaram o trabalho de um ano.

A contratação do barco que acompanha a travessia já estava feita em 1993. Rodini chegava a treinar quase sete horas em um dia. Descansava apenas uma vez por semana. Nos outros, era pelo menos duas horas de treino.

– O treinamento é o maior desafio. Foram cinco anos. Tem que ter determinação.

Joalheria Rodini Ribeirão Preto

Em 1994, viajou para a Inglaterra à espera de um dia propício para cumprir a grande meta. Era preciso esperar o tempo favorável, que chegou após uma diarreia e muita ansiedade em 30 de agosto.

Às 6h15 ele já estava no mar. Água e pedaços de fruta eram oferecidos pelo barco de apoio, onde estava o treinador.

Na quinta hora de travessia, teve uma cãibra.

– Eu fui pensando: relaxa, não dá vexame. Não está nem na metade ainda!

Na sexta hora, teve vômito. Na sétima, tentou o nado de costas e travou a coluna.

– Em nenhum momento pensei em desistir. Nem considerava isso.

Com nove horas de natação, já via a praia. Mas quanto mais nadava, mais parecia distante.

– Eu peguei uma corrente que me levava para o lado e para trás.

O treinador incentivou: “Vamos! Você que está nadando devagar!”

– Ele não podia me desanimar faltando tão pouco. Então, falou isso.

Rodini cumpriu a travessia de 40 quilômetros após 12 horas e 14 minutos de nado.

– Eu tracei um itinerário na minha cabeça. Fiz o trajeto como se estivesse indo de Ribeirão para Batatais: as ruas, avenidas, viadutos. E levava a mente para esses lugares. Também pensava nas pessoas para quem queria dedicar: meu pai, minha avó.

Quando chegou próximo à costa, as cãibras não lhe deixavam levantar da água. Para a prova ser considerada completa é preciso que o atleta chegue sozinho até a areia. Ele, então, se arrastou. Um vídeo gravado pelo treinador mostra o desafio.

– As pessoas que estavam passando paravam, aplaudiam.

Voltou para o barco carregado, mas vitorioso. Estampou os jornais, agora com o feito concluído: sexto brasileiro a cruzar o Canal da Mancha.

Joalheria Rodini Ribeirão Preto

Aos 32 anos, José Rodini já havia realizado seu grande sonho. Precisou, então, ir encontrando outros para sonhar.

Um ano depois de realizar a travessia sozinho, decidiu fazê-la em equipe. Para conseguir os R$ 90 mil necessários, passou um livro de ouro entre empresários e amigos e conquistou o título: levou a primeira equipe da América Latina para o Canal da Mancha.

– Foi muito mais difícil. Perto da competição, três nadadores desistiram.

Conseguiram, com todo esforço.

– Tem que ir resolvendo todos os acontecimentos. E isso vai te treinando para os obstáculos da vida, que são muitos. Se você tem um objetivo, vai tentando opções. Se não dá por um caminho, vai por outro.

Depois dessa segunda travessia, até tentou uma terceira, mas não conseguiu os recursos necessários. Mudou a rota. Ou a corrente.

– Aí eu não quis mais para mim. Quis sonhar para a comunidade. Dividir.

Rodini cresceu em Guará e se mudou com a família para Ribeirão Preto na adolescência. Cursou Engenharia Civil e começou a vender sapatos para arcar com os custos.

Era preciso, porém, ter um grande estoque para atender as diferentes demandas: nessa cor e nesse tamanho. Não deu certo.

Surgiu, então, o convite para que entrasse no ramo de joias. O pai emprestou dinheiro para que ele comprasse o primeiro mostruário.

Quando se formou, em 1985, já somava três anos de vendas no ouro e decidiu seguir. Em 1986, montou sua primeira oficina, com o irmão de sócio. Passou a desenhar e produzir as próprias joias. Dois anos depois, comprou uma primeira loja no Centro de Ribeirão Preto e em 2004 a transferiu para o Ribeirão Shopping, onde está até hoje.

Joalheria Rodini Ribeirão Preto

Junto ao trabalho como empresário, também passou a integrar o Rotary, há 31 anos. E a pensar projetos. Levou natação para espaços públicos de Ribeirão Preto, com uma iniciativa que durou dois anos e envolveu quase duas mil crianças. Acabou por falta de apoio e recursos, mas continua como um sonho seu.

No lugar, conta que passou a militar na área de educação.

– Meus pais foram professores e diretores de escola. Eu vejo que a única saída para o Brasil é a educação.

Integra o comitê de educação do Instituto Ribeirão 2030 e há alguns anos busca implementar um projeto nas escolas públicas.

– Quero dar minha contribuição para a sociedade.

A natação, entre os novos caminhos, nunca deixou de estar. Aos 57 anos, continua nadando duas vezes por semana. Quando precisa recuperar as energias, corre para a água.

– Se eu arrumo um tempo para ir à praia, nado e me revigoro!

Sente que ainda tem muito a realizar. Sonha com projetos na educação e com aquele de levar natação para a criançada.

– Eu não sossego! Nossa! O que tem de coisas para a gente fazer no Brasil.

Lá em 1990, se preparando para a travessia, estima que investiu o que hoje seria R$ 400 mil. Tudo o que sobrava, ia para a meta.

– Os bens materiais, podem ser perdidos, roubados. O Canal da Mancha ninguém rouba. Não fiz pensando em investimento. Mas em realizar um sonho.

Não se arrependeu. E continua.

– Tendo força a gente consegue superar muita coisa!

 

Esta história foi indicada pelo Grupo Colorado, patrocinador do História do Dia por meio do Proac. 

 

*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/

 

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