Enquanto a mãe conta sua trajetória, Pedro Henrique escuta sossegado no bercinho. Vez em quando resmunga um pouco, querendo atenção. Ela conversa, brinca, mostra seu bebê na chamada de vídeo (a escolha para a entrevista neste momento). 

– É muito bom! Você vai ver! 

Karina Nunes, 40 anos, viveu três perdas antes de ter Pedro nos braços. Foram três abortos em dois anos, e muita tristeza. Bem por isso, já no comecinho da conversa, deixa a emoção tomar conta. A história do pequeno é contada com choro – de alegria, é bom frisar. 

– Fiz testes genéticos para saber o que eu tinha, mas foram abortos espontâneos. Não aparecia nada.

Pedro nasceu em meio à pandemia, após centenas de injeções aplicadas por Karina diariamente para prevenir a trombofilia. Para ser mãe, ela precisou somar conquistas – e esquecer o medo. 

Hoje, no Dia das Mães, comemora também o primeiro mês de vida do filho. 

– A cada dia foi um milagre. Vivi o milagre da gestação diariamente e dentro de uma pandemia. 

A vontade de ser mãe veio bem cedo. Parece, então, que sempre esteve ali. 

– Era o sonho da minha vida!

Se casou aos 38 anos e logo começaram as tentativas. Ela tinha medo de demorar e não conseguir engravidar. A idade, por questões biológicas, pode diminuir as possibilidades. 

Quando a pandemia chegou, no começo do ano passado, pensaram em mudar os planos. Estava com 39 anos e as preocupações eram muitas: será que é melhor adiar o sonho? Mas e o tempo, que não para de passar? 

Muito religiosa, foi buscar apoio na sua fé. 

– Conversei com a pastora e ela me incentivou muito: vai esperar o quê? Vamos! 

Karina pegou Covid em julho de 2020. A tensão foi grande. Os sintomas foram leves. Semanas depois, descobriu que estava grávida. 

Trabalhando em um supermercado como supervisora de vendas, o contato com o público – e a exposição – era grande. Então, a empresa optou pelo afastamento. 

– Dava insegurança. Estar grávida em meio à pandemia… Mas, pela primeira vez, não tive medo da perda. Me resguardei em casa, fiz tudo o que podia. Eu sabia que Deus estava cuidando de tudo. 

A médica orientou a usar injeções anticoagulantes diárias para prevenir a trombofilia, devido ao histórico de perdas anteriores. E assim foi: nove meses aplicando as injeções todos os dias e esperando Pedro Henrique. Nas fotos da gravidez, as doses de amor aparecem aos montes. 

– Eu mesma aplicava. Vivemos o milagre diário da gravidez! 

No finalzinho da gestação, teve sintomas de gripe. A insegurança voltou com força. Mas o exame deu negativo. Estava tudo bem com a mãe e o bebê. 

Pedro nasceu no dia 9 de abril de 2021. Hoje, Dia das Mães, completa um mês de vida. 

– Depois de três perdas, eu só queria ouvir o chorinho dele. Quando ouvi ele chorando foi muito lindo. 

Karina conta que contagiou a maternidade com sua emoção. Encantada com o milagre que é dar vida a um serzinho, dizia aos quatro cantos: “Gente, ele é lindo!”. 

No hospital, mais uma pequena batalha. 

Ele teve problemas de hipoglicemia. Ela relata que ficaram cinco dias internados até que tudo estivesse bem, estável. 

– Ele fez exames, ultrassom. Eu chorava e clamava a Deus. 

Depois de quatro dias, a glicemia começou a normalizar, acertaram os horários das mamadas e o pequeno pôde ir para casa. 

Pedro foi gestado em meio à pandemia. E nasceu nesse mesmo cenário. Em casa, então, os cuidados são muitos. Visitas restritas, muito cuidado, muita atenção. Mas também muito amor, em altas doses.

– A maternidade tem sido olhar para ele, sentir ele respirar, olhar o rostinho, a orelhinha, dar o mama. Eu reparo e curto cada detalhe. 

Busca palavras para definir o ser mãe. Mas tem dificuldade em encontrar no vocabulário algo tão bonito quanto o que sente. 

– Ser mãe é algo sobrenatural… Não consigo definir em palavras o que senti quando pude ver o meu filho… É se dedicar, se doar por completo… 

Já imagina todo um futuro para seu menino. 

– Quero ser uma incentivadora dos estudos, dos valores, dos princípios. Quero que ele seja um homem íntegro, de coração puro. 

Vai, então, construindo esse caminho com tijolinhos de muito amor. Hoje, celebrando o primeiro Dia das Mães ao lado do filho, que completa seu primeiro “mesversário”, há um sentimento maior: 

– Eu só agradeço por ter meu filho comigo.

Fotos de Kátia Pereira para o arquivo pessoal da família